segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Enquanto isto, no mundo islâmico…

 


E a comoção com a Somália? Foto - Dai Kurokawa/Efe
Dia deste colunista ser cabotino, autocentrado. Ele (malandrão, escreve na terceira pessoa) não deveria mais se impressionar com estas coisas. No entanto… Expressões como Israel e palestinos geram frenesi entre leitores. Duas colunas na semana passada em torno do pedido de reconhecimento palestino como estado pleno nas Nações Unidas (o desfecho poderá ser um desastre ou um fiasco) foram um triunfo para o colunista. Os dois textos renderam mais de 500 comentários, um recorde na curta história de pouco mais de um ano desta coluna. E comentários foram vedados por antissemitismo ou insultos raciais contra palestinos e árabes.
O colunista já escreveu sobre assuntos palpitantes como Donald Trump e Kate Middleton, mas nada gera tanta paixão como a dobradinha Israel-palestinos (a favor e contra, com alguns mais salomônicos). Tem dia em que o colunista cheio de prosa acha que vai emplacar com uma sacada sobre algum assunto e a reação é abaixo das expectativas. Coitado, nem Barack Obama comove tanto como antigamente. Houve um tempo em que os arautos das conspirações que o havaiano-nasceu-no-Quênia se insurgiam contra a tal ingenuidade do colunista ou suposta atitude chapa branca de endossar a certidão de nascimento de Obama. Que nada, estes conspiradores se cansaram do colunista ou do presidente americano.
Um dos textos da semana passada salientou que existe uma obsessão patológica com Israel nas Nações Unidas, chega a ser hilária, até satírica. Numa reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, em 2010, o delegado sírio denunciou que as crianças israelenses aprendem canções sobre beber o sangue dos árabes. Nenhum país é alvo de tantas resolucões ou moções de repúdio como Israel (o colunista está se repetindo). Algumas merecidas. Matemática ajuda a explicar a obsessão. São quase 50 países com maioria islâmica na ONU. É verdade que Israel pode contar com o apoio de todos os estados judeus no organismo. Ao que tudo indica, existe também obsessão patológica de leitores sobre o tema.
O colunista e muitos dos seus leitores ficaram obcecados com a questão palestina nas Nações Unidas na semana passada. Por cortesia de outro colunista, Jeffrey Goldberg (ai, ai, ai, mais um judeu), aqui está uma relação do que acontecia na semana passada no mundo islâmico quando tanta gente estava enfeitiçada pelo espetáculo nas Nações Unidas. São dramas que deveriam merecer também debates exaustivos na assembléia-geral.
Na Síria, continuou a contagem de vítimas da repressão governamental. A rebelião já causou quase três mil mortes, inclusive de 100 crianças. Países no Conselho de Segurança das ONU, como o Brasil, lépidos para apoiar a resolução pró-palestina, travam moções mais duras contra a Síria, com o argumento de que irão desestabilizar a situação. E a resolução palestina?
No Iêmen, as forças de segurança mataram mais de 70 pessoas nos protestos contra a ditadura de Ali Abdullah Saleh. Na Líbia, foram descobertas as valas com os restos mortais de 1.270 prisioneiros massacrados pelas tropas de Muamar Kadafi em 1996. No Afeganistão, o Talibã assassinou o ex-presidente Burhanuddin Rabbani, num atentado suicida.
No Paquistão, 26 peregrinos xiitas foram tirados de um ônibus e massacrados, em mais um lance de violência de muçulmanos contra muçulmanos. Na Indonésia, o país com a maior população muçulmana do mundo, um ataque suicida feriu mais de 20 fiéis em uma igreja. Foi mais um incidente de violência muçulmana contra cristãos, que se agravaram desde a eclosão da primavera árabe, em particular no Egito.
Na Somália, o grupo Al-Shabaab, inspirado pela Al-Qaeda, continuava a impedir que doações chegassem à zona de seca. Por estimativas de organizações humanitárias, até 300 mil crianças podem morrer caso não recebam suprimentos em breve.
E, finalmente, temos a Turquia, país hoje campeão da causa palestina. Para o primeiro-ministro Recep Erdogan, é imperdoável o que Israel faz com Gaza. Para Erdogan, o Hamas é um grupo de libertação nacional (não terrorista) e os palestinos têm direito a um estado. Enquanto isto, terroristas separatistas curdos (são terroristas, sim) mataram três pessoas e feriram mais de 30, num ataque em Ancara. Os militares turcos prosseguiam com seus bombardeios aéreos de campos de separatistas curdos dentro do Iraque. Não consideram que estas ações sejam uma tática desproporcional na luta contra o inimigo do estado.
De volta ao nosso território, de obsessão patológica. Nas duas colunas sobre o tema, o colunista recebeu a visita de muitos leitores que nunca tinham escrito e estavam indignados com os argumentos dele ou com Israel. Nunca compareceram (e não se indignaram neste espaço) quando o tema da coluna eram massacres na Síria, repressão no Irã ou violações de direitos humanos em tantos países por este mundinho afora.
Agora realmente falando na primeira pessoa, eu pessoalmente me canso de escrever sobre Israel e palestinos. As posições são, em geral, manjadas, os talking points repetidos ad nauseam e o resultado emocional deixa qualquer um exaurido, mas infelizmente não dá para fugir do tema. E infelizmente deveremos retornar em breve à barafunda.
Mas, antes disso, feliz ano novo judaico, 5772, longa história, certo? E que um dia, que parece distante, os palestinos sejam felizes no seu estado, em paz, ao lado de um seguro estado de Israel. Shalom/Salaam!
***
Colher-de-chá para o infatigável leitor Carlos Cezar, que nesta coluna empenhada quixotescamente em lamentar a obsessão com Israel e palestinos, disparou três comentários seguidos lamentando as ações de Israel ou dos EUA (dia 28, 10:29, 10:31, 10:40). É verdade que antes da construção deste muro das lamentações, o Carlos mandou um e mail apenas desejando feliz ano novo, shalom e salaam. Bacana. Nada a lamentar aqui, da parte dele ou da minha.

FONTE . VEJA ON LINE

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