domingo, 2 de janeiro de 2011

Lula: "ninguém vai se importar se eu tomar uma cervejinha"

Lula e Marisa embarcam em avião ao deixar Brasília
Foto: Agência Brasil

Lula e Dona Marisa Letícia acenam do avião presidencial enquanto deixam Brasília. Foto: Agência Brasil O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em entrevista a Regina Casé, exibida neste domingo na TV Globo, que pretende retomar antigos hábitos dos quais se privou nos oito anos em que ocupou a Presidência. Segundo Lula, após deixar o cargo, ele se sentirá mais confortável para "tomar uma cervejinha".
"Vou poder tomar uma cerveja e ninguém vai se importar se eu tomar uma cervejinha", afirmou. Lula disse que uma de suas prioridades após retornar a São Bernardo do Campo (SP) será retomar a rotina. "Eu resolvi, quando ganhei a Presidência, fazer uma espécie de isolamento meu e da Marisa. Eu fiquei oito anos sem ir a um restaurante, sem ir a um casamento, sem ir a um aniversário, sem ir a uma festa", disse.
O ex-presidente também relatou que não sabe ainda o que fazer após deixar o cargo. "Eu sempre tive uma vida muito intensa. Eu fiquei praticamente de 1989 a 2002 brigando para ganhar as eleições, até ganhar. Agora eu estou deixando a Presidência e, sinceramente, eu não sei o que eu vou fazer", disse.
"Sabe que eu não sei o que fazer? Engraçado, né? Quando você ganha, você sabe o que fazer no dia seguinte, você projeta as medidas provisórias que você vai assinar, as leis que você vai assinar, os decretos. Não tem nada programado. (...) Lá pelo dia 3 eu quero sair para descansar alguns dias. Aí eu quero tirar uns 15 dias de férias e depois começar a pensar o que eu vou fazer da vida", afirmou o ex-presidente.
Em tom de brincadeira, Lula afirmou que, por enquanto, está estranhando a folga. "Dá uma inquietação. Não vai ter ninguém para xingar no dia 2. (Se eu) xingar a (ex-primeira-dama) Marisa (Letícia), ela me mete um porrete. De vez em quando, um palavrão, como força de expressão, é saudável, não é ruim", afirmou.
Para Lula, seu maior legado é recuperar a autoestima do brasileiro e mostrar que um homem do povo pode chegar à Presidência. "Eu acho que o grande legado que fica é o seguinte: o povo percebeu que um deles podia chegar lá. Esse mesmo povo tinha me derrotado duas vezes anteriormente porque ele tinha medo que um deles não soubesse fazer o que precisava ser feito no Brasil", declarou.
"O que eu sinto é orgulho. O que eu sinto é que as pessoas estão mais orgulhosas, as pessoas estão com a autoestima à flor da pele, as pessoas estão gostando mais de si, estão acreditando mais em si, as pessoas têm mais esperança", disse Lula. O ex-presidente também lembrou da frase do presidente americano, Barack Obama, que o chamou de "o cara" durante uma reunião do G20. "Se o Obama viesse ao Brasil e tivesse contato com o povo brasileiro, ele ia falar: 'puxa vida, eu falei que esse Lula é o cara. Não é ele que é o cara, é o povo'. São milhões de 'caras'."
Informalidade
Na entrevista, Lula comentou o tom informal que assumiu à frente da Presidência e a sua relação próxima com as camadas populares. "A gente briga tanto para ser presidente para ser chamado de vossa excelência, de excelência, e eles me chamam de Lula. Maior cara de pau! E eu vou lá em São Bernardo e me chamam de baiano ainda. Ou seja, não têm o menor respeito. Eu acho isso fantástico", disse.
Burocracia
Lula também culpou a burocracia brasileira pela morosidade de algumas obras de seu governo. Segundo o ex-presidente, é "angustiante" a espera pelos trâmites judiciais para que projetos essenciais saiam do papel. "O povo comum não imagina a dificuldade que um presidente tem para fazer uma obra. As pessoas pensam que um presidente pode chegar, fazer um decreto e acabou, está pronto", disse.
"É um verdadeiro inferno para fazer uma coisa. Você tem que teimar, tem que brigar para sair", afirmou. "Ao mesmo tempo, eu acredito que se a gente ficar em cima, as coisas saem."
Respeito internacional
Segundo Lula, uma de suas grandes contribuições foi a de posicionar o Brasil como um "ator principal" na política internacional e ganhar o respeito dos países desenvolvidos. "Nós, brasileiros, aprendemos a nos tratar como se nós fôssemos inferiores. Talvez pelo fato de nós termos sido um país colonizado, primeiro por Portugal, depois Inglaterra, depois pelos Estados Unidos. Nós ficamos sempre naquela de que os outros são melhores do que nós", disse. "Nelson Rodrigues dizia: 'é o complexo de vira-lata'. É o complexo de que você só é bom se você falar inglês, você só é bom se falar francês. Você nunca se sentia um ator principal. Mas nós somos um ator principal", acrescentou.
Lula citou um episódio ocorrido no início de seu primeiro mandato, durante uma reunião do G8, como exemplo da mudança de postura do Brasil. "Cheguei lá, não falava nenhuma língua. Mas antes de começar a reunião, a gente estava sentado, eu tinha chegado e cumprimentei todo mundo e aí entra o (ex-presidente americano, George W.) Bush. Quando entra o Bush, todo mundo levanta. Eu falei 'vamos ficar sentados'. Ninguém levantou quando eu cheguei, por que nós temos que levantar para receber o Bush? E aí o Bush veio e me cumprimentou normalmente. Ou seja, o que eu queria mostrar? Você não precisa ser 'lambe-botas'. Você não precisa ser subserviente para ser respeitado", concluiu.
Redação Terra

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