O islamismo e o cristianismo são as duas religiões de maior porte no mundo atual. Ambas são as que mais se dedicam a missões. Suas crenças são semelhantes em muitos aspectos. São monoteístas, foram fundados por indivíduos específicos em contextos definidos e historicamente verificáveis, são universais, crêem na existência de anjos, no céu e no inferno, numa ressurreição futura e que Deus se manifesta ao homem por meio de uma revelação (ver matéria: Islamismo – desafio à fé cristã – Defesa da Fé no. 08 – p. 10-23).
Todavia, existem também diferenças óbvias entre elas, particularmente em relação à pessoa de Jesus, o caminho da salvação e a escritura ou escrituras de fé. Estas diferenças abrangem as doutrinas mais fundamentais de cada religião. Portanto, mesmo que ambos possam ser igualmente falsos, o islamismo e o cristianismo não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo.
Toda religião que se iniciou depois do cristianismo tenta mostrar que é compatível com a Bíblia, esforçando-se para demonstrar que a Bíblia se refere a seu fundador ou fé(1). Assim sendo, não é surpresa descobrir que os muçulmanos também afirmem que seu fundador foi profetizado no Antigo e Novo Testamentos. Embora o islamismo não seja o único a afirmar ser validado pela Bíblia, suas afirmações poderiam ser consideradas verdadeiras? Nosso objetivo é examinar as declarações islâmicas para ver se cada uma delas são confiáveis. A razão deve ser evidente por si mesma: é muito fácil fazer declarações a respeito de si mesmo, prová-las, porém, torna-se mais difícil.
ANALISANDO OS VERSÍCULOS
Há alguns versículos secundários e menos específicos que os muçulmanos declaram ser profecias relacionadas a Maomé. Entretanto, os versículos que a maioria dos muçulmanos citam como os mais explicativos são Deuteronômio 18.15-18 e João 14.16; 15.26 e 16.7.
Em Deuteronômio 18: 15-18 lemos: O Senhor, teu Deus, te despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis; conforme tudo o que pediste ao Senhor, teu Deus, em Horebe, no dia da congregação, dizendo: Não ouvirei mais a voz do Senhor, meu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra. Então, o Senhor me disse: Bem falaram naquilo que disseram. Eis que lhes suscitarei um profeta no meio seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.
Estes versículos são tidos universalmente pelos muçulmanos como uma profecia relativa a Maomé(2). Há várias razões porque acreditam que essa passagem não pode ser uma referência a Jesus. Primeira, o Profeta Prometido deveria ser um Profeta Legislador . Jesus não apresentou nenhuma declaração referente a uma nova lei. Segunda, o Profeta Prometido seria suscitado não dentre Israel, mas dentre seus irmãos e Jesus era um israelita. Terceira, a profecia diz: ... porei as minhas palavras na sua boca...Os evangelhos não consistem nas palavras que Deus pôs na boca de Jesus, eles apenas nos contam a história de Jesus, o que ele disse em alguns de seus discursos públicos e o que os seus discípulos disseram ou fizeram em ocasiões diferentes. Quarta, o Prometido deveria ser um profeta. O ponto de vista cristão é que Jesus não era um profeta, mas o filho de Deus(3). Nesse sentido o muçulmano salientará semelhanças entre Maomé e Moisés. Cada um deles surgiu dentre idólatras. Ambos são legisladores. Inicialmente foram rejeitados pelo seu povo e tiveram de se exilar. Retornaram posteriormente para liderar suas nações. Ambos casaram e tiveram filhos. Após a morte de cada um, os seus sucessores conquistaram a Palestina.
A conclusão muçulmana é que esta profecia foi cumprida somente por Maomé: se estas palavras não se aplicam a Maomé, elas ainda permanecem sem cumprimento(4).
Antes de prosseguir, analisaremos primeiramente estes pontos. A primeira objeção levantada contra esta profecia ter sido cumprida em Jesus foi a de que Jesus não foi um legislador. Os muçulmanos que afirmam isso demonstram apenas falta de compreensão do Novo Testamento. Vejamos o Evangelho de João 13.34 e a Epístola aos Gálatas 6.2: Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos ameis a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo.
A próxima objeção foi que irmãos deve se referir aos ismaelitas, não aos próprios israelitas. Este argumento pode ser refutado facilmente. Basta verificar como o termo irmãos é usado na Bíblia. Um exemplo irrefutável encontra-se no próprio livro de Deuteronômio 17.15. Moisés instrui os israelitas: porás, certamente, sobre ti como rei aquele que escolher o Senhor, teu Deus, dentre teus irmãos porás rei sobre ti; não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não seja de teus irmãos. Ora, alguma vez Israel estabeleceu algum estrangeiro como rei? É claro que não! Escolher um rei dentre teus irmãos refere-se a escolher alguém de uma das doze tribos de Israel. Da mesma forma, o Profeta Prometido de quem se fala no livro de Deuteronômio 18 deveria ser um israelita.
Outra objeção à passagem de Deuteronômio 18.15-18 é que supostamente os evangelhos não consistem nas palavras que Deus deu a Jesus, dado extremamente importante à luz do versículo 18. Entretanto, dizer que Jesus não fala o que Deus Pai lhe orienta, revela, novamente, falta de conhecimento do Novo Testamento: Porque eu não tenho falado de mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito (Jo 12.49-50)(5).
Percebemos, outra vez, que os muçulmanos têm pouca familiaridade com o Novo Testamento. O próprio Jesus, profetizando sua morte iminente, disse que deveria continuar sua jornada até Jerusalém: Importa, porém, caminhar hoje, amanhã e no dia seguinte para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém (Lc 13.33)(6).
O muçulmano salientará que as muitas semelhanças entre Moisés e Maomé ainda não foram explicadas. É verdade que existem muitas analogias, mas também muitas diferenças. Por exemplo, se Maomé era analfabeto como a maioria dos muçulmanos afirmam, então, ele não era como Moisés que foi instruído em toda a ciência dos egípcios... (At 7.22). Diz-se que Maomé recebeu suas revelações de um anjo. Moisés, porém, recebeu a Lei diretamente de Deus. Maomé não operou sinais ou milagres para corroborar o seu chamado. Moisés, entretanto, executou muitos sinais. Maomé era árabe, Moisés, israelita. Analisando os evangelhos, percebemos que Jesus era diferente de Moisés em alguns aspectos; em outros, muito parecido. Ambos eram israelitas, o que é muito importante à luz do que aprendemos acerca da expressão dentre teus irmãos. Ambos deixaram o Egito para ministrar a seu povo (Mt 2.15; Hb 11.27). Ambos renunciaram grandes riquezas, a fim de melhor se identificar com seu povo (Jo 6.15; 2 Co 8.9; Hb 11.24-26).
Dessa maneira, percebemos que tanto Jesus como Maomé tiveram semelhanças com Moisés. Em que sentido, então, este Profeta Prometido seria semelhante a Moisés? A resposta encontra-se em Deuteronômio 34.10-12, porquanto duas características peculiares de Moisés são mencionadas: E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera face a face; nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra; e em toda a mão forte e em todo o espanto grande que operou Moisés aos olhos de todo Israel.
Esta é uma referência direta a Deuteronômio 18.15-18. Referindo-se à profecia anterior, uma característica de Moisés é mencionada aqui: o Senhor conhecia Moisés face a face(7). Maomé nunca teve esse tipo de relacionamento com Deus. Deus é tão transcendente no islamismo que, exceto no caso de Moisés, nunca falou diretamente com o homem. Jesus, o verbo feito carne (Jo 1.14), é o único que teve relacionamento com Deus, assim como Moisés. De fato, o relacionamento de Jesus ultrapassa em muito o de Moisés: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (Jo 1.1).
Pouco precisamos falar sobre a segunda característica de Moisés. Os muitos milagres que tanto Jesus como Moisés operaram são bem conhecidos. O próprio Alcorão testifica que Maomé não operou milagres(8), mas que Jesus operou milagres (9).
Finalmente, o próprio Jesus nos diz quem é o Profeta Prometido de Deuteronômio 18.15-18: Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim, porque de mim escreveu ele (Jo 5.46)(10).
EVANGELHO DE JOÃO 14.16; 15.26; 16.7
Os muçulmanos afirmam que os versículos referentes ao Consolador vindouro (Parácletos no original grego) são, na verdade, alusões à vinda de Maomé. A razão para tal afirmação está contida no Alcorão, o qual diz que seria enviado um apóstolo depois de Jesus, cujo nome será Ahmad (Alcorão 61.6). Yusuf Ali faz o seguinte comentário sobre este versículo: Ahmad ou Muhammad o Louvado é quase uma tradução da palavra grega Periclytos. No atual evangelho de João, XVI. 16 XV. 26 e XVI. 7, a palavra Confortador na versão inglesa é para a palavra grega Parácletos que significa Advogado, aquele chamado para ajudar um outro, um amigo, bondoso, mais que Confortador. Nossos doutores sustentam que Parácletos é uma leitura corrompida de Periclytos, e que no discurso original de Jesus havia uma profecia de nosso santo profeta Ahmad pelo nome(11). Esse é um dos motivos que leva os muçulmanos a acreditar que todas as nossas Bíblias foram corrompidas e que João realmente usou a palavra Periclytos nesses versículos, ao invés da palavra Parácletos.
Ao examinar a afirmação muçulmana de que o texto foi corrompido, a crítica textual deveria analisar criteriosamente a verdadeira evidência textual. Há mais de 24 mil manuscritos do Novo Testamento que datam antes de 350 d.C.(12). Não existe manuscrito algum que contenha essa citação e apareça a palavra periclytos. A palavra registrada todas as vezes é Parácletos. Não há evidência textual que possa apoiar a alegação de que o texto tenha sido corrompido. A posição muçulmana encontra ainda maiores dificuldades quando lemos cuidadosamente estes versículos para vermos o que Jesus estava dizendo. Poderíamos dizer muitas coisas a respeito de cada versículo. Limitaremos nosso exame às discrepâncias óbvias entre a posição islâmica e o que realmente está sendo dito: E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador(13), para que fique convosco para sempre (Jo 14.16). Jesus disse que o Pai vos dará outro Consolador. A quem Jesus estava se dirigindo nesses versículos? Aos árabes ou, mais especificamente, aos ismaelitas? É claro que não. Ele está falando aos crentes judeus. Por conseguinte, o Consolador deveria ser enviado inicialmente a eles, não podendo logicamente referir-se a Maomé. Além do mais, este versículo afirma que o Parácletos, o Consolador estaria convosco para sempre. Como pode, então, referir-se a Maomé? O profeta muçulmano morreu e foi enterrado há mais de 1.300 anos.
O evangelho de João diz: o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós (Jo 14.17). Aqui, o Espírito da verdade é um outro título ou sinônimo de Parácleto. Vemos, a partir deste versículo, que o Parácleto estaria em vós. Reconciliar esta declaração com a posição islâmica é impossível.
A declaração do Senhor Jesus no Evangelho de João 14.26 desmonta completamente a hipótese islâmica de que Maomé era verdadeiramente aquele profetizado nos versículos, pois eles se referem ao Consolador ou Parácleto: Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. Jesus disse que o Consolador é o Espírito Santo. Esta é a razão pela qual todos os apologistas muçulmanos não citam esse versículo .
O Consolador foi dado aos discípulos de Jesus. Maomé não foi seu discípulo. Jesus disse que os seus discípulos conheciam o Consolador: ...vós o conheceis (Jo 14.17) Eles não conheciam Maomé, que nasceu no século sexto depois de Cristo. Jesus disse que o Consolador seria enviado em nome de Jesus. Nenhum muçulmano crê que Maomé tenha sido enviado em nome de Jesus. Jesus disse que o Consolador não falaria de si mesmo (Jo 16.31). Em contrapartida, Maomé constantemente testifica de si mesmo no Alcorão(14). A Bíblia diz claramente que o Consolador iria glorificar a Jesus (Jo 16.14), e Maomé declara substituir Jesus, estando na condição de profeta superior.
O Senhor Jesus em Atos 1.4-5, ordenou a seus discípulos: ...que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias. Estes versículos poderiam honestamente ser aplicados a Maomé, que surgiu 570 anos depois, em Meca na Árabia? À luz do texto bíblico, a interpretação islâmica é impossível. O cumprimento das palavras do Senhor Jesus ocorreu dez dias depois, no dia de Pentecostes (Atos 2.1-4) e não seis séculos depois, a centenas de milhas de Jerusalém.
Concluímos, portanto, que não há base bíblica alguma para afirmar que o Profeta Prometido em Dt 18.15-18 e o Consolador em Jo 14.16; 15.26 e 16.7 sejam profecias relacionadas ao fundador do islamismo, mas, como a própria Bíblia Sagrada declara, o Profeta Prometido em Dt 18.15-18 é o Senhor Jesus (Jo 5.46) e o Consolador (Jo 14.16; 15.26 e 16.7) é a pessoa Bendita do Espírito Santo (Jo 14.26).
Notas
1 Por exemplo, Mani, no terceiro século, afirmou ser o Parácleto ou o Consolador de quem Jesus falou em Jo 14.16. Os Baha'is, que se originaram do próprio islamismo, acreditavam do mesmo modo que seu fundador Baha'u'llah fora predito na Bíblia. Os mórmons crêem que Ezequiel profetizou a vinda de uma de suas escrituras: O Livro de Mórmon.
2 Eles acreditam que o Alcorão refere-se a isso na surata 7.157.
3 Hazrat Mirza Bashir-Ud-Din Mahmud Ahmad, Introduction to the Study of the Holy Quran (London: The London mosque, 1949), pp 84-94. Também cf. Ulfat Aziz-Us-Samad, Islam and Christianity (Karachi, Pakistan: Begum Aisha Bauany Wakf, 1974), p. 96.
4 'Abdu 'L-Ahad Dauud, Muhammad in the Bible (Kuala Lumpur: Pustaka Antara, 1979).
5 também cf. Jo 7.16; 8.28
6 Também cf. Mt 13.57; 21.11; Lc 7.16; Jo 4.19; 6.14; 7.40; 9.17.
7 Ver. Ex. 33.11
8 Ver. Alcorão 1.59; 1.90-93; 6.37; 6.109.
9 Ver. Alcorão 5.110.
10 Ainda cf. Lc 24.27.
11 Abdullah Yusuf Ali, op. cit., p. 1540 (Também cf. p. 144).
12 A cópia mais antiga do Evangelho de João é o Papiro 75, datado entre 175-225 D.C. A palavra ali encontrada é Parácletos e não pariclytos, como querem os muçulmanos.
13 A palavra grega Parácletos pode ser traduzida por Confortador, Conselheiro, Advogado ou Ajudante.
14 Ver. Alcorão 33.40.
Fonte: Revista Defesa da Fé
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