segunda-feira, 11 de março de 2013

Igrejas ignoram alvarás e segurança em Campinas


Pastor faz oração em igreja instalada no Jardim Campo Belo: responsável reconhece falta de alvará, mas diz que situação será regularizada
 







Não é exagero dizer que, em algumas regiões de Campinas, em uma distância de cem metros é possível encontrar mais de uma igreja em pleno funcionamento, principalmente em bairros periféricos.

São barracões alugados, salões improvisados, garagens que se transformam em templos para reuniões dos fiéis. Apesar do número visualmente crescente desses espaços, a Prefeitura de Campinas possui registro de apenas 320 pedidos para expedição de alvará no segmento “templo religioso” — incluindo os já concedidos ou em andamento.

A Administração evita calcular o número de igrejas em situação irregular. Mas, segundo informações de um fiscal da Prefeitura que não quis ter seu nome revelado, cerca de 90% delas funciona sem qualquer laudo.

Levantamento feito pelo Correio em duas instituições religiosas — católica e evangélica — aponta que o número de templos é maior do que atingem os olhos do Executivo. Somente as igrejas católicas — administradas pela Arquidiocese de Campinas — possuem cerca de 250 templos espalhados pela cidade, entre capelas e paróquias.

Entre as evangélicas, apenas a igreja Assembleia de Deus Ministério de Belém, que também tem sede em Campinas, possui cerca de 200 templos.

A reportagem percorreu as regiões do Campo Grande, Campo Belo a dos DICs nesta semana e constatou falta de alvará e de laudo do Corpo de Bombeiros em boa parte das igrejas em funcionamento. Faltam extintores, saídas de emergência, sinalização e a estrutura, muitas vezes, é bem precária: há fios soltos ou até prédio em plena reforma.

Os templos religiosos estão dentro de um — entre vários — segmentos que precisam de alvará e laudos do Corpo de Bombeiros para poder serem abertos. A tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em que 239 jovens morreram após um incêndio no final do janeiro levantou alerta em todo o País.

Em Campinas, a situação não é diferente: casas noturnas foram fechadas e lacradas por não cumprirem totalmente os quesitos de segurança. No entanto, apesar de reunir número significativo de pessoas, justamente pela falta de estrutura da Prefeitura para abranger todos os tipos de construções nas atuais fiscalizações, as igrejas têm ficado em segundo plano no que diz respeito a vistorias.

Um dos prédios da Assembleia de Deus Ministério do Belém, no Jardim Vista Alegre, está em reforma há cerca de dois anos, segundo os frequentadores. São andaimes, telhados improvisados, falta de reboque nas paredes, fiações da rede elétrica à vista. Os materiais de construção amontoados à frente do templo dão sinais da estrutura improvisada.

O pastor responsável pela igreja, Elias Dumas, não quis falar com a reportagem sobre a situação do prédio. Afirmou que quem responde é o pastor-presidente da Assembleia de Deus de Belém, o deputado Paulo Freire (PR), que foi procurado, mas não encontrado até o fechamento desta edição. Os fiéis também não quiseram opinar.

Na mesma rua, na igreja Pentecostal Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida, o pastor Zenaldo Machado da Silva realizava o culto em uma pequena garagem, transformada em salão pelo dono do imóvel que vive na casa de cima. Pastor Zenaldo disse que assumiu a igreja há quatro meses e não soube dizer se havia alvará ou laudo do Corpo de Bombeiros. “Tem dia que tem dez, mas chegamos receber 30 pessoas aqui”, disse. No espaço não havia nenhum extintor e nenhuma sinalização de segurança.

No bairro Campo Belo, onde também há igrejas por todos os cantos, a Assembleia de Deus Ministério do Ferreira não tinha nenhum tipo de instrumento de segurança. Apesar de ser um salão amplo e com portas laterais, o espaço não tem extintores ou sinalizações. Aos fundos dela, onde existe uma pequena sala para preparação dos pastores antes dos cultos, há fios de eletricidade expostos.

O pastor responsável pelo templo, Agenildo Gomes, assumiu a falta de alvará, mas afirmou que está procurando regularizar o espaço. Questionado se o local pode causar algum risco aos seus frequentadores, ele disse que está em processo de legalização. “Já pegamos o CNPJ, esta igreja estava sem gente. Por isso estamos buscando nos regularizar”, disse o pastor, que assumiu essa igreja há três anos.

As igrejas católicas, apesar de aparentar melhor estrutura, também deixaram a desejar no que diz respeito ao respeito às normas de segurança nos últimos anos. A Catedral Metropolitana funcionou por mais de dez anos sem laudo dos bombeiros e alvará da Prefeitura. Medidas de segurança começaram a ser adotadas recentemente.

O padre Alexandre Moura, ecônomo da arquidiocese, afirma que a instituição tem buscado controlar suas paróquias no que diz respeito à segurança e se informar da situação desses templos. “Algumas estão em processo para conseguir se regularizar. Muitos (padres), às vezes, desconhecem a questão, estão preocupados com a questão pastoral. Por isso nosso controle”, disse.


RAC

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