Rios podem ser assoreados também pelo homem
ao retirar as matas ciliares de suas margens ou depositar esgotos. População deve exigir atitudes do poder público
O brasileiro sempre esperou com ansiedade a época de verão, sinônimo de férias, lazer, praia, etc. De uns anos para cá, no entanto, o verão é um período de tormento e não faltam catástrofes provocadas pelos fortes temporais, que fazem rios transbordarem destruindo moradias e matando gente. Já foram registradas tragédias em cidades de Santa Catarina, em Angra dos Reis, em alguns municípios do interior paulista, no Nordeste e, neste ano, a chuva castiga as populações das cidades serranas do Rio de Janeiro e de algumas localidades de Minas Gerais. Sem contar as enchentes na capital paulista e cidades vizinhas.
A população de Jaguariúna também vem enfrentando dias estressantes por causa das águas. Mas aqui elas não caem apenas do céu. Os níveis dos Rios Jaguari, Atibaia e Camanducaia estão bem acima da normalidade em razão do aumento da vazão da Represa Jaguari, cujas comportas foram abertas pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). A população de 12 bairros já sofreu este ano com os alagamentos dos rios que cortam a cidade. O nível normal do Rio Atibaia, por exemplo, é de 3 metros – chegou a 4 metros. O Jaguari atingiu 5,28 metros, só que quando alcança a marca de 3,1 metros já alaga tudo a sua volta. O Camanducaia subiu 2,6 metros em apenas 24 horas.
Assoreamento dos rios
Se é impossível controlar a força da natureza, minimizar as catástrofes é dever de cada cidadão, do poder público, da sociedade em geral. Se cada um fizer a sua parte, não ocorreriam situações tão traumáticas como essas do primeiro mês de 2011.
Um dos principais motivos para as enchentes é o assoreamento dos rios, “processo em que há o arraste de partículas do solo ou poeira devido a enxurrada. Elas são carregadas para as calhas dos rios e ali permanecem, reduzindo a profundidade”, explica Alcides Lopes Leão, professor do Departamento de Ciências Ambientais da Unesp de Botucatu. Esses sedimentos vão formando bancos de areia na calha dos rios, que dificultam a vazão da água. Esse tipo de assoreamento é um fenômeno natural e pode até mudar o curso de um rio, mas isso só ocorre ao longo de centenas de anos.
O que não é natural é o assoreamento causado pelo homem, que manda para o rio entulho, resíduos industriais, esgoto doméstico. Sem contar os sofás, geladeiras, fogões, colchões e tudo o mais que se deposita nas calhas hidrográficas até por não ter onde colocar esse lixo e, às vezes, por desconhecimento dos problemas que esses materiais irão causar ao rio e, em consequência, ao próprio ser humano. Esses últimos itens não causam o assoreamento do rio, mas é um impedimento ao fluxo da correnteza e breca a areia. “Não é que esses objetos assoreiam o rio, mas provocam o assoreamento ao impedir a passagem da areia, formando bancos de sedimentos ou reduzindo a profundidade da calha do rio”, acrescenta o professor.
Outra situação grave é o esgoto doméstico. A parte sólida desse esgoto tem uma série de partículas que provocam a eutrofização, que nada mais é do que o enriquecimento nutritivo das águas. Os nutrientes que o cidadão defeca e vão com o esgoto para o rio são comidos pelos microorganismos, que proliferam para a formação das algas e, por sua vez, tiram o oxigênio dos rios. As algas, ao morrerem, afundam e adubam o fundo dos cursos d’água e reservatórios onde vivem também microorganismos. Estes digerem a matéria orgânica e se sedimentam em depósitos que, por sua vez, ocupam o lugar do líquido, agravando o assoreamento. O lixo também serve de fonte de alimento para as algas. Daí a importância do tratamento dos esgotos e da educação da população para a correta disposição dos resíduos urbanos.
O processo de coleta de lixo adotado por Jaguariúna é o mais moderno que existe, sendo adotado nos países mais avançados do mundo. Infelizmente, a população não foi esclarecida sobre o uso correto dos contêineres colocados nas ruas, o que provocou a insatisfação de moradores. Cabe à prefeitura local instruir e esclarecer a população sobre o melhor uso desses equipamentos.
Cuidando das calhas hidrográficas
Se as comunidades que vivem próximas de rios desejam reduzir o sofrimento a cada temporada de chuva, devem cuidar das calhas hidrográficas. As providências são não usá-las como depósito de lixo e preservar as matas ciliares e outras coberturas vegetais. Com isso evitarão que o vento leve muito sedimento para os rios.
Mas não podem deixar de exigir do poder público que faça também a sua parte, como o tratamento do esgoto em vez de simplesmente descartá-lo no rio, o recolhimento correto do lixo para que ele não vá para os cursos d’águas, além de constante trabalho de desassoreamento, ou seja, a limpeza da calha para evitar a redução da profundidade. “O rio é uma entidade viva e sempre buscará o caminho mais fácil para seguir o seu destino. Uma curva de rio pode diminuir a velocidade da correnteza. Quanto menor essa velocidade, mais assoreado o rio vai ficar”, conclui o professor da Unesp.
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Por Jussara Gontow