quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Desastres impactam população: O que a Bíblia diz sobre o sofrimento?

“Por que coisas ruins acontecem, se Deus é bom?” – Muitos certamente fizeram esse questionamento diante dos desastres causados pelas chuvas ou diante da morte de mais de 200 mil pessoas em decorrência do terremoto no Haiti.


A obra “Porque coisas ruins acontecem, se Deus é bom?” foi publicada pela CPAD em 2007. Com uma análise teológica e reflexiva do sofrimento humano, o autor indica as restrições religiosas e filosóficas que podem tornar situações dolorosas ainda piores, ajudando o leitor a encontrar o propósito de cada experiência negativa, além de enfatizar que, apesar de coisas ruins acontecerem, Deus é bom, como afirmam as Sagradas Escrituras.



“A minha oração é que esse livro proporcione uma âncora para que, quando você encarar a dor e o sofrimento, sua fé em Deus não seja abalada”, afirma Rhodes sobre sua obra.




Teologia bíblica do sofrimentoA Bíblia nos diz que o sofrimento é uma realidade da existência que começou a existir no Universo por causa do pecado (Gn 3.16-18). A palavra hebraica traduzida por dor nessa passagem é ‘itstsebõn, uma forma do verbo ‘ãtsav, que quer dizer “lesar”, “perturbar” e “afligir”. O termo refere-se tanto à dor física quanto à emocional. Deus criou o mundo perfeito, mas o pecado provocou desordem.



A Bíblia nos ensina também que apesar de o sofrimento ter se tornado possível no mundo por causa do pecado, isso não significa que todo tipo de sofrimento é causado diretamente pelo pecado. O sofrimento pode ter quatro origens básicas: Deus, o Diabo, o simples fato de estarmos em um cosmos corrompido e os nossos próprios atos. Qual deles é o de maior incidência? Segundo C. S. Lewis, em seu livro “O Problema do Sofrimento”, cerca de 80% dos sofrimentos do mundo são causados diretamente por nossos pecados ou descuidos. Já Hugh Silvester, em sua obra “Arguing with God”, chegou em seus cálculos à proporção de dezenove vinte avos, isto é, 95%. Em outras palavras: “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um do seus próprios pecados”, Lm 3.39.



Há sofrimentos que são retribuição pelo pecado (Sl 38.3-4; 107.17 e Jo 5.14) e outros que são produzidos por demônios na vida de pessoas que estão afastadas de Deus (Lc 13.11-17 e Mt 9.23-24). Mas, há também, por exemplo, males que são fruto do próprio descuido, desleixo e negligência do ser humano. Elas não têm um propósito disciplinar de Deus nem são provocadas por demônios. Simplesmente, se a pessoa não cuidar da sua saúde, não viver uma vida regrada na alimentação e nos hábitos com o corpo, está sujeita a doenças. Simplesmente, se a pessoa vive em uma área de risco, é de se esperar que corra... riscos! Claro que, no caso dos deslizamentos no Rio de Janeiro, a responsabilidade não é apenas de quem resolveu construir sua casa exatamente em uma área de risco, mas também das autoridades públicas das últimas décadas que não se preocuparam em impedir que casas fossem construídas em áreas de risco da cidade, inclusive sobre lixões (como no caso da tragédia no Morro do Bumba, em Niterói – RJ).



O Salmo 91 fala que Deus promete nos guardar, mas Jesus também disse, citando Deuteronômio 6.16, que não devemos tentar a Deus (Mt 4.7). O simples fato de estarmos no mundo faz com que estejamos sujeitos a sofrimentos. Portanto, devemos ser precavidos. O fato de sermos crentes em Cristo não nos torna, por exemplo, imunes a todas as consequências de nossos erros. Não podemos quebrar deliberadamente leis naturais, flertarmos constantemente com o perigo, dar ocasião ao mal e acharmos que Deus é obrigado a nos livrar de todos os males decorrentes dessa nossa atitude.



Se Deus criou a Lei da Gravidade e resolvemos, mesmo sabendo dos riscos, contra toda lógica, saltarmos de um prédio de dez andares, ou saltarmos “do pináculo do Templo”, não devemos esperar que anjos apareçam para amortecer a nossa queda.



Por outro lado, C. S. Lewis lembra que, uma vez que o pecado entrou no mundo, Deus não poderia permitir que o ser humano tivesse livre-arbítrio sem a existência de um mundo com sofrimento. Isso só seria possível se Ele não fosse amor. “Podemos deveras desejar que tivéssemos tão pouca importância para Deus que Ele nos deixasse em paz a fim de seguirmos nossos impulsos naturais – que Ele desistisse de tentar treinar-nos em algo tão diferente de nosso ser natural. Mas, uma vez mais, não estamos pedindo mais amor, mas menos. (..) Pedir que o amor de Deus se contente conosco como somos é o mesmo que pedir que Deus cesse de ser Deus”, afirma Lewis.

Na esteira dessa verdade, vale lembrar que há sofrimentos que Deus permite em nossas vidas para que sejamos, de alguma forma, amadurecidos. Eles não são resultados de pecados ou negligência nossa, mas foram permitidos por Deus para um fim proveitoso. Jesus chegou a falar de deficiências para a glória de Deus. Isto é, deficiências que não foram provocadas por atitudes nossas ou de alguém, mas permitidas por Deus para moldar o nosso caráter ou para depois serem debeladas pelo poder divino com o objetivo de produzir acréscimo de fé nas pessoas, principalmente em quem recebe a cura (Jo 9.1-3).
Portanto, a partir dessas verdades, passamos a ter uma visão correta sobre Deus e a vida em meio ao sofrimento, e a lidar diferentemente com as nossas dores.



Em primeiro lugar, devemos nos lembrar que Deus é soberano e sabe o que faz. Se Ele permite que algumas tragédias aconteçam, há uma razão para isso. Confiemos em Seu amor, em Sua justiça e em Sua sabedoria. Além do mais, muitas vezes, no meio da tragédia, (1) agimos como se todos fôssemos merecedores de alguma graça de Deus, quando devemos nos lembrar que, na verdade, nenhum de nós é merecedor; (2) e também nos esquecemos que a vida humana não se encerra aqui, de maneira que aqueles que partem hoje em Cristo estão muito melhores do que nós hoje aqui na Terra.

Em segundo lugar, entendemos que precisamos aprender a dar graças a Deus pela possibilidade de sofrermos eventualmente aqui na Terra. Não estamos dizendo com isso que devemos ser masoquistas, amar o sofrimento e buscá-lo. Não, nada disso. Agir assim é doentio. O sofrimento não deve ser visto como o ideal. Na vida ideal, no Céu, não haverá sofrimento (Ap 21.4). O que estamos dizendo, e a Bíblia afirma, é que devemos sempre evitar o sofrimento; porém, se ele mesmo assim vir, precisamos aprender a vê-lo não como a inevitável concretização da desgraça, mas, sim, como uma oportunidade de crescermos espiritualmente e exaltarmos a Deus.



O missionário metodista E. Stanley Jones descreveu com perfeição o contraste entre a posição do cristão diante do sofrimento e a das demais correntes filosóficas e religiosas: “O estóico suporta, o epicureu procura gozar, o budista e o hindu retiram-se, desiludidos, e o maometano submete-se; mas somente o cristão exulta!”.



Como e por que exultar no sofrimento? Porque sabemos que se esse sofrimento não foi fruto de nossos atos e é algo inevitável, podemos ter certeza que, de alguma forma, ele servirá como uma oportunidade de aprender mais de Deus. Foi no sofrimento que grandes homens de Deus vivenciaram experiências extraordinárias com Ele (Jó 42.1-5 e Sl 119.71). O sofrimento pode ser a ante-sala de uma grande bênção.



Em terceiro lugar, as tribulações que experimentamos nos capacitam para ajudar outras pessoas em sofrimento, como nos ensinam as Sagradas Escrituras em 2 Coríntios 1.3-4: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus”.

Em quarto lugar, como afirma o texto que acabamos de citar no parágrafo acima, devemos nos conscientizar de que Deus não está distante, não importa quão dolorosa seja a experiência que vivenciamos. Ele está presente e quer nos consolar “em toda a nossa tribulação”. Ele é amor e tem consolações tremendas para nos conceder em meio à dor. O Senhor do Universo se importa. Tanto se importa com o ser humano que chegou ao ponto de enviar Seu Filho ao mundo, Jesus, que fez-se carne por nós e chegou ao clímax de sofrer intensamente (ao ponto de suar sangue – Lc 21.44) e morrer pelos nossos pecados – morrer por mim e por você (Jo 3.16). Sim, Deus se importa.




A Igreja diante do sofrimentoComo Igreja, diante do sofrimento, temos o compromisso de fazer de tudo para ajudar aqueles que foram vitimados. Como Corpo de Cristo aqui na Terra, devemos manifestar o amor de Deus em nossas vidas em favor das pessoas, intercedendo por elas e auxiliando no que for possível. Inclusive, muitas igrejas cumpriram fielmente sua responsabilidade ajudando vítimas das tragédias no Haiti e no Rio de Janeiro, e ainda estão ajudando essas vítimas, porque os problemas continuam.



Sobre atitudes que não devemos ter diante do sofrimento alheio, temos o ensino de Jesus em Lucas 13.1-9. Nos versículos 1 a 3, Jesus fala de uma tragédia que fora gerada pelos homens (vv1-3). Alguns galileus haviam sido mortos por soldados de Pilatos. Diante desse acontecimento, alguns em Jerusalém passaram a conjecturar que aqueles galileus mortos pelos soldados romanos haviam tido esse fim porque eram mais pecadores do que os demais. A mesma lógica foi aplicada sobre o caso de 18 judeus que morreram por causa da queda de uma torre em Siloé (v4). Estes, diferentemente daqueles galileus, morreram devido a uma fatalidade.



A Bíblia nos diz que Jesus se opôs a essa atitude de julgarem que essas vítimas padeceram o que padecerem, morrendo, por serem “mais pecadores que os demais”. Ele disse que a morte trágica dessas pessoas, seja pela maldade humana (os galileus mortos pelos romanos), seja pela fatalidade (os 18 mortos na queda da torre), não se devia a serem mais pecadores do que os outros, e acrescentou: “Se não se arrependerem, todos igualmente perecerão” (v5). Isto é: “Cuidem de vocês mesmos. Arrependam-se de seus pecados para que, se coisas desse tipo eventualmente acontecerem com vocês, estejam prontos para partir para a Eternidade salvos, com Deus”.

É uma tentação comum do ser humano se precipitar dizendo que alguém pode estar sofrendo uma adversidade intensa específica ou passar por alguma morte trágica devido a algum pecado específico – assim como os “amigos” de Jó.

Com Jesus aprendemos que não compete a nós julgarmos se foi castigo de Deus ou não. Deus castiga? Castiga. Encontramos vários exemplos no Antigo e no Novo Testamentos que comprovam isso. Porém, não cabe a nós fazermos esse tipo de julgamento. Deixemos o tempo revelar a verdade ou mesmo deixemos isso para a Eternidade. O que devemos fazer hoje, já, é nos compadecer pelos que se encontram em sofrimento. A Bíblia inclusive afirma que “aquele que se alegrar na calamidade não ficará impune” (Pv 17.5). E, aliás, uma das características bíblicas dos servos de Deus é “chorar com os que choram”.
 
Fonte: CPAD

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