Comer depressa, não prestar atenção no que está à mesa, não saborear a refeição, não escolher o que ingerir. Estes são os maiores problemas, na opinião de especialistas do setor, para qualificar o que impera hoje na população brasileira: o descuido com a alimentação.
"As pessoas estão sempre correndo, ninguém mais senta para comer devagar e com prazer, engolem o que é prático e rápido. Virou um ato automático, mecânico", destaca Carolina Mantelli Borges, endocrinologista da Clínica de Especialidades Integrada, em São Paulo.
"Parece que, hoje, é normal comer lanches ao invés de comida", completa Wilmar Accursio, endocrinologista e nutrólogo, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Envelhecimento.
O resultado disso é que, com frequência, as pessoas incorrem em vários erros que acabam comprometendo a estética e a saúde. O hábito de pular refeições, por exemplo, em especial o café da manhã, compensando nas refeições seguintes, é altamente prejudicial.
Outros enganos são ingerir pouca quantidade de verduras e legumes; comer excesso de massas e frituras nas refeições principais ou ainda recorrer a fast food, alimentos cheios de química que vão degenerando o organismo; substituir frutas por calorias vazias como doces, biscoitos recheados, salgadinhos nos lanches e nas sobremesas; abusar de sal e açúcar; exagerar no álcool; trocar água e sucos por refrigerantes.
Fome gera comilança
Outro deslize recorrente, apontado por Carolina Borges, é o jejum prolongado, comum em quem faz dieta. "Permanecer longos períodos sem se alimentar gera ansiedade e, consequentemente, faz com que a pessoa coma mais do que o necessário na refeição seguinte, tendendo a escolher itens mais calóricos e gordurosos." Ela salienta que "está na moda" excluir carboidrato ou proteína do menu. "Não devemos deixar de lado qualquer classe de alimento por muito tempo, pois cada uma tem sua função específica."
Os carboidratos fornecem energia e, se forem retirados do cardápio, o organismo a busca em outras fontes, atacando o músculo e a gordura. Aí, perdemos massa muscular e o corpo fica flácido. As proteínas fortalecem as unhas e os cabelos, e sua falta torna ambos mais moles e quebradiços. A boa gordura (HDL), por sua vez, auxilia no transporte e na absorção, pelo intestino, das vitaminas lipossolúveis A, D, E e K. Portanto, a recomendação é adotar uma alimentação equilibrada, com todos os grupos, em quantidades controladas.
Faltam nutrientes básicos, diz pesquisa
Estudo realizado em 2007 pela Universidade Federal de São Paulo, em parceria com a Faculdade de Saúde da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que 90% da população brasileira com mais de 40 anos consomem cálcio (encontrado no leite, em seus derivados e em verduras de folhas verde-escuras) abaixo da quantidade internacionalmente recomendada (1.200 mg por dia).
No Brasil, a ingestão diária desse nutriente é de cerca de 400 mg por dia – 1/3, portanto, do considerado ideal para a saúde. E tem mais: 99% não comem a quantidade ideal diária de vitaminas D (gema de ovo e fígado) e E (óleos vegetais e soja); 80% não consomem magnésio (cereais e grãos) e vitamina C (frutas cítricas) suficientes; 50% não incluem o que deveriam de vitamina A (vegetais com pigmento amarelo) e 81% sofrem com falta de vitamina K (óleos vegetais e vegetais de folhas verdes).
A carência de tais nutrientes compromete a saúde óssea e cardiovascular, além de reduzir a imunidade e levar a doenças como hipertensão, diabetes e osteoporose. Participaram do estudo 2.420 pessoas com mais de 40 anos, entrevistadas por meio de inquérito alimentar em 150 municípios nas cinco regiões do país.
Atenção aos sinais
Felizmente, na maioria das vezes o corpo dá alguns alertas de que não está sendo nutrido adequadamente. Por exemplo, várias condições que levam à doença cardíaca têm relação com a alimentação: pressão alta, aumento de gorduras no sangue, diabetes e obesidade.
"Pessoas que consomem carboidratos em excesso, principalmente farinha branca, e não priorizam à mesa frutas, verduras e legumes, fontes de fibras, provavelmente irão manifestar sintomas como depressão, enxaqueca, tensão pré-menstrual (TPM), queda de cabelo, olheiras e celulite", adverte Carolina Borges.
André Zamarian Veinert, especialista em nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), médico da equipe HealthMe Gerenciamento de Peso, em São Paulo, cita outros sinais: ganho de peso, mesmo que a pessoa não coma muita quantidade; inchaço nas pernas, principalmente no fim do dia, causado por itens ricos em sódio; queimação no estômago, comum quando se extrapola nos industrializados ou condimentados (pimenta, mostarda, catchup, molho inglês); e alterações no hábito intestinal, seja por prisão de ventre ou evacuações amolecidas. "Neste último caso, são resultado de penúria de fibras ou exagero de gordura no cardápio."
Já os indícios de que está tudo certo com o menu são: unhas fortes e lisas, sem ondulações e manchas; cabelos resistentes e brilhantes; pele corada e com viço; boa digestão, sem formação de gases; sono de qualidade; disposição física e mental. Para saber como continuar assim e não vacilar, Carolina Mantelli Borges sugere seguir, sempre, a pirâmide alimentar.
No topo, gorduras, óleos, molhos para salada, azeite, margarina e doces em geral, itens que fornecem calorias e poucos nutrientes e, por isso, devem ser consumidos com moderação. Abaixo, vem a turma rica em proteínas, cálcio, zinco e ferro, principalmente de origem animal: leite, queijos, iogurtes, carnes, aves, peixes, leguminosas (feijão, ervilha, soja, lentilha e grão de bico) e ovos.
No nível seguinte, encontram-se os alimentos de origem vegetal: verduras, legumes e frutas, importantes fontes de vitaminas, minerais e fibras. Na base, pães, cereais e massas, que dão energia para as atividades diárias. "Basta imaginar a forma de uma pirâmide e ir em frente: os que estão embaixo são mais benéficos, os de cima devem entrar com parcimônia."
De olho nos sintomas
As cinco deficiências nutricionais mais comuns no Brasil são de zinco, magnésio, vitamina D, vitamina E e ômega 3. Preste atenção aos sintomas:
Magnésio: ansiedade, insônia, nervosismo, irritabilidade, depressão, fraquezas e contrações musculares;
Zinco: depressão, apatia, acne, queda de cabelo, unhas quebradiças ou manchas brancas nas mesmas, níveis de colesterol aumentados, impotência, infertilidade masculina, perda de memória, imunidade comprometida e fadiga;
Vitamina D: cansaço, depressão, insônia, osteoporose, ganho de peso, raquitismo, sudorese no couro cabeludo, sensação de queimação na boca, alergias e comprometimento do sistema imunológico;
Vitamina E: distúrbios neurológicos como alteração de reflexos;
Ômega 3: pele e cabelos secos, acne, psoríase, cicatrização deficiente, depressão, infertilidade, pedras na vesícula, tensão pré-menstrual (TPM) e fraqueza imunológica.
Fonte: UOL
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