Ao longo dessas quase cinco décadas de ministério pastoral comecei a observar a tendência da igreja brasileira e os rumos que tomou. Depois que li uma pequena nota de Renato Vargens no blog http://www.pulpitocristao.com achei que poderia contribuir acrescentando 7 características da nova liderança pentecostal. Com o surgimento dos movimentos pentecostais novos, comumente chamados de neopentecostais, algumas características se tornam evidentes na liderança dessa parcela eclesiástica.
Contrariamente às recomendações de Pedro aos líderes da igreja de que o líder deve ser (1) testemunha (mártir) dos sofrimentos de Cristo; (2) de que não deve exercer o pastoreamento por constrangimento, isto é, obrigado a pastorear como se a igreja dependesse dele; (3) de que não deve andar de olho no dinheiro alheio (sórdida ganância) e (4) de que não deve ser dominador do povo, ou do rebanho porque este é de Deus, muitos dos atuais líderes da igreja, especialmente os que ostentam o título de apóstolos agem no sentido oposto. Procure ler o texto de 1 Pedro 5.1-4.
A seguir colhi sete características dessa liderança atual – que não é apenas da liderança neopentecostal, mas também de muitos líderes de igrejas pentecostais históricas.
1. Autoritarismo.
Tais líderes advogam a si o direito de ter a palavra final em questões doutrinárias e de práticas cristãs. Crêem que podem criar novos padrões de ensinamento e neles atrelar a congregação. Era assim também no passado quando pastores de denominações pentecostais decidiam o que o povo devia usar, o que pensar e em como viver. Felizmente algumas denominações amadureceram e abandonaram tais práticas que vêm sendo adotadas com grande ardor pelos novos líderes pentecostais. As pessoas são orientadas a viverem conforme o pensamento do líder e de maneira a agradá-lo. A “doutrina” ou ensinamento apostólico foi por eles aperfeiçoado, porque tirou do povo o direito à vida e de decidir o que fazer e de como viver.
2. Dominadores do rebanho.
Hoje os apóstolos, bispos, presbíteros e pastores – não importa o título que ostentem – decidem se os membros devem celebrar o Natal, os alimentos que devem comer, as festas que podem participar, os DVDs que devem assistir e quais igrejas ou congregações podem visitar.
Tal autoritarismo não é próprio apenas de igrejas neopentecostais, mas também de alguns que se dizem “igreja” sem nome; comunidades cristãs, etc. que mantêm sob regras rígidas o comportamento e o estilo de vida de seus membros, ou discípulos. É possível ver este autoritarismo em várias denominações também. Nunca ouse pensar ou agir de maneira que contrarie seu líder! O líder é o novo paradigma ou modelo de fé a ser seguido, e não os modelos da Bíblia.
3. Ganância financeira e luxúria.
A ostentação de riqueza, o ganho fácil e a confortável vida movida a aviões particular, helicópteros e festas não é própria apenas dos neopentecostais, mas também de outros segmentos da igreja – uma dessas igrejas, até bem tradicional, em que seu líder se locomove para a casa da montanha de helicóptero, enquanto exige que seus membros nem televisão possuam!
Enquanto milhares de obreiros residem em casas modestas no meio de sua comunidade, ao nível do povo que pastoreiam, vivendo na simplicidade, buscando o mínimo de conforto, outros se afastam do meio do rebanho e passam a viver em condomínios inacessíveis ao povo. Sua congregação não tem acesso a casa deles – diferentemente de quando nossa casa estava aberta aos irmãos. Essa é a nova cara da liderança eclesiástica da igreja brasileira.
4. Usam o púlpito como arma de ataque.
Por trás do carisma que lhes é peculiar tais ministros fazem o que querem com o povo; se justificam, demonstram humildade e santidade e aproveitam para atacar sutilmente os que lhe desobedecem as ordens. Frases como “aconteceu tal coisa porque não ouviu o homem de Deus” é comum ouvir de seus lábios. É a justificação de uma aparente santidade. As pessoas precisam vê-los como homens de Deus, líderes espirituais íntegros; no púlpito diante de seu povo riem, choram, profetizam, pulam, gesticulam e pregam mensagens de prosperidade. Assim, conseguem encobrir do rebanho suas verdadeiras intenções, para que este não se interesse em saber como é a vida deles no dia a dia de sua vida particular.
E grande parte dos crentes defende o estilo de vida de seus líderes, e se dobra perante eles como faziam os escravos diante de seus senhores.
5. A sacerdotização do ministério.
Alguns desses novos líderes criaram a nova casta de “levitas” que são os que cuidam do louvor da igreja, mas criaram também a “família sacerdotal” que é composta do líder e de seus familiares, num atentado grotesco ao verdadeiro sacerdócio de Jesus Cristo. Muitos, ainda que reneguem publicamente tal conceito, ostentam-no no ensino aos seus líderes, isto é, estes são orientados a considerá-los sacerdotes de Cristo a serviço do povo. “Nós somos sacerdotes” de Deus para cuidar do rebanho, dizem, quando biblicamente toda a igreja é povo sacerdotal!
6. O reino deles é deste mundo.
A nova liderança dos neopentecostais tem outro foco que não é o reino de Deus futuro, mas o reino deles, agora. Eles têm prazer nas coisas do mundo. Seu império particular e o império de sua denominação ou de suas comunidades constituem o reino deles na terra. Enquanto todos os demais trabalham para a vinda do reino, esses novos líderes creem que estão no reino, e que já são príncipes de Cristo aqui na terra. E para viver como príncipes, formam seu séquito de seguidores que os servem humildemente. Enquanto Jesus apontava para a chegada iminente do reino de Deus, a nova liderança da igreja crê que vive o reino, aqui e agora!
Por isso intrometem-se na política, pensando que por ela governarão na terra e trarão o governo de Cristo aos homens. E, da mesma forma que entram na política e buscam para si títulos políticos, se prostituem com o sistema e podem ser vistos agradecendo a Deus pelas graças recebidas, como no caso dos deputados evangélicos neopentecostais do Distrito Federal. Estes são a pontinha do iceberg, porque existem milhares de pastores vendidos ao mundo e que recebem polpudas somas de dinheiro para transformar sua congregação em curral eleitoral.
7. Acreditam que o juízo dos crentes não é para eles; porque estão acima dos demais.
Por isso, perderam o temor de Deus e nem imaginam o que lhes espera no dia do juízo de Cristo, quando todos haveremos de prestar contas. Quando se perde o temor de Deus leva-se uma vida desenfreada de pecado, escondida sob o manto da espiritualidade e da vida piedosa.
Criticam a Balaão mas vivem como ele, profetizando em nome de Deus, mas de olho nos bens de Balaque – porque são insaciáveis financeiramente. São estes os novos líderes que à semelhança de Coré, Datã e Abirão defendem seu sacerdócio e proclamam que também “têm direitos espirituais”, como nos dias de Moisés. À semelhança de Caim pecam voluntaria e conscientemente, esquecendo que já receberam na testa o sinal de Deus que os manterá sob juízo e condenação.
À luz dessas sete características é possível identificar o tipo de igreja que se frequenta, o tipo de líder que se obedece e decidir se deve seguir o caminho do discipulado cristão ou se fará parte do novo reino dos deuses da terra.
João A. de Souza Filho - Dezembro de 2009