Marcos Brindicci/Reuters-18/5/2006
Proteção. Militares bolivianos ocuparam em 2006 uma refinaria da Petrobrás em Santa Cruz de la Sierra
"Biato disse que em março (de 2006), Petrobrás e interlocutores bolivianos haviam começado o que pareciam ser discussões relativamente positivas. No entanto, Evo interrompeu abruptamente as conversas, insistiu que só discutiria o assunto diretamente com Lula", diz o documento, datado de maio de 2006. "No intervalo entre as conversas de março e a nacionalização, Biato observou que houve várias conversas entre Evo e Chávez", relata o telegrama.
Em 20 de abril, em encontro bilateral entre Lula e Chávez, o presidente brasileiro manifestou ao venezuelano sua preocupação com seu envolvimento no caso dos hidrocarburetos bolivianos. "Agora está claro para o governo do Brasil que Evo foi encorajado depois de ouvir que Chávez poderia prover ajuda técnica para obter o gás", afirma o despacho, referindo-se à possibilidade de a estatal de petróleo da Venezuela, a PDVSA, passar a auxiliar a boliviana, YPBF, em caso de rompimento entre Lula e Evo.
Em 5 de maio, um novo telegrama dá conta de um novo encontro entre representantes diplomáticos americanos com Biato. Na conversa, o assessor brasileiro é questionado sobre a proximidade entre Chávez e Evo, indagação à qual Biato responde de forma lacônica. "O que podemos fazer? Nós não escolhemos nossos vizinhos. Nós não gostamos do modus operandi de Chávez, nem das surpresas de Evo, mas nós temos de lidar com esses caras de alguma forma e manter a ideia da integração regional viva", diz.
Em outro despacho, datado de 26 de junho de 2006, o então embaixador americano, Clifford M. Sobel, relata que Marco Aurélio Garcia lhe confirmava a intervenção chavista no caso. "Ele sugeriu que o Brasil encorajou o presidente venezuelano Chávez a baixar o tom e se tornar "menos presente" no caso. Chávez entendeu que seu esforço fora invasivo e contraproducente", diz o relato. No mesmo encontro, Garcia teria afirmado que Evo também recebeu a sugestão de "baixar o tom".
A operação militar da Bolívia na refinaria da Petrobrás, em maio de 2006, fazia parte da política de nacionalização das reservas de hidrocarburetos pelo governo de Evo. Depois de uma reação hesitante (mais informações nesta página), o governo Lula e a Petrobrás aceitaram as novas regras impostas por La Paz para o setor petroquímico, reduzindo os dividendos das companhias que exploravam os recursos. Uma das questões centrais era o ressarcimento pelos investimentos da Petrobrás na Bolívia, avaliados em US$ 1,6 bilhão.
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