segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Da Globo à ExpoCristã - FOLHA DE SÃO PAULO NUMA ENTREVISTA BEM REVELADORA MOSTRA A VERDADEIRA PERSONALIDADE DE LEO GANEM DONO DA EXPO CRISTÃ.

Leo Ganem, ex-CEO de duas empresas da Globo (seis anos na Som Livre e três na Geo Eventos), entrou no feirão gospel com um abacaxi para descascar.
Em setembro, ele abriu a Um Entretenimento, agência focada no segmento musical cristão, “que tem parceria exclusiva com a Universal Music”. São 16 funcionários e duas sedes, no Rio (na enseada de Botafogo) e em São Paulo (Avenida Paulista).
A Um multiplicou o ti-ti-ti entre evangélicos ao comprar duas coisas: os direitos da ExpoCristã, maior e mais longeva feira cristã de negócios no Brasil, e também uma boa briga dentro do segmento.
Leo Ganem: da Globo ao mercado gospel (Gabriel Cabral/Projetor)
Leo Ganem: da Globo ao mercado gospel (Gabriel Cabral/Projetor)
A Expo não ia muito bem das pernas, é verdade –a edição deste ano, que seria a 12ª, foi desalojada do pavilhão do Anhembi após calote de quase meio milhão de reais e, enfim, cancelada. Mas o mau momento não é privilégio seu.
2013 foi um ano particularmente ruim para esse filão. A Globo estreou em julho na área, com a FIC (Feira Internacional Cristã). Puro ‘business’, segundo o pastor Silas Malafaia. Saldo chocho: 43 mil pagantes (em 2010, no auge, a Expo atraiu 220 mil).
Para 2014, já foi anunciada a fusão de duas feiras menores: o Salão Internacional Gospel e a Flic, que só abrange o ramo editorial –foi nessa feira literária que me deparei com as obras “Marina – A Vida por uma Causa”, dedicada a Marina Silva, “Justin Bieber – Fama, Fé e Coração” e “Celebração do Sexo”, com um capítulo dedicado a transar “sem tirar a roupa”.
E, agora, a volta da ExpoCristã, pilotada por Leo Ganem e Rogério Barrios, pastor da igreja Renascer em Cristo que dirigiu a primeira (e última, por ora) feira cristã da Globo.
Como o mercado reage a isso?
Conversando com algumas pessoas do meio, observo duas leituras.
Pelo copo meio cheio:
Leo possui o know-how de quem chefiou dois braços da maior rede de comunicação do país. Ajudou a pôr na praça artistas como Luan Santana, Maria Gadú e Michel Teló. Pode injetar profissionalismo num mercado que muitas vezes ainda vive de banners feitos em Power Point. Foi um dos responsáveis pela aproximação da Globo com evangélicos: assinou o contrato com o Diante do Trono, um dos maiores grupos cristãos do país, e criou o selo Promessas (festival + troféu), chamego iniciado em 2011 com essa pulsante cena musical.
Pelo copo meio vazio:
Leo é um “forasteiro” (declara-se católico). Vem da Globo, a gigante que por anos fechou a cara e as portas para evangélicos. Bom… Ajudou a pôr na praça artistas como Luan Santana, Maria Gadú e Michel Teló. Saiu de uma Geo já cambaleante, mais ou menos na época em que grandes vitrines da empresa, como Lollapalloza Brasil e Promessas, estilhaçaram. Isso sem falar na FIC, que não vingará até uma segunda edição. E circula na internet um e-mail corroborado por parentes de Eduardo Berzin, fundador da ExpoCristã, detonando a nova gestão (“roubaram, traíram, foram os causadores do homem estar numa cama e agora falam que vão orar”). Berzin passou mal no sábado da FIC, teve um infarto e desde então está em estado vegetativo.
Leo Ganem é formado em biologia, com pós-doutorado em Harvard. Com certeza está familiarizado com um dos preceitos básicos da teoria evolutiva. Se vai conseguir imprimi-la na nova Expo, só Deus (ou Darwin, a gosto do freguês) dirá.
Com óculos Ray Ban no bolso da camisa social Lacoste, All Star nos pés, o empresário conversou comigo após uma apresentação da ExpoCristã para jornalistas, no Expo Center Norte, ontem. A feira será sediada lá uma semana e meia após a final da Copa do Mundo, em julho de 2014.
Como foi sair da Globo para trabalhar unicamente com o público gospel?
Quando saí da Geo, passei uns dois meses parado pensando no que ia fazer da vida. Fui comunicado de que a Geo seria encerrada. Tinha opção de ficar e ajudar a empresa. Não sou exatamente um fechador de empresas, sou um abridor. Chegamos a um acordo amigável, sou um fã da empresa.
Ficou dois meses pensando e…
Fui juntando as peças. Olhando para o mercado evangélico, vi que tinha espaço para crescer. E aqui você não chega de um dia para o outro e sai cantando de galo. Tem que conhecer as pessoas, ter contato, respeito. Me levou seis anos para aprofundar. Não é como abrir o próximo restaurante, botequim. Vejo que estou no início de uma onda muito grande. Muita gente não percebeu o tamanho dela ainda.
Você é evangélico?
Não, católico.
Vejo uma desconfiança muito forte no segmento com quem não é evangélico.
Existe, sim, algumas desconfianças, que são até normais. O Brasil tem histórico de perseguição enorme com evangélicos. Mas, quando você olha individualmente pra mim, acho que carrego uma bandeira de divulgação tremenda da causa. E talvez, por não ser evangélico, é aquela coisa: sou uma pessoa diferente do que tem por aí.
E na Globo? Uma das grandes críticas à Globo é que, quando tentou entrar no mercado, ela não se conseguiu atingir as igrejas no “varejo”.
Exatamente. Essa lição já foi aprendida [risos]. Por ser um mercado que não tem uma pontinha de crise, eu seria burro de não entrar.
O segmento cresce, mas as feiras vêm acumulando um histórico de fracasso. Como a FIC.
Dizer que a FIC não deu certo é um pouco de exagero. Trazer, na primeira edição, 43 mil pagantes é um bom resultado. A gente está acostumado com um ciclo de três, cinco anos para o evento se consolidar. O Lollapalloza, outro evento nosso [da Geo], estava se consolidando agora, no terceiro ano. É quando ia começar a fazer dinheiro. Foi quando a gente resolveu abrir mão do festival. “A gente”, não. Não é mais “a gente”, porra louca…
E a competição atrapalhou também. O pessoal da Expo fez muita força contra a FIC. Houve uma luta de bastidores. O Eduardo Berzin foi um cara muito simpático comigo, desde a época da Som Livre, quando fizemos projetos juntos. A gente tentou adquirir a Expo dele. Foi impossível.
Tem um e-mail circulando na internet, endossado por parentes do Berzin, que avacalha a nova ExpoCristã.
Me xingando de patife…
É.
Patife pra baixo. Olha, não tenho nada contra o Berzin. A marca não era mais dele [quando a compramos], não tive nada a ver com isso. Não destruí a feira. Cheguei e houve uma oportunidade de negócio. Se eu fosse a família, diria: “Ainda bem que o trabalho do meu pai está indo adiante”.
Como é a concorrência com outras feiras evangélicas?
Acho que a gente é mais abrangente.
Deve ter gente que não vai participar da Expo por ter se ‘apalavrado’ com outra feira. 
A Som Livre já falou que não vem.
Por quê?
Provavelmente por um desacordo pessoal comigo. Acho besteira, não levo nada no pessoal. Convidei eles, apesar de detestar o filho da puta que está lá.
O namoro da Globo com evangélicos esfriou?
Acho que houve uma degringolada. A Som Livre está com problemas com alguns grupos lá dentro. O festival Promessas deste ano teve muitas críticas de qualidade. A Globo cancelou a cerimônia do troféu Promessas, o que achei uma vergonha. O evento custa R$ 200 mil, e isso é troco de novela –um capítulo custa R$ 2,5 milhões para produzir.
Tenho a impressão de que o pêndulo foi muito para um lado e agora está voltando pro meio. A Globo vai  manter personagem evangélica na novela, Fernanda Brum [cantora gospel] no programa da Fátima Bernardes, mas não vai mais ter uma coisa institucional.

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