Dave
Hunt
"Ide
por todo o mundo e pregai o
evangelho a toda criatura"
(Mc 16.15).
O
"...evangelho... é o poder de Deus para a salvação
de todo aquele que crê..." (Rm 1.16).
A santidade
e a justiça de Deus exigem que os pecadores sejam eternamente separados
dEle. Ser cortado completa e eternamente daquele Amor pelo qual se foi criado
equivalerá a arder com uma sede que se tornará cada vez mais insuportável.
Mesmo assim, Deus, graciosa e gratuitamente oferece salvação dessa
que é a mais terrível condenação. "O evangelho
da graça de Deus" declara que Deus se tornou homem através
de um nascimento virginal; que esse homem-Deus imaculado morreu pelos nossos
pecados, satisfazendo Sua própria justiça através do sofrimento
do castigo eterno que nós merecemos; que Ele ressuscitou ao terceiro
dia; e que todos aqueles que crêem nEle são perdoados e recebem
a vida eterna como um dom gratuito. A salvação é tão
simples – e maravilhosa –; ela deve ser pregada com essa simplicidade.
O
Evangelho puro que convence os ouvintes
Não
são as credenciais acadêmicas, a oratória brilhante ou a
persuasão do pregador, porém o Evangelho puro que convence os
ouvintes. Não devemos atentar para sabedoria humana e zelo, a fim de
embelezar, melhorar, ou de qualquer forma fazer o Evangelho mais atrativo para
os perdidos. O Evangelho, apresentado em sua imutável pureza, é
a mensagem que o Espírito Santo honra convencendo e dando convicção
àqueles que O ouvem (Jo 16.8-11). Essa verdade deve voltar a concentrar
a atenção dos evangélicos!
Ao contrário
da crença popular, perícia na pregação (a "homilética"
ensinada no seminário) não tem capacidade de ajudar, antes atrapalha
a comunicação do Evangelho. O domínio da oratória
ou das técnicas de vendas mais recentes pode ser útil numa profissão
secular, mas não "na loucura da pregação". A
não ser que tais metodologias e capacidades sejam colocadas de lado para
proclamar a verdade de Deus, elas obscurecem o Evangelho.
Mesmo que o
acima exposto possa parecer uma perspectiva extremista e anti-intelectual, tal
foi o ensinamento e a prática do apóstolo Paulo. Rabino bem instruído,
Paulo era, sem dúvida, um eloqüente orador que podia influenciar
qualquer platéia. Todavia, na pregação do Evangelho, ele
deliberadamente deixava de lado a "ostentação de linguagem"
(1 Co 2.1) e cuidadosamente evitava as "palavras ensinadas pela
sabedoria humana" (v. 13). Sabendo que suas próprias idéias,
embelezamentos e habilidades persuasivas eram empecilhos ao invés de
auxílios, o grande apóstolo ficou diante de sua audiência
"em fraqueza, temor e grande tremor" (v. 3). Devemos proceder
da mesma forma.
Paulo declarou
que a sabedoria de palavra anula a cruz de Cristo (comp. 1 Co 1.17). Portanto,
ele determinou que sua pregação não consistiria em "linguagem
persuasiva de sabedoria [humana], mas em demonstração do
Espírito e de poder" para que a fé de seus convertidos
"não se apoiasse em sabedoria humana; e, sim, no poder de Deus"
(1 Co 2.4-5). Todavia, muitos cristãos bem-intencionados fazem exatamente
o que Paulo evitava, convencidos de que o Evangelho e o Espírito Santo
necessitam da ajuda do conhecimento, da persuasão psicológica
e de uma embalagem promocional moderna. Conseqüentemente, a fé de
muitos crentes hoje está firmada na sabedoria humana em vez de no poder
de Deus – podendo assim, da mesma forma, ser minada por argumentos humanos.
Comprometimento
e negação do Evangelho
O Evangelho
está sendo comprometido e até mesmo negado por muitos cristãos
confessos. Os termos "espiritual" ou "espiritualidade" legitimam
muito engano. "Espiritualidade" agora é evidenciada pelo ecumenismo
e realçada pelas técnicas da Nova Era. A revista evangélica
americana Christianity Today (Cristianismo Hoje) de 11/8/93 referiu-se
favoravelmente a respeito de um movimento rumo à maturidade espiritual
aparentemente muito espalhado. Infelizmente, na sua promoção de
"espiritualidade moderna", a Christianity Today apela para
Richard Foster e suas técnicas de "oração contemplativa",
que envolvem a passividade e a visualização ensinadas por ocultistas
como Inácio de Loyola (fundador dos jesuítas) e Agnes Sanford
(veja os livros "A Sedução do Cristianismo" e "Escapando
da Sedução"). Muitos artigos [da revista] sustentam que o
catolicismo romano faz parte de um "cristianismo sadio". Introduzindo
um artigo principal, o editor executivo da Christianity Today exalta
o místico católico romano Thomas Merton por ter aberto um caminho
para um relacionamento mais profundo com Deus, embora Merton, um seguidor da
Nova Era, rejeitasse o Evangelho, sem cuja aceitação não
se pode conhecer a Deus.
A
motivação da pregação do Evangelho: o amor
Não
são metodologias ou técnicas, mas verdade e amor que iniciam e
amadurecem a vida espiritual no crente. Tampouco o genuíno amor por Deus
e pelos outros pode brotar de qualquer outra coisa a não ser da aceitação
e do reconhecimento do Evangelho (1 Jo 4.19). Aquela "velha história"
revela o amor de Deus. Aqueles que a pregam em verdade devem ser motivados e
fortalecidos por esse mesmo amor.
Bem, talvez
você diga: "Eu não sou pastor ou pregador, e, assim sendo,
recomendações tratando da pregação do Evangelho
não se aplicam ao meu caso." "A loucura da pregação"
inclui compartilhar de Cristo por sobre a cerca com um vizinho, ou com um amigo
pelo telefone. O mandamento de Cristo para "pregar o evangelho"
e "fazer discípulos" – a chamada "Grande Comissão"
de Marcos 16.15 e Mateus 28.18-20 – se aplica igualmente a qualquer cristão
do passado, do presente ou do futuro. Esse fato está claro nas palavras
de Cristo, "ensinando-os (aos convertidos) a guardar todas as
cousas que vos tenho ordenado" (Mt 28.20). Os primeiros discípulos
de Cristo deveriam ensinar seus convertidos a obedecer cada mandamento que Ele
tinha dado a eles – incluindo pregar o Evangelho e ensinar seus convertidos
a obedecer todos os mandamentos de Cristo igualmente. E assim até chegar
aos nossos dias. Nós também devemos obedecer a tudo quanto Ele
ordenou aos primeiros doze.
Cada
convertido a Cristo é ordenado e fortalecido pelo Espírito Santo
Essas afirmações
de Cristo corrigem uma quantidade de enganos populares, tais como a idéia
de que Seus ensinamentos nos quatro Evangelhos são apenas para Israel,
ou apenas para serem obedecidos no Milênio, e, assim sendo, não
seriam para a Igreja hoje. Também fica eliminada a idéia de que
"o evangelho do reino" que Cristo e Seus discípulos pregaram
antes da cruz é, de alguma maneira, diferente daquele que é pregado
para nós hoje. E uma das principais fontes do engano católico
romano – que o papa é o sucessor de Pedro e que somente os integrantes
da hierarquia de padres, bispos, cardeais, etc. são os sucessores dos
outros apóstolos – também é desmentida. Cada convertido
a Cristo é igualmente ordenado e fortalecido pelo Espírito Santo
para obedecer tudo o que Cristo ordenou aos doze primeiros e conseqüentemente
a agir usando toda a capacidade pela qual Ele os treinou e os comissionou.
Novos
métodos e inovações
O Evangelho
é a única solução para o problema do efeito destrutivo
do pecado na vida diária. Ainda assim, muitos evangélicos perderam
sua fé no poder do Evangelho e imaginam que algo mais é necessário;
sejam programas atrativos, aconselhamento psicológico ou novas revelações
de profetas modernos. Paulo se referiu à "loucura da pregação"
porque o Evangelho simples que ele pregava era desprezado. O mesmo acontece
em nossos dias.
Em contraste
com a simplicidade e pureza do Evangelho apresentado nas Escrituras, novos métodos
e inovações estão sendo empregados hoje. O Evangelho não
é mais considerado como suficiente por si próprio. Atualmente
é ensinado que crer no Evangelho poderá deixar hostes de demônios
escondidos interiormente, remanescentes de pecados passados ou até mesmo
de gerações anteriores. A Bíblia chama aquele que crê
no Evangelho de "nova criatura" em Cristo; para quem "as
cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2 Co 5.17;
Gl 6.15). Negando essa clara verdade, "ministérios de libertação"
têm surgido em grande número para expulsar os demônios dos
cristãos.
"Batalha
espiritual"
O Evangelho
simples foi tudo o que os apóstolos precisaram e usaram. Ainda assim,
muito tem sido acrescentado hoje em dia. Considere, por exemplo, a nova crença
de que muitos cristãos (especialmente missionários regressantes)
que passam por uma crise de "estresse" ou "esgotamento"
desenvolvem múltiplas personalidades – outra heresia da psicologia. De
acordo com o que se alega, a "libertação" se dá
quando cada uma dessas personalidades é levada a crer em Cristo para
a salvação! Estreitamente relacionado a isso está o "mapeamento
espiritual", outra nova "febre" que Christianity Today
chama de "uma técnica complicada e controvertida desenvolvida pelo
missiólogo C. Peter Wagner, que alega poder identificar as fortalezas
satânicas numa cidade..."
Há algum
tempo lemos sobre a "Conferência Norte-Americana de Mapeamento Espiritual"
que oferecia "uma metodologia para descobrir obstáculos específicos
para ganhar almas nas localidades norte-americanas":
A
conferência foi promovida pelo "Sentinel Group" ("Grupo
Sentinela") de Lynnwood (Estado de Washington, EUA), e atraiu 130 pastores,
líderes leigos, e missionários convidados de 30 estados e províncias...
A "crescente influência das novas e poderosas forças espirituais
no continente" necessitam de tal pesquisa, disse o presidente do "Grupo
Sentinela", George Otis, Jr... Um Guia de Mapeamento Espiritual
distribuído na conferência esboçava maneiras pelas quais
os participantes poderiam pesquisar, através de muita oração,
os grilhões sociais, a escravidão, e as barreiras espirituais
de suas respectivas comunidades. (NIRR)
Algumas questões
se levantam imediatamente. Novas forças espirituais? Existe uma
nova espécie de demônios mais inteligentes ou poderosos do que
aqueles enfrentados pela igreja primitiva? Se o Evangelho necessita de tal ajuda,
por que a Bíblia não menciona nada disso? Por que esses métodos
não foram praticados nem ensinados por Cristo e pelos apóstolos?
Como Paulo poderia ter "transtornado o mundo" (At 17.6) através
da evangelização do Império Romano pagão, sem empregar
essas técnicas? Paulo teria alcançado maior sucesso se tivesse
usado "mapeamento espiritual" e empregado a nova "metodologia
para descobrir obstáculos específicos para ganhar almas"?
Os
casos de Corinto e Éfeso
Corinto, a
cidade grega mais esplendorosa e próspera, o centro do comércio
entre o Oriente e o Ocidente, claramente era tão escravizada por Satanás
quanto qualquer cidade hoje em dia. O culto de Afrodite, a deusa do amor e da
beleza, cujo exemplo mítico encorajou promiscuidade sexual e perversão,
há muito havia florescido ali. Quando Paulo desembarcou em Corinto (por
volta de 50 d.C.), o grandioso templo de colunas de Apolo tinha dominado o centro
comercial da cidade (onde a maior parte da carne vendida para consumo era primeiramente
oferecida aos ídolos) por 600 anos. Ainda assim, não encontramos
nenhum indício de que Paulo tenha se empenhado no "mapeamento espiritual"
das forças demoníacas em Corinto. Ele confiava que o Evangelho,
única e exclusivamente, poderia resgatar os pagãos das garras
de Satanás: "Porque decidi nada saber entre vós, senão
a Jesus Cristo, e este crucificado" (1 Co 2.2).
Ou considere
a cidade de Éfeso, cuja riqueza se devia, em grande parte, à venda
de imagens da deusa Diana. O templo dela era o centro da vida em Éfeso
e, como em todas as situações de idolatria, envolvia prostituição,
orgias sexuais e toda sorte de depravações. Se alguma vez um povo
foi aprisionado por Satanás e seus subordinados, estes foram os efésios.
Mesmo sem "mapeamento espiritual" ou outras técnicas de "libertação"
promovidas atualmente, multidões vieram a Cristo e a igreja formada ali
esteve entre as mais fortes e verdadeiras. Sim, Paulo os fez lembrar que a batalha
da qual participavam não era contra carne e sangue, mas contra os principados
e potestades, contra as forças espirituais do mal espalhadas nas regiões
celestiais (Efésios 6.10-12). Contudo, ele não deu qualquer indício
de que essas forças demoníacas devessem ser mapeadas ou rastreadas,
ou que as técnicas psicológicas para tratamento com personalidades
múltiplas devessem ser empregadas. Os crentes deveriam permanecer firmes
na fé, vestidos com a armadura de Deus, sua única arma, "a
espada do Espírito, que é a Palavra de Deus" (v. 17).
A
experiência espiritual mais elevada
A "velha
história de Jesus e seu amor", como diz o clássico hino,
"é sempre nova" e mais amada por "aqueles que a conhecem
melhor." Nós nunca iremos avançar, nem mesmo na eternidade,
a uma experiência espiritual ou um entendimento mais elevado do que aqueles
produzidos pela fé no Evangelho simples que nos salva. O fato de que
Deus nos amou tanto, a ponto de se tornar homem, e, mesmo odiado, rejeitado,
desprezado e crucificado, ter morrido em nosso lugar para reconciliar os pecadores
consigo mesmo sempre será, para as almas resgatadas, a fonte de amor,
alegria e adoração no céu. Por toda a eternidade nunca
teremos uma canção mais nova ou melhor do que a "velha história"
que sempre é nova.
"Digno
és... porque foste morto e com o teu sangue [nos] compraste para
Deus", é o mais elevado louvor possível para os redimidos
na presença de Deus (Ap 5.9). Nisso consiste o segredo da alegria daqueles
que habitam o céu. Por que, então, alguns cristãos andam
deprimidos, inseguros, egoístas, terrenos no modo de pensar e faltos
de amor, alegria, paz e vitória em Cristo? A "velha história
de Jesus e Seu amor" se tornou, de fato, velha para eles, negligenciada
e esquecida. Eles não necessitam de aconselhamento psicológico,
mas de um retorno ao seu "primeiro amor" (Ap 2.4). Nós
precisamos meditar incessantemente sobre essa verdade supremamente maravilhosa,
o simples Evangelho, que sozinho inflama o amor genuíno e a gratidão
sincera que devemos, continuamente, expressar a nosso Senhor.
É louvável
se alguém, preocupado em conhecer melhor a Deus, estuda grego. Contudo,
se a habilidade nessa língua fosse essencial para conhecer a Palavra
de Deus e viver uma vida cristã mais frutífera, então seria
de se esperar que os gregos fossem o povo mais parecido com Cristo e o mais
frutífero dentre todos, e Deus exigiria de nós todos a capacidade
de falar grego. Obviamente os gregos nos dias de Cristo e de Paulo conheciam
sua língua nativa muito melhor do que os estudantes modernos desse idioma,
mas, mesmo assim, eles enfrentaram tanta dificuldade para viverem uma vida cristã
quanto qualquer outro. O relacionamento de amor que Deus deseja carece apenas
de um coração sincero e confiante no qual possa crescer.
"Oh!,
o mais maravilhoso de tudo...", disse um compositor, "é que
Deus me ama!" Isso é tão simples que até mesmo uma
criança pode crê-lo, mas tão profundo que levaremos toda
a eternidade para começar a sondar as profundezas desse amor! O amor
de Deus é revelado no fato de ter Cristo morrido em nosso lugar! Certamente
aqueles que experimentaram esse amor devem ser impelidos, pelo mesmo amor, a
falarem a outros sobre a salvação disponível através
da graça de Deus. Somente esse reconhecimento do amor e da graça
de Deus, impelido pelo Evangelho, é que transforma pecadores em santos
alegres e vitoriosos – e continua a manter esses santos na alegria e na vitória
agora e para sempre. (Dave Hunt - TBC 12/93 – traduzido por Leandro Nunes Caetano)