O jornal “The Wall Street Journal Americas”, uma versão do diário nova-iorquino voltada para a América Latina, debruçou-se sobre pesquisas eleitorais e constatou que “as eleições brasileiras já têm um vencedor: os evangélicos”.
Segundo a reportagem, publicada em espanhol, dados de levantamento Datafolha mostram que, “no dia da eleição [no primeiro turno], cerca de um milhão de eleitores abandonaram Dilma Rousseff (PT) por razões religiosas”. Ainda, outros três milhões citaram como motivo da mudança do voto acusações de corrupções envolvendo Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil, sucessor da petista no cargo.
O jornal reconhece que “muitos eleitores evangélicos, que normalmente provêm da classe operária, apoiam Dilma por motivos econômicos. Confiam em seu esquerdista Partido dos Trabalhadores por prover serviços em suas regiões há muito tempo descuidadas”.
No entanto, na medida em que as propostas de Dilma e José Serra (PSDB) para as áreas econômica e social se apresentam de forma similar, na opinião da reportagem, os eleitores passaram a se preocupar com possíveis diferenças apresentadas em relação temas de caráter moral, como o aborto e a união de homossexuais.
Outro ponto a fato dos evangélicos é o aumento do número de representantes no Congresso. “Este ano foi um ponto de inflexão: candidatos que se definem como protestantes ganharam 50% mais cadeiras, 71 de quase 600 em disputa”.
Aborto
É verdade que muitos evangélicos se posicionaram contra Dilma depois que os assuntos aborto e união entre homossexuais entrou na agenda eleitoral. Mas há outros três fatos que o “Wall Street Journal Americas” não cita.
Primeiro, o de que expoentes da Igreja Católica também criticaram a candidata petista, direta ou indiretamente. D. Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo diocesano de Guarulhos (SP), disse que o PT é “o partido da morte” porque, segundo ele, “aceita o aborto até o nono mês de gravidez”. A Polícia Federal chegou a confiscar, por ordem do Tribunal Superior eleitoral, 1 milhão de folhetos ligados a essa questão, acolhendo ação do PT.
Dias depois, o Papa Bento XVI “entra na campanha no Brasil”, como disse o “Jornal da Tarde“. O pontífice divulgou carta na qual orienta bispos brasileiros a pregarem contra candidatos que são a favor do aborto.
O segundo fato não citado pelo “Journal” é o de que a discussão sobre aborto atingiu não somente Dilma, mas também Serra. A jornalista Mônica Bergamo publicou na “Folha de S.Paulo” reportagem em que ex-alunas de Mônica Serra, mulher do tucano, afirmam que a tutora contou, em aula, ter feito aborto quando vivia no Chile. A campanha do candidato nega.
Outro fato que o “Journal” ignora é o de que, mesmo entre evangélicos, há divergências eom relação a apoiar ou não Dilma por causa da questão do aborto. O bispo Edir Macedo, por exemplo, distribuiu exemplares do jornal “Folha Universal”, da Igreja Universal do Reino de Deus, com reportagens defendendo Dilma e atacando a Igreja Católica e Serra, acusando a campanha tucana de radicalizar a discussão religiosa para angariar votos.
Fonte: Radar Econômico / Gospel+
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