Estranhei quando vi a “reportagem” da “Folha” logo cedo nesse domingo: os jornalistas Valdo Cruz, Simone Iglesias e Breno Costa trouxeram - no pé de uma matéria na página A9 – a informação de que Dilma retirara o crucifixo do gabinete e a Bíblia da mesa de trabalho do Palácio do Planalto.
Uma pulga atrás da orelha: por que o jornal não deu foto, mostrando o gabinete “antes” (com crucifixo e Bíblia) e “depois” (sob a intervenção da malvada presidenta atéia)?
E, se o fato era tão importante (a ponto de os editores botarem em primeira página), por que os repórteres incluíram a informação no pé e não na abertura do texto? Jabuti não sobe em árvore – é o que dizem. O assunto talvez não interessasse aos jornalistas que assinaram a matéria, mas certamente interessou aos donos do jornal. E certamente interessa à direita que trouxe a religião para o centro do debate político, sob os auspícios de Serra, na última campanha eleitoral. É uma forma de mandar o recado: nós avisamos, ela é a favor do aborto, não é religiosa, esses comunistas são perigosos!
Pois bem. Isso estava evidente. Mas o mais interessante veio no começo da tarde. A ministra-chefe da Secom, Helena Chagas, usou o twitter para desmentir a “Folha”. Entendam bem: a ministra não minimizou, não tentou explicar a decisão (que, aliás, seria legítima) de retirar crucifixo e Bíblia. Não! A ministra, simplesmente desmentiu o jornal!
E o curioso: desmentiu não com nota oficial, mas pelo twitter!!!
O que disse Helena Chagas:
- “Pessoal, só esclarecendo:a presidenta Dilma não tirou o crucifixo da parede de seu gabinete.A peça é do ex-presidente Lula e foi na mudança”;
“Aliás,o crucifixo,que Lula ganhou de um amigo no início do governo,é de origem portuguesa.Mais:Dilma também não tirou a bíblia do gabinete.”;
- “A bíblia está na sala contígua, em cima de uma mesa – onde, por sinal, a presidenta já a encontrou ao chegar ao Planalto. Por fim…”;
- “…um último detalhe:embora goste de trabalhar com laptop,a presidenta não mudou o computador da mesa de trabalho.Continua sendo um desktop.”
Ou seja: segundo a ministra, a “Folha” errou no factual!
A “Folha” pode detestar a Dilma, e pode até achar que deve insuflar a direita religiosa. Mas, pra isso, precisa se ater aos fatos!
De todo jeito, sejamos cuidadosos: vamos aguardar as explicações do jornal da família Frias…
Esse espisódio, do “crucifixogate”, tem tudo pra entrar na mesma lista do “bolinhagate”, do grampo sem áudio e da ficha falsa da Dilma! Com um detalhe extra: ao desmentir o jornal pelo twitter, Helena Chagas não deixa de mandar um recado pra turma da Barão de Limeira – vocês já não estão com essa bola toda.
Humilhante: o maior jornal (?!) do país desmentido pelo twitter!
Confira artigo do Jornal Destak
Em seus primeiros dias de mandato, a presidente Dilma Rousseff já procurou ressaltar suas diferenças em relação a seu antecessor, o que, prontamente, foi divulgado por assessores. Ficou-se sabendo que ela almoça no gabinete (Lula comia com dona Marisa), toma decisões de modo mais rápido, quer adotar um modelo de gestão semelhante ao empresarial, mudou o sofá por poltronas e teria retirado um crucifixo da parede e a Bíblia de sua mesa.
Esta última informação, porém, o Palácio do Planalto apressou-se em negar (leia mais na página 6). Claro que entre as motivações para tanto está a obrigação de cobrar precisão no que se divulga sobre a presidente. Mas certamente não teria havido tal empenho se esse não fosse um tema tão sensível.
A atitude poderia ser vista como a demonstração de que Dilma não é lá muito chegada em religião. E não há nada mais grave para um político do que ser tido como ateu ou apenas não religioso.
Só para ficar num exemplo bem conhecido: Fernando Henrique Cardoso passou maus bocados quando foi candidato a prefeito de São Paulo, no longíquo ano de 1985, e foi questionado se era ateu. Na presidência, evitou o tema como o diabo foge da cruz. Como se viu na campanha passada, quando tanto Dilma quanto José Serra se fizeram fotografar em cultos, a proximidade com Deus rende votos.
Creio que é mais fácil o Brasil ter, num futuro distante, um Presidente Gay do que um Ateu. Quando alguém não tem fé, é logo identificado como alguém capaz de tudo, sem moral nem limites. É como se apenas a crença em Deus fosse capaz de inculcar nos homens o respeito pela humanidade. Como se sabe, há muitos homens de fé que não têm um pingo de respeito pela humanidade que não lhe é igual.
Diante de alguém sem fé, muitos crentes sentem-se impelidos a tentar uma conversão. Na maioria das vezes, há no mínimo uma expressão de surpresa: "Como assim, você não acredita mesmo em Deus?". Se a pergunta é feita na direção contrária, é sempre considerada ofensiva. E é mesmo. Esse tipo de coisa não está aberta ao debate: o sujeito acredita ou não, e pronto. O outro que se conforme com a diferença e cuide de suas próprias crenças ou falta delas.
Pelo que diz o Planalto, a Bíblia está onde sempre esteve, e Dilma não retirou o crucifixo, Lula é que o levou na mudança, pois o ganhou de presente. Mas nada disso deveria ser importante para avaliar a presidente. Pena que seja.
Com informações Planeta Osasco / Destak
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