quarta-feira, 9 de março de 2011

O Carnaval na Visão de Judeus e Metodistas A reportagem enviou perguntas sobre o período de carnaval para representantes de diferentes credos. Confira a visão de judeus e metodistas sobre a festa.


O Carnaval na Visão
 de Judeus e Metodistas Judaísmo:

1) Na sua religião, o carnaval é um período de recolhimento? Por quê?


Para o Judaísmo, o Carnaval concebido na Idade Média pela Igreja, não tem significado outro que uma manifestação cultural popular, a que os judeus aderem ou não conforme seu gosto pessoal. No entanto os judeus, 400 anos antes da Era Comum, já tinham o costume de se fantasiar e de dançar, por ocasião da Festa de Purim que, este ano, cai no dia 20 de março. A celebração de regozijo marca a salvação do Povo Judeu da primeira tentativa de extermínio, decretada (e posteriormente abolida) pelo Rei Assuero da Pérsia.

2) Que atividades ela oferece aos seus seguidores neste período?

Como se trata de feriado prolongado cujo início, invariavelmente, coincide com o Shabat, data mais sagrada para o judeu observante, muitas instituições oferecem seminários, encontros para estudo, vivência entre seus congregantes. Tanto nas cidades serranas e como nas do nosso litoral, frequentadas pela comunidade judaica, comunidades locais oferecem atividades. Ainda é possível inscrever-se para participar? No caso de atividades que demandam

reservas de hotéis e previsão de alimentação kasher (isto é, que segue os preceitos religiosos de abate e higiene), as inscrições já foram encerradas. Mas a programação das sinagogas está disponível para aqueles que desejarem compartilhar da vida comunitária.

3) Sua religião proíbe que seus adeptos brinquem carnaval? Por quê?

Não. Porque os judeus, desde a segunda destruição do Templo de Jerusalém, no ano 70 da Era comum, aprenderam a viver nos diferentes países de acolhida. Inseridos na sociedade, contribuindo para o seu desenvolvimento, adotaram costumes locais e incorporaram as principais festividades. O Carnaval, principalmente o brasileiro, é uma festa de imensa beleza e alegria contagiante. Participa dele quem quiser e da forma que julgar conveniente.

4) E no caso dos seguidores que têm que trabalhar durante o carnaval (diretamente ou indiretamente com a festa), há algum tipo de orientação com relação à conduta ou sobre cuidados?

Não existe documento específico para a ocasião. O que a comunidade judaica espera de cada um e uma de seus membros é que mantenha o comportamento que norteia a sua vida no seu dia a dia, tanto no cumprimento de compromissos profissionais, como nos momentos de lazer.

Igreja Metodista:

1) Na sua religião, o carnaval é um período de recolhimento? Por quê?

Não. Não existe essa obrigatoriedade de recolhimento, mas considero esse período uma oportunidade para a reflexão. Levo em consideração que para muitas pessoas seus anseios e buscas não serão atendidas, correspondidas e respondidas durante as festividades de Carnaval. Mas, essa é a beleza da vida, enquanto muitos querem pular, dançar e se divertir; outros buscam a reflexão, tempo para orações e descanso.

Poderia chamá-lo de um período adequado para o recolhimento, deixar de lado o ativismo que por vezes nos contamina, essa correria pela busca de um lugar melhor para o desprendimento, deixando espaço para a reflexão, buscando assim encher a vida da presença de Deus que a tudo dá significado e sentido. Esse tempo ajuda a organizar o pensamento, concentrar e aproveitar a oportunidade de parar alguns dias para direcionar a vida, e partir daí dar continuidade a nossa rotina.

2) Que atividades ela oferece aos seus seguidores neste período? Ainda é possível inscrever-se para participar? Como e onde?

Nesse ano a Catedral Metodista do Rio de Janeiro, não estará realizando nenhuma atividade extra, como é chamada por todos nós de “Retiro de Carnaval”.

Entendo que a Igreja, como parte da sociedade, não necessita fechar suas portas durante os festejos de carnaval. Sei que muitos blocos estarão passando, e alguns vão até parar em frente à nossa Igreja. Estaremos realizando todas as celebrações como fazemos durante todo o ano. Respeitaremos os foliões com suas fantasias e tenho certeza que eles nos respeitarão. O mais bonito da sociedade é não perdermos essa dimensão do diálogo e do respeito. Essa é a singularidade e a essência da mensagem de Jesus, vivemos a partir dela.

3) Sua religião proíbe que seus adeptos brinquem carnaval? Por quê?

Não, não existe proibição. A mensagem bíblica da parte do Apóstolo Paulo é que “se o teu coração não te condena tens confiança da parte de Deus”. Isso é o que deve nos mover. “Foi para liberdade que Cristo nos libertou”. Mas, essa liberdade passa pela dimensão comunitária. Uma vez que vivemos em comunidade, o conselho de Jesus foi que não causássemos escândalos na mesma. Então, existe a responsabilidade dos nossos atos referentes à nossa vida particular e com a Sociedade. A mensagem de Jesus vem acima de tudo dar ao homem essa capacidade de poder tomar decisões responsáveis. Sabemos que durante as festividades do carnaval, muitas decisões são irresponsáveis, desde a simples utilização de lugares públicos históricos para suas necessidades fisiológicas até decisões mais sérias que podem refletir durante toda vida.

4) E no caso dos seguidores que têm que trabalhar durante o carnaval (diretamente ou indiretamente com a festa), há algum tipo de orientação com relação à conduta ou sobre cuidados?

Não existe nenhum tipo de orientação motivada somente pela chegada do carnaval. A orientação acontece todos os dias e em todas as celebrações. Orientação para uma vida que aponte para a justiça, para o amor, para decisões responsáveis, para estabelecimento de critérios sérios que acenem para o mundo mais justo, que é o que Jesus pregou. Nosso lugar e a nossa postura diante da sociedade precisam refletir isso. O desprendimento de questões legalistas e moralistas para um comportamento ético e justo. Despir-se das máscaras e das fantasias que escondem nosso egoísmo e injustiça. Conheço muitas pessoas que trabalham no carnaval: bombeiros, policiais, guardas e empresários de diversos setores. Minha convicção é que todos sabem o que devem fazer como diz Tiago: “aquele que sabe o que deve fazer e não faz, nisto já está pecando”. Na mensag em de Jesus o homem tem essa liberdade de escolher e todos são responsáveis pelos seus atos. Para Jesus nossas escolhas e decisões devem ser responsáveis, fruto do nosso compromisso com Deus e com o próximo. Essa deve ser a orientação durante o Carnaval: responsabilidade e compromisso com Deus. Não o que é certo ou errado, pois é isso que as pessoas gostam. No jargão popular: “o que pode e o que não pode”! Muitos querem a resposta do que é certo ou errado, como uma espécie de transferência de suas responsabilidades. Não posso ser como um mestre-autoritário que põe dentro de um caminho e digo: vai por aqui. Estou aqui como alguém que quer ajudar a essa pessoa encontrar o seu lugar, seu caminho e tomar a suas decisões responsáveis.

*As respostas foram enviadas por Diane Kuperman, coordenadora do diálogo inter-religioso da Federação Israelita do Rio (Fierj) e pelo reverendo Sérgio Ovidio Wermelinger Goulart, pastor da Catedral Metodista do Rio.

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