sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ENCHENTES EM JAGUARIÚNA - A PREOCUPAÇÃO CONTINUA. ENTENDA COMO FUNCIONA O SISTEMA CANTAREIRA DA CAPTAÇÃO DE ÁGUA .

1. INFORMAÇÕES

Este relatório de monitoramento tem como objetivos principais a verificação da situação dos reservatórios do Sistema Cantareira, com ênfase no chamado Sistema Equivalente (Reservatórios Jaguari/Jacareí, Cachoeira e Atibainha). Constam neste relatório dados sobre as vazões liberadas e disponibilizadas à jusante (após os reservatórios), o volume transferido para abastecimento da RMSP (Região Metropolitana de São Paulo), o volume operacional de cada reservatório, a cota de altura do nível da água, a vazão natural afluente dos tributários (Rios Cachoeira, Jaguari, Jacareí e Atibainha) e o volume de precipitação sobre a região, pois esta influencia diretamente a vazão afluente e o volume dos reservatórios.

2. O SISTEMA CANTAREIRA

O Sistema Cantareira é responsável pela produção de quase metade da água consumida pela RMSP (Região Metropolitana de São Paulo). É considerado um dos maiores sistemas de produção de água do mundo, apresentando uma área de aproximadamente 228 mil hectares, abrangendo 12 municípios (4 cidades mineiras e 8 cidades paulistas). Neste sistema ocorre a transposição de água da Bacia do Piracicaba para a Bacia do Alto-Tietê.
O chamado Sistema Equivalente é formado pelos Reservatórios Jaguari/Jacareí, Cachoeira e Atibainha. Este sistema é o divisor de águas das bacias do Piracicaba (dentro do Sistema Equivalente) e do Alto-Tietê (fora do Sistema Equivalente).
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Figura 1. - Figura Ilustrativa do Sistema Cantareira, demonstrando também o Sistema Equivalente.
Abaixo apresentamos a descrição dos reservatórios e estruturas do Sistema Cantareira:
- Reservatório Jaguari/Jacareí
Formado por duas barragens e um canal de interligação de 670 metros de extensão que conecta o Reservatório Jaguari ao Jacareí, sendo que este canal possibilita que estes reservatórios sejam operados como um sistema único. As comportas do reservatório está localizada no Jaguari, enquanto o túnel de ligação (Túnel 7, com 5.885 metros de extensão) com o Reservatório Cachoeira está localizado no Jacareí.
A área inundada do Reservatório cobre as áreas dos municípios de Joanópolis, Vargem, Piracaia e Bragança Paulista.
- Reservatório Cachoeira
Localizado no município de Piracaia, recebe a contribuição da vazão natural do Rio Cachoeira e a vazão proveniente do Reservatório Jaguari/Jacareí. Está ligado ao Reservatório Atibainha pelo túnel 6, com 4.700 metros, e por um canal de aproximadamente 1.200 metros.
À jusante do Reservatório há a liberação de água para o Rio Cachoeira, que atravessa o município de Piracaia (onde suas águas são utilizadas para abastecimento da população), seguindo até a divisa de Atibaia com Bom Jesus dos Perdões, onde se junta ao Rio Atibaia.
- Reservatório Atibainha
Localizado no município de Nazaré Paulista. Recebe a contribuição natural do Rio Atibainha e do Reservatório Cachoeira (conseqüentemente do Reservatório Jaguari/Jacareí). É ligado ao Reservatório Paiva Castro por um túnel (Túnel 5) com 9.840 metros de extensão.
À jusante do Reservatório há a liberação de água para o Rio Atibaia, que segue por Bom Jesus dos Perdões, recebendo na divisa entre Bom Jesus dos Perdões e Atibaia, o Rio Cachoeira, seguindo para o município de Atibaia.
Na foz do Rio Atibaia e do Rio Jaguari ocorre a formação do Rio Piracicaba.
- Reservatório Paiva Castro
Localizado no município de Mairiporã, neste reservatório há a união das águas transpostas da bacia do Piracicaba (pelo Túnel 5) e do volume produzido na bacia do Juquery. Após o reservatório, a água segue para a Estação Elevatória de Santa Inês, pelo túnel 3.

- Estação Elevatória de Santa Inês
Localizada ao lado da Serra da Cantareira. Cada bomba (no total são 4 bombas) tem capacidade de elevar 11 mil litros por segundo a uma altura de 120 metros. Na saída das bombas, a água percorre dois túneis (Túnel 4 e Túnel 1), chegando ao Reservatório de Águas Claras.

- Reservatório Águas Claras
Localizado no alto da Serra da Cantareira, é uma represa com função de segurança do sistema, pois mantém um fluxo contínuo caso a Estação Elevatória de Santa Inês pare. A água sai por gravidade e chega à ETA (Estação de Tratamento de Água) do Guaraú, através do Túnel 2, com 4.878 metros de extensão.

- ETA (Estação de Tratamento de Água) do Guaraú
Estação do tipo convencional, tendo uma capacidade de tratamento de 33 mil litros por segundo e uma capacidade de reservação de água tratada de 40 milhões de litros. As etapas do tratamento são gradeamento, coagulação, floculação, decantação, filtração, correção de pH, desinfecção e fluoretação.

3. MÉTODOS UTILIZADOS

A coleta de dados foi realizada junto à SABESP e ao Comitê de Bacias PCJ, sendo que coletamos diariamente os dados e compilamos os mesmos nas planilhas, de modo que pudemos observar e analisar os dados, além da possibilidade de criar gráficos e informações específicas sobre cada reservatório.
As avaliações foram realizadas sobre esses dados, que são os mesmos analisados pelos tomadores de decisão, órgãos públicos (DAEE e ANA), gestores do Sistema, pela SABESP e pelo Comitê PCJ, através da Câmara Técnica (CT) de Monitoramento Hidrológico e do Grupo Técnico (GT) do Sistema Cantareira.

3.1 RELATÓRIO DE MONITORAMENTO

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Legenda: Qnat: vazão natural afluente; Qjus: vazão liberada à jusante do reservatório; QT7: vazão túnel 7, que é transferida para o Reservatório Cachoeira; VOP: volume operacional do reservatório; Qres: quantidade que efetivamente ficou reservada na represa = Qnat - (Qjus + QT7); m³/s: metro cúbico por segundo ou mil litros por segundo. monitoramento03
Gráfico 1. - Vazão natural afluente (Qnat), vazão liberada à jusante do reservatório (Qjus) e Vazão Túnel 7 (QT7).
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Gráfico 2. - Volume Operacional do Reservatório Jaguari/Jacareí

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Gráfico 3. - Nível da Água do Reservatório Jaguari/Jacareí

3.2. Reservatório Cachoeira

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Legenda: Qnat: vazão natural afluente; Qjus: vazão liberada à jusante do reservatório; QT6: vazão túnel 6, que é transferida para o Reservatório Atibainha; VOP: volume operacional do reservatório; Qres: quantidade que efetivamente ficou reservada na represa = (Qnat+QT7) - (Qjus + QT6); m³/s: metro cúbico por segundo ou mil litros por segundo. monitoramento07
Gráfico 4. - Vazão natural afluente (Qnat), vazão liberada à jusante do reservatório (Qjus) e vazão Túnel 6 (QT6).
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Gráfico 5. - Volume Operacional do Reservatório Cachoeira
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Gráfico 6. - Nível da Água do Reservatório Cachoeira

3.3. Reservatório Atibainha

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Legenda: Qnat: vazão natural afluente; Qjus: vazão liberada à jusante do reservatório; QT5: vazão túnel 5, que é transferida para o Reservatório Paiva Castro; VOP: volume operacional do reservatório; Qres: quantidade que efetivamente ficou reservada na represa = (Qnat+QT6) - (Qjus + QT5); m³/s: metro cúbico por segundo ou mil litros por segundo. monitoramento11
Gráfico 7. - Vazão natural afluente (Qnat), vazão liberada à jusante do reservatório (Qjus) e vazão Túnel 5 (QT5).
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Gráfico 8. - Volume Operacional do Reservatório Atibainha
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Gráfico 9. - Nível da Água do Reservatório Atibainha

3.4. SISTEMA EQUIVALENTE (FORMADO PELOS RESERVATÓRIOS JAGUARI/JACAREÍ, CACHOEIRA E ATIBAINHA)

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Legenda: Qnat: vazão natural afluente total; Qjus: vazão total liberada à jusante dos reservatórios; QT5: vazão túnel 5, que é transferida para o Reservatório Paiva Castro; VOP Médio: volume operacional médio dos reservatórios - que é a soma dos VOP dos reservatórios e a divisão por 3; Qtde Reservada: quantidade que efetivamente ficou reservada nos reservatórios ou o banco de águas do Sistema Equivalente; m³/s: metro cúbico por segundo ou mil litros por segundo
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Gráfico 10. - Vazão natural afluente total (Qnat), vazão liberada à jusante dos reservatórios (Qjus) e vazão Túnel 5 (QT5).

3.5. PLUVIOMETRIA DO SISTEMA CANTAREIRA

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Gráfico 11. - Precipitação Diária na Região.
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Gráfico 12. - Comparação do Volume de Precipitação Mensal com a média histórica.

4. AVALIAÇÃO

Conforme informado no Relatório de Situação do dia 29 de Dezembro de 2009, os reservatórios que compõem o Sistema Cantareira na região apresentaram uma grande variação neste último mês, atingindo picos altos de reservação e volume operacional, além de vazão afluente e de precipitação.
Avaliando a média de contribuição para o Sistema advindo dos seus tributários, a bacia hidrográfica dos Rio Jaguari contribuiu com o maior volume (51,95 m³/s na média diária), a bacia do Rio Cachoeira contribuiu com 18,17 m³/s na média diária, a bacia do Rio Atibainha com 16,10 m³/s e a do Rio Jacareí com 9,71 m³/s na média diária. Somando os volumes afluentes das bacias hidrográficas dos Rios Jaguari e Jacareí, equivale à aproximadamente 64,27% do total do Sistema Equivalente.
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Gráfico 13. - Contribuição Média dos Tributários do Sistema Equivalente
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4.1. PRECIPITAÇÃO SOBRE A REGIÃO

O volume de precipitação sobre a região apresentou um total de chuvas de 415,9 mm, volume este 86,92% superior à média histórica registrada (222,5 mm).
Dos 31 dias do mês de dezembro, em 26 deles houve algum episódio de precipitação (chuva, garoa, etc.). Estas precipitações constantes e volumosas (em alguns dias também intensas) influenciam diretamente a vazão dos corpos hídricos tributários do sistema e, consequentemente, o volume liberado à jusante pelos reservatórios.
Devemos esclarecer que além do aumento da vazão instantânea dos corpos hídricos, dias após as chuvas, a vazão dos corpos hídricos permanecem elevadas, pois as águas da chuva infiltram no solo, abastecendo o lençol freático (nível freático, nível da água ou nível potenciométrico), que é responsável por abastecer as nascentes e os corpos hídricos nos dias de estiagem.
A elevação instantânea do volume de vazão dos corpos hídricos deve-se também aos diversos solos existentes na região, à formação geológica, ao relevo (devido à declividade acentuada), à cobertura vegetal e à ocupação do solo (urbana e rural). Também ressaltamos que com as chuvas constantes, o solo fica saturado e a água de chuva não infiltra, escoando superficialmente e alcançando rapidamente os corpos hídricos.
Os volumes de chuva nas cabeceiras dos corpos hídricos são bastante altos, devido à altitude e ao caráter superúmido destas áreas, sendo que, devido à velocidade e ao volume dessas águas, alcançam rapidamente as áreas baixas das bacias hidrográficas e os reservatórios formadores do sistema.

4.2. RESERVATÓRIO JAGUARI/JACAREÍ

O Reservatório Jaguari/Jacareí (o maior do sistema equivalente) variou de 87,24% no dia primeiro para 99,15% do Volume Operacional no dia 31, uma variação de 13,65%, alcançando uma cota de altitude do nível da água de 843,80 metros (a cota máxima do reservatório é 844,00 metros), elevando-se 2,76 metros desde o início do mês. Informamos que desde o dia 10 não é transferida vazão alguma para o Reservatório Cachoeira, através do Túnel 7, devido aos altos volumes operacionais dos reservatórios à jusante e do fato do Reservatório Jaguari/Jacareí possuir a maior capacidade de reservação, em comparação com o Cachoeira e o Atibainha.
Desde o dia 30 as comportas do reservatório estão abertas, dia em que o reservatório alcançou 99,21%, com uma cota de altitude do nível da água de 843,82 metros. Calculando as vazões deste Reservatório, concluímos que o volume mensal que permaneceu reservado na Represa totalizou a soma de 1.102,37 m³/s.
Avaliando os dados do ponto de monitoramento do Rio Jaguari, localizado na captação de água do município de Bragança Paulista, a vazão no ponto é hoje, às 18:40 hs, de 78,84 m³/s. A altura do nível da água no ponto é de 5,02 metros, sendo que 5,00 metros é o ponto de extravasamento.

4.3. RESERVATÓRIO CACHOEIRA

O Reservatório Cachoeira apresentou uma grande variação no seu volume operacional, variando de 50,10% no dia primeiro para 79,99% no dia 31, com uma elevação de 59,66%. A cota de altitude do nível da água subiu de 816,76 para 819,77 metros (a cota máxima é 821,78 metros), elevando-se 3,01 metros. O volume mensal reservado na Represa alcançou a soma de 235,39 m³/s.
O ponto de monitoramento do Rio Cachoeira, localizado na captação do município de Piracaia, apresentou hoje às 16:20 hs, a vazão de 9,61 m³/s, com uma cota de altura do nível da água de 2,83 metros, sendo 3,00 metros o ponto de extravasamento.

4.4. RESERVATÓRIO ATIBAINHA

O Reservatório Atibainha também apresentou uma grande variação do Volume Operacional, elevando-se de 68,32% de sua capacidade no dia primeiro para 94,04% (uma variação de 37,65%). A cota de altitude do nível da água do reservatório elevou-se de 785,28 para 786,56 metros (a cota de altitude máxima é 786,86 metros), uma elevação de 1,28 metros.
Calculando as vazões deste Reservatório, o volume mensal reservado totalizou a soma de 314,91 m³/s.
O ponto de monitoramento do Rio Atibaia, localizado no município de Atibaia, apresentou hoje, às 18:00 hs, uma vazão de 39,46 m³/s, com uma altura do nível da água de 3,98 metros (o ponto de extravasamento é 3,00 metros).

4.5. SISTEMA EQUIVALENTE

A vazão total transferida ao Reservatório Paiva Castro pelo Túnel 5 (QT5) foi de 589,23 m³/s, que equivale a uma vazão média de transferência de 19,01 m³/s ao dia. A vazão total liberada à jusante para a área da Bacia do Piracicaba, através dos Rios Jaguari, Jacareí, Cachoeira e Atibaia, foi de 731,78 m³/s, sendo uma vazão média diária de 23,61 m³/s. A quantidade total reservada no Sistema Equivalente foi de 1.652,67 m³/s, volume bem superior aos 124,65 m³/s do mês de novembro, para efeito de comparação.

4.6. PREVISÃO DE CHUVAS

Inserimos abaixo a previsão de chuvas para os próximos dias nas cidades de cabeceira dos corpos hídricos tributários dos reservatórios.
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4.7. AVALIAÇÃO GERAL

Pelo exposto acima, avaliamos que o Sistema apresenta um alto volume operacional, com as comportas do Reservatório Jaguari/Jacareí abertas e com o risco de abertura das comportas dos Reservatórios Cachoeira e Atibainha, devido, principalmente, à previsão de precipitações constantes e altas para este mês de janeiro (a média histórica para o mês é de 255,9 mm).
O chamado Banco de Águas formado pelas águas reservadas no Sistema Equivalente atingiu altos picos no mês de dezembro, refletindo o alto volume mensal de precipitação na região e as altas vazões registradas nos corpos hídricos tributários.
Esta situação exige o alerta dos órgãos públicos competentes (Defesa Civil e Prefeituras) e da população da área rural e nos bairros marginais dos Rios Cachoeira, Atibainha e Jaguari (sendo que no Jaguari a população já enfrenta alagamentos e enchentes).
 
Diego de Toledo Lima da Silva
Servidor Público Estadual da CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) e Técnico Ambiental, cursando Engenharia Ambiental. Atualmente reside em Limeira/SP.

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