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No primeiro dia útil após a retomada do Complexo do Alemão das mãos do crime organizado, a vida no conjunto de favelas na zona norte do Rio de Janeiro parece começar a voltar ao normal. O barulho dos blindados, as rajadas de tiros e o clima de guerra declarada deram espaço para uma relativa calmaria nesta segunda-feira (29).
Na rua Joaquim de Queiroz, um dos principais acessos usados para entrada de saída de moradores, vários trabalhadores era vistos descendo o morro por volta das 6h30. Muitas pessoas estavam trancadas dentro de casa desde sexta-feira (26), quando o confronto entre traficantes e autoridades se intensificou.
Na padaria que fica na esquina com a estrada de Itararé, fechada desde quinta-feira e cuja fachada foi usada no final de semana como posto do Exército, as portas voltaram a abrir e os habitantes do Alemão novamente tiveram a possibilidade de comprar pão e mantimentos, algo impensável nos últimos dias, marcados por intensas trocas de tiro que fizeram o comércio todo encerrar suas atividades temporariamente na região.
Na banca de jornal, os periódicos da cidade exibem manchetes como “Vencemos” e “A reconquista”. “Vim comprar pra guardar. Vai ser uma recordação. E também queria entender melhor as coisas. Fiquei dentro de casa três dias. Ouvi tudo, mas quero ver o que vai acontecer agora”, disse o pedreiro Rafael de Oliveira, 35 anos.
Alguns blindados ainda podem ser observados fazendo rondas nas principais avenidas do Complexo. O número de policiais militares, no entanto, foi reduzido drasticamente, apesar de 90 homens do Bope terem passado a noite dentro do Alemão – efetivo que está sendo substituído nesta manhã.
Homens da Polícia Civil e do Exército ainda são vistos na manhã desta segunda fazendo revistas em alguns pontos. A estratégia é tentar encontrar traficantes que possam estar tentando sair da comunidade disfarçados. De toda forma, o pente fino é bem mais permissivo do que as varreduras do final de semana, que não poupavam ninguém – senhoras, crianças e até deficientes.
Alguns moradores reclamam da falta de luz, mas os problemas de abastecimento não chegam a atingir todos os endereços das favelas. Já “no asfalto”, os pontos de ônibus estão lotados. Muitas escolas municipais da região continuam fechadas, mas a secretaria estadual permitiu que os diretores de casa unidade tomem a decisão de receber ou não os alunos. Outros serviços públicos começaram a ser retomados, como a varrição.
Por todo lado, o volume de lixo é grande. Muitas vezes os próprios traficantes proibiam a entrada de caminhões de coleta de resíduos. Em uma volta que a reportagem fez pela comunidade já ocupada, encontrou vários pontos usados como lixão, locais em que o cheiro forte lembra carniça e chega a ser insuportável.
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