Documento da diplomacia dos EUA foi divulgado na internet.
Avaliação consta de descrição sobre comunidade islâmica brasileira.
Embora a comunidade muçulmana no Brasil seja formada majoritariamente por integrantes moderados, o país abriga "elementos radicais genuínos", alguns na região de Foz do Iguaçu (PR) e outros em São Paulo.
A avaliação consta de documento confidencial da diplomacia norte-americana datado de 20 de novembro de 2009, produzido pelo Consulado dos EUA em São Paulo. Integra um conjunto de 251.287 relatórios da diplomacia americana produzidos entre 1966 e 2010 e divulgados pela organização Wikileaks, que teve acesso ao material.
O documento produzido pelo Consulado dos EUA em São Paulo teve por objetivo subsidiar a visita ao Brasil, em novembro de 2009, da representante especial da Chancelaria dos EUA para as comunidades islâmicas, Farah Pandith. A íntegra do texto em inglês pode ser lida aqui.
"Enquanto a maioria dos muçulmanos do Brasil é moderada em orientação e a esmagadora maioria é moderada em obras e ações, genuínos elementos radicais existem aqui, alguns na área da Tríplice Fronteira em Foz do Iguaçu e outros entre a forte população xiita orientada ao [grupo extremista islâmico] Hizbollah em São Paulo, estimada em 20 mil pessoas", afirma o documento da diplomacia americana.
O documento procura descrever a comunidade árabe no Brasil, que estima em 400 a 500 mil pessoas, segundo cálculos mais confiáveis. Aponta a existência de maioria sunita de descendência libanesa, cujos membros chegaram ao país há muitas décadas e construíram "fortes raízes" no país. Afirma que os libaneses que vivem no Brasil tendem a valorizar as "virtudes de um Líbano tolerante", onde cristãos, judeus e árabes convivem facilmente. Afirma que a marca dessa comunidade é reforçada pela tradição brasileira de tolerância cultural.
Diz, contudo, que há também um fluxo mais recente de imigrantes, também de maioria libanesa e mais pobres e "muito mais xiitas". "A [orientação] política deles é mais radical e eles frequentemente recorrem ao Hizbollah para liderança", diz o documento.
Líder é descrito como promotor de 'linha fundamentalista'O Consulado relata sua busca ao longo dos anos por envolvimento com grupos muçulmanos de São Paulo. Descreve o trabalho conjunto com o cônsul-geral do Líbano na cidade, Joseph Sayah, como responsável pela montagem de uma "crescente rede de amigos entre xeques e líderes entre a comunidade sunita", que inclui abertura ao diálogo com "alguns sunitas fundamentalistas que mantêm visões extremamente críticas em relação aos EUA".
O documento também descreve lideranças muçulmanas locais, como o xeque Jihad Hammadeh, de São Bernardo do Campo (Grande SP), descrito como promotor de linha islâmica "fortemente fundamentalista".
Vice-presidente da ONG Wamy (Assembléia Mundial da Juventude Islâmica), Hammadeh é descrito como alguém que busca manter o governo dos EUA "a uma certa distância". "Hammadeh se encontra conosco, mas nunca frequenta nossos eventos e nos mantém a uma certa distância. Quando sugerimos visitar suas aulas de árabe, ele hesitou", diz o texto.
Procurado pelo G1, Hammadeh disse "desqualificar" sua descrição feita pela diplomacia americana. "Essa análise é muito superficial. E que distância eles querem? Eles é que mantêm distância, só aparecem quando convém a eles. A comunidade fica receosa: só de vez em quando aparecem, e para fazer perguntas. Cadê a amizade?", questionou o xeque.
Hammadeh disse ser duro na cobrança de padrões de comportamento da comunidade islâmica, mas negou fanatismo. "Se estão dizendo [que há radicais islâmicos no país], que mostrem as provas e as fontes para que o governo e a Justiça brasileiros corram atrás deles", afirmou.
Outro citado no documento, como promotor de "atitudes antiamericanas", o xeque Yamani Abdul Nur Muhammad, de Londrina (PR), também questionou, em entrevista ao G1, a avaliação da diplomacia americana.
Documento sugere cooptação de árabes moderadosA análise destinada à representante do governo Barack Obama para as comunidades islâmicas descreve o cenário "brasileiro-libanês" como um "duplo contexto de tolerância" que já ajuda a promover a inserção da comunidade muçulmana do país.
Sugere ainda o trabalho de "engajamento de muçulmanos moderados", para "colocar radicais na defensiva e abrir canais de comunicação que podem levar a mais informações sobre elementos mais distantes da comunidade em razão de maior radicalismo". "Trabalhar com moderados amigáveis não deve ser visto separadamente do monitoramento de elementos mais ameaçadores", diz o documento, que classifica a "pequena comunidade xiita brasileira orientada ao Hizbollah" como uma "preocupação legítima" do governo dos EUA.
A avaliação consta de documento confidencial da diplomacia norte-americana datado de 20 de novembro de 2009, produzido pelo Consulado dos EUA em São Paulo. Integra um conjunto de 251.287 relatórios da diplomacia americana produzidos entre 1966 e 2010 e divulgados pela organização Wikileaks, que teve acesso ao material.
"Enquanto a maioria dos muçulmanos do Brasil é moderada em orientação e a esmagadora maioria é moderada em obras e ações, genuínos elementos radicais existem aqui, alguns na área da Tríplice Fronteira em Foz do Iguaçu e outros entre a forte população xiita orientada ao [grupo extremista islâmico] Hizbollah em São Paulo, estimada em 20 mil pessoas", afirma o documento da diplomacia americana.
O documento procura descrever a comunidade árabe no Brasil, que estima em 400 a 500 mil pessoas, segundo cálculos mais confiáveis. Aponta a existência de maioria sunita de descendência libanesa, cujos membros chegaram ao país há muitas décadas e construíram "fortes raízes" no país. Afirma que os libaneses que vivem no Brasil tendem a valorizar as "virtudes de um Líbano tolerante", onde cristãos, judeus e árabes convivem facilmente. Afirma que a marca dessa comunidade é reforçada pela tradição brasileira de tolerância cultural.
Diz, contudo, que há também um fluxo mais recente de imigrantes, também de maioria libanesa e mais pobres e "muito mais xiitas". "A [orientação] política deles é mais radical e eles frequentemente recorrem ao Hizbollah para liderança", diz o documento.
Líder é descrito como promotor de 'linha fundamentalista'O Consulado relata sua busca ao longo dos anos por envolvimento com grupos muçulmanos de São Paulo. Descreve o trabalho conjunto com o cônsul-geral do Líbano na cidade, Joseph Sayah, como responsável pela montagem de uma "crescente rede de amigos entre xeques e líderes entre a comunidade sunita", que inclui abertura ao diálogo com "alguns sunitas fundamentalistas que mantêm visões extremamente críticas em relação aos EUA".
O documento também descreve lideranças muçulmanas locais, como o xeque Jihad Hammadeh, de São Bernardo do Campo (Grande SP), descrito como promotor de linha islâmica "fortemente fundamentalista".
Essa análise é muito superficial. Eles só aparecem de vez em quando, e para fazer perguntas"
xeque Jihad Hammadeh
Procurado pelo G1, Hammadeh disse "desqualificar" sua descrição feita pela diplomacia americana. "Essa análise é muito superficial. E que distância eles querem? Eles é que mantêm distância, só aparecem quando convém a eles. A comunidade fica receosa: só de vez em quando aparecem, e para fazer perguntas. Cadê a amizade?", questionou o xeque.
Hammadeh disse ser duro na cobrança de padrões de comportamento da comunidade islâmica, mas negou fanatismo. "Se estão dizendo [que há radicais islâmicos no país], que mostrem as provas e as fontes para que o governo e a Justiça brasileiros corram atrás deles", afirmou.
Outro citado no documento, como promotor de "atitudes antiamericanas", o xeque Yamani Abdul Nur Muhammad, de Londrina (PR), também questionou, em entrevista ao G1, a avaliação da diplomacia americana.
Documento sugere cooptação de árabes moderadosA análise destinada à representante do governo Barack Obama para as comunidades islâmicas descreve o cenário "brasileiro-libanês" como um "duplo contexto de tolerância" que já ajuda a promover a inserção da comunidade muçulmana do país.
Sugere ainda o trabalho de "engajamento de muçulmanos moderados", para "colocar radicais na defensiva e abrir canais de comunicação que podem levar a mais informações sobre elementos mais distantes da comunidade em razão de maior radicalismo". "Trabalhar com moderados amigáveis não deve ser visto separadamente do monitoramento de elementos mais ameaçadores", diz o documento, que classifica a "pequena comunidade xiita brasileira orientada ao Hizbollah" como uma "preocupação legítima" do governo dos EUA.
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