O Paquistão
foi, nesta sexta-feira (21), o principal palco de protestos contra o
filme americano anti-islã e a mobilização, extremamente fragmentada, de
milhares de pessoas resultou em 15 mortos e mais de 200 feridos. Balanço
anterior das autoridades falava em 13 mortes.
Em outros países muçulmanos, protestos antiamericanos ou antifranceses,
após a publicação de novas charges de Maomé na França, foram limitados e
sem violência depois da oração.
As autoridades paquistanesas tinham decretado esta sexta dia feriado,
chamado de "Dia do amor do profeta", para permitir que as pessoas
protestassem em defesa do Islã e de Maomé, ridicularizados no filme
americano "A Inocência dos Muçulmanos", a causa principal da onda de
protestos nos últimos dias no mundo muçulmano.
O saldo no início da noite era de 15 mortes - 10 em Karachi, a
metrópole do sul do Paquistão, e cinco em Peshawar, a maior cidade do
noroeste - e cerca de 200 feridos, contando com os registrados na
capital Islamabad, onde os manifestantes foram mantidos longe das
embaixadas ocidentais.
Essas mortes elevam para 17 o número de mortes registradas no total no
Paquistão, desde o início dos protestos contra o filme na semana
passada.
Enquanto o comércio permaneceu fechado, os protestos se multiplicaram e
se intensificaram à tarde, depois da oração, liderados por influentes
partidos islâmicos e alguns grupos extremistas.
Os primeiros incidentes graves aconteceram pela manhã em Peshawar,
região muito conservadora e fronteira com o Afeganistão, onde milhares
de pessoas se reuniram.
As cinco pessoas morreram em confrontos com a polícia depois que os manifestantes saquearam e queimaram dois cinemas.
Em Karachi, onde manifestantes também incendiaram três cinemas, três
bancos e um restaurante da rede americana Kentucky Fried Chicken, um
policial e nove manifestantes morreram, segundo a polícia.
As forças de segurança estavam em alerta principalmente na capital
Islamabad, onde barreiras foram levantadas para evitar o ataque contra o
reduto diplomático, onde estão instalados as embaixadas dos Estados Unidos e da Frnça.
Cerca de 20 mil pessoas marcharam aos gritos "Os americanos são cães" e
"Os amigos dos americanos são traidores" perto do enclave. Alguns
chegaram a jogar pedras na polícia, que respondeu disparando gás
lacrimogêneo. Os manifestantes foram dispersados já durante a noite.
Na quinta-feira, os confrontos no mesmo local resultaram em 50 feridos.
O primeiro-ministro paquistanês, Raja Ashraf, pediu no início do dia ao
povo que protestasse pacificamente, ao mesmo tempo em que condenou
veementemente o filme americano como "um ataque inaceitável contra o
profeta".
As manifestações antiamericanas são comuns no Paquistão, país de 180
milhões de habitantes, onde poderosos grupos islamitas denunciam
regularmente a aliança do governo de Islamabad com os Estados Unidos.
Mas uma tal onda de manifestações simultâneas e pelas mesmas razões não
tem precedentes. Mais de 4.000 pessoas também protestaram em Lahore
(leste), a segunda maior cidade do país, milhares em Multan (centro), e
30.000 em Muzaffarabad (leste), a capital da Caxemira paquistanesa,
informou a polícia.
Se por um lado os manifestantes expressaram sua hostilidade para com os
Estados Unidos e o filme americano, eles não mencionaram as charges de
Maomé publicadas na França pelo semanário satírico "Charlie Hebdo".
Os Estados Unidos reiteraram nesta sexta-feira que eles não tinham nada
a ver com o filme produzido em seu território há um pouco mais de um
ano.
No resto do mundo muçulmano, nenhum movimento violento foi registrado,
mesmo em Cabul, onde apenas pequenas manifestações antiamericanas e
antifrancesa pacíficas foram relatadas.
Centenas de manifestantes se reuniram em frente ao consulado da França
em Surabaya (Java), aos gritos de "Morte à América, morte à França!", no
Iêmen e em Marrocos. Eles eram cerca de mil na capital dos Comores
Moroni, milhares em Basra (Iraque) e no Líbano, e até 10.000 pessoas,
que queimaram uma efígie do presidente Obama e uma bandeira francesa, em
Bangladesh.
Cinquenta pessoas também manifestaram em frente à embaixada da França no Cairo para protestar contra "ataques ao Islã".
Outras dezenas protestaram diante da embaixada da França em Londres
exibindo cartazes do tipo "Os muçulmanos vão conquistar a França" e
"Maldita democracia! Ao inferno com a liberdade!".
Manifestantes protestam contra o filme anti-Islã nesta sexta-feira (21) na cidade paquistanesa de Rawalpindi (Foto: AP)
França
A publicação das charges do profeta Maomé na revista Charlie Hebdo
aumentou a tensão e provocou um amplo debate na França sobre a liberdade
de expressão.
A polícia francesa proibiu uma manifestação convocada para sábado
diante da Grande Mesquita de Paris sob o lema "Não toque no meu
Profeta".
A principal agência representante dos muçulmanos pediu calma nesta
sexta-feira, quando uma nova edição das charges que representam o
profeta Maomé nu chegou às bancas do país, renovando preocupações sobre
mais protestos no dia reservado a orações no mundo islâmico.
As charges no semanário satírico "Charlie Hebdo" aumentaram as tensões.
Embaixadas, escolas e centros culturais franceses foram fechados em 20
países muçulmanos por ordem do governo da França após a primeira
publicação das charges.
Em Paris, a polícia entrou em alerta depois que protestos programados por alguns grupos muçulmanos foram proibidos.
Mohammed Moussaoui, líder do Conselho Muçulmano Francês (CFCM),
descreveu o filme e as charges como "atos de agressão", mas fez um apelo
aos muçulmanos franceses para não tomarem as ruas com protestos
violentos.
"Repito o pedido do CFCM para não protestarem -- qualquer protesto pode
ser sequestrado e contraproducente", disse Moussaoui à rádio francesa
RFI.
O semanário "Charlie Hebdo", cujo escritório em Paris está sob proteção
policial, desafiou os críticos das charges ao lançar uma nova edição da
publicação que causou furor e esgotou em poucos minutos na
quarta-feira. A publicação disse que as charges têm o objetivo de fazer
piada com toda a confusão envolvendo o filme.
Houve poucos protestos nas ruas da França contra as charges, mas
autoridades francesas estão preocupadas que elas possam alimentar a
fúria em outras partes do mundo iniciada com o filme, feito na
Califórnia, que representa o profeta Maomé como um devasso.
G1/GRITOS DE ALERTA