segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Contradição no Alcorão: Seis ou oito dias de criação?

Jochen Katz
Tradução de Wesley Nazeazeno

A Sura 7:54, 10:3, 11:7 e 25:59 dizem claramente que Deus criou “os céus e a terra” em
seis dias. Mas, também há a seguinte passagem:

2          Dize: “Renegais Aquele que criou a terra, em dois dias, e fazeis-Lhe semelhantes? Esse é O Senhor dos mundos”,
+
4          E fez nela assente montanhas, em cima de sua superfície, e abençoou-a; e, ao término de quatro dias exatos, determinou, nela, suas vitualhas, para os que solicitam.

            Em seguida, dirigiu-se ao céu, enquanto fumo, e disse-lhe à terra: “Vinde ambos, de bom ou de mau grado.” Ambos disseram: “Viemos obedientes.”
+
2          Então, decretou fossem sete céus, em dois dias, e revelou a cada céu sua condição. E aformoseamos o céu mais próximo com lâmpadas, e custodiamo-lo Essa foi a determinação dO Todo-Poderoso, dO Onisciente.
                                                                       Sura 41:9-12 (NASR)
=         8

Dois dias para a criação da terra, mais quatro dias para enchê-la com montanhas, bênçãos e mantimentos para todos seus moradores, e no fim mais dois dias para criar os sete céus e as suas estrelas. Isso soma 2+4+2 = 8 dias, em contradição aos 6 dias mencionados nos outros versos.
A estrutura é muito clara. Há três “camadas” que são criadas uma sobre a outra:

***      FIRMAMENTOS       [o céu, “o teto” sobre a terra] em 2 dias
:-)        BENÇÃOS                 [cobrindo a terra com tudo que é necessário para a vida] em 4 dias
===     A TERRA                   [a fundação] completa em 2 dias

Um tradutor da versão inglesa, Yusuf Ali, começa seu comentário com “Esta é uma passagem difícil...” antes de tentar explicar o problema. Mas, de fato não parece que os primeiros dois dias são partes do período de quatro dias, já que o segundo período pressupõe a existência da terra, a qual agora está para ser coberta após ter sido criada.
Tendo o primeiro período sido de quatro dias e o segundo de dois, então o segundo poderia ser incluído ao primeiro, já que “encher a terra” é parte de “criar a terra”, mas, o outro modo faz sentido. A terra que ainda existia não poderia ser preenchida. Mas, matematicamente, é simplesmente impossível incluir quatro dias em dois. E também está muito claro no texto que os primeiros dois dias estão conectados à “criação” dos próximos quatro dias, caracterizadamente por NELA “assentar”, “abençoar” e “determinar”.
Que os versos 9 e 10 descrevem fazes diferentes é posteriormente suportado pela estrutura textual, já que as duas fazes estão “separadas” pela pergunta retórica ao ouvinte/leitor no verso 9, baseado no que foi feito na primeira fase. Antes de continuar, demos uma olhada na segunda fase da criação.
É assim que a estrutura textual se apresenta (para um leitor sem um calendário para adaptar tudo a seis dias).
A explicação completa de Yusuf Ali na nota de rodapé 4470 é:
Os Comentaristas entendem os “quatro Dias” do verso 10 como inclusos nos dois dias do verso 9, assim, o total para o universo é de seis Dias. Isto é racional, porque o processo descrito nos versos 9 e 10 realmente forma uma série. Em um caso está a criação da matéria informe da terra; no outro caso está a evolução gradual da forma da terra, suas montanhas e mares e sua vida animal e vegetal, com a porção exata de mantimentos para cada um.
Como expliquei, eu não considero essa explicação aceitável. Mas, apreciaria uma apresentação mais clara baseada no texto, sendo que ninguém pode dar uma.
Yusuf Ali registra que esta é A opinião dos comentaristas. Para a maioria dos comentaristas nem parece existir uma possibilidade para a segunda tentativa dada abaixo por alguns Muçulmanos para reconciliar o número de dias de oito para seis:
Aqui os comentaristas geralmente se confrontam com esta questão: se admitem que a criação da terra tomou dois dias e que o assentamento das montanhas e o estabelecimento de provisões e bênçãos tomou quatro dias, e a criação dos céus tomou outros dois dias, o número total seria de oito dias, ao passo que em diversos lugares do Alcorão Allah diz que a criação da terra e dos céus levou 6 dias. (Por exemplo, veja 7:54, 10:3, 11:7 e 25:59). Esta questão pode ser facilmente respondida da seguinte maneira:
Os dois dias de criação da terra não estão separados dos dois dias nos quais o universo como um todo foi criado. Se considerarmos os versos seguintes, vemos que neles a criação de tanto a terra quanto o céu são mencionados juntos, e, assim, fica estabelecido que Allah fez os sete céus em dois dias. Estes sete céus implicam o universo todo, uma parte do qual é, também, nossa terra. Assim, igualmente às outras estrelas sem fim e planetas do universo, essa terra tomou a forma de um globo único dentro de dois dias, e, Allah começou a prepará-la para criaturas vivas, e em quatro dias criou nela todas as provisões, as quais foram mencionadas nos versos acima.
É interessante notar que esta segunda teoria está nitidamente contraditória à (comum) dada por Yusuf Ali, que inclui os primeiros dois dias no segundo período de quatro dias.
Por que Yusuf Ali não achou que essa explicação merecia ser mencionada? Em outras passagens difíceis ele dá diversas opções de como diferentes estudiosos as explicam. O fato real é que ali existem explicações contraditória que desafiam a observação acima de que o problema poderia ser “facilmente” explicado dessa forma.
Como for. Acima eu expressei minhas dúvidas sobre a validade da “harmonização” de Yusuf Ali, então, deixe-me explicar porque essa explicação também é pouco satisfatória por diversas razoes:
O início do verso 11 é traduzido por Pickthall [principal versão americana do Alcorão] e Shakir por “ENTÃO retornou para o céu...” [a versão de NASR, em português, apresenta “EM SEGUIDA, dirigiu-se ao céu”], o que certamente indica uma seqüência temporal. Veja o exemplo de Pickthal [e a de NASR].

Então, Ele retornou para o céu, que era apenas fumaça naquele tempo. Ele disse para o céu e para a terra: ‘Vinde vós juntos, desejando ou não.’ – Pickthall
Em seguida, dirigiu-se ao céu, enquanto fumo, e disse-lhe à terra: ‘Vinde ambos, de bom ou de mau grado.’ – NASR

O texto diz especificamente que o céu era apenas fumaça “naquele tempo” (como a tradução diz) ou “quando ELE era fumaça” ou “quando ELE era vapor” (como outras versões traduzem) [i.e. nada de estrelas e planetas formados juntos, além da fumaça], o que é apresentado em contraste com a terra cuja formação já havia sido finalizada como fora descrito imediatamente nos versos precedentes. Se tudo no céu era fumaça e a formação da terra e dos céus é uma ação paralela, então haveria alguma coisa como “Ele retornou ao céu e à terra, quando ELES eram apenas fumaça...” mas, não é assim, a fase de fumaça se refere explicitamente somente ao céu enquanto a terra é dita como uma entidade já “terminada” quando Deus chama o céu e a terra juntos. A terra já estava terminada, somente o firmamento ou “teto” faltava ser finalizado, e “tudo ser colocado junto”.
Essa não é uma interpretação satisfatória?
Que a terra foi terminada antes de Deus se voltar para a criação do céu é confirmado na Sura 2:29, a qual diz,

Ele é quem criou para vós tudo o que há na terra; em seguida, voltou-Se para o céu e, dele , formou sete céus.

Este verso torna novamente claro que tudo o que foi criado na terra foi criado ANTES de Deus passar a criar os sete céus. Deus não pode criar coisas NA terra antes da própria terra existir. O Alcorão explicitamente nega a segunda teorias das acima apresentadas que tentam solucionar o problema identificando o primeiro e os dois últimos dias.
Tendo recebido uma resposta de um Muçulmano de que a palavra ‘thumma’, traduzidad acima por ‘então’ ou ‘em seguida’ também pode significar ‘e’ e que não necessariamente indica ‘após’ um tempo, quero responder que neste verso o significado está tão claro quanto cristal de que se trata de uma seqüência. O verso não depende da palavra ‘em seguida’, mas o verso por si próprio indica a seqüência de se fazer uma coisa e então DIRIGIR-SE [TORNAR PARA] a próxima. Se diversas tarefas estivessem sendo realizadas em paralelo, então não haveria uma “direção” de uma coisa para a outra.
Ademais, é necessário se encontrar um verso no Alcorão onde “thumma” significa um “paralelo” e não uma “seqüência”.
A existência de explicações contraditórias é sempre resultante de confusão e o sinal de que nenhuma teoria realmente se encaixa com a idéia. Se uma explicação realmente fizesse sentido, então todas as outras teriam sido abandonadas há muito tempo. Este não é o caso. O problema continua e não há uma solução que realmente capta os feitos do texto tal como é apresentado para uma interpretação coerente.
Confesso que não sou hábil para ler o Árabe e eu investiguei esta passagem a partir de traduções em inglês [e português] apenas, mas, os tradutores são experts no idioma Árabe e geralmente podem confiar neles. Eu convido a qualquer um que possa dar uma exposição baseada no texto Árabe que faça sentido para solucionar o problema. Mas, lendo diversas traduções que concordar com os feitos básicos no texto, sinto que minha interpretação está coerente como texto, e tudo estaria tudo bem se este verso fosse o único no Alcorão sobre a criação dos céus e da terra, mas, já que outras passagens no Alcorão dizem que foram seis e não oito dias, consequentemente este é um pro

Mas, este cenário também apresenta problemas científicos. Se quisermos acreditar que a terra foi adornada e preenchida com vida antes da ‘fumaça’ ter sido ajuntada para a formação dos céus [estrelas, planetas], então, isso se contradiz muito claramente com as teorias científicas (atuais) da astronomia.

Alem do mais, há uma hadice de Sahih Muslim, capítulo MCLV, O princípio da criação e a criação de Adão, Hadice Nº 6707.

Abu Huraira relatou que o Mensageiro de Allah (que a paz seja sobre ele) segurou minhas mãos e disse: Allah, o Exaltado e Glorioso, criou o barro no sábado e criou as montanhas no domingo e criou as árvores na segunda-feira e criou as coisas impondo labuta na terça-feira, e criou luz na quarta-feira e produziu animais para se espalharem na quinta-feira e criou Adão (que a paz seja sobre ele) após ‘Asr na sexta-feira, a última criação na última hora de sexta-feira, ie. Entre a tarde e a noite.

Se sábado a sexta são sete dias. Agora não se diz que estes foram todos os dias de criação, mas que foram ao menos sete dias, talvez oito ou mais. Mas, está em desacordo sem uma reconciliação com o relato da criação de seis dias. E dentro desses sete dias, Allá não havia feito nada no céu ainda.
Sunan Abu Dawud, Livro 3, Número 1041 e 1042 também menciona a criação de Adão na sexta-feira. Ela não bate com a interpretação de dias como “longo períodos”. Uma sexta-feira não é mais longa que um dia em si e nem maior que os outros dias da semana.

Na Tafsir Al-Jalalyn encontramos esta explicação:

41:9     2 dias significam domingo e segunda-feira
41:10   4 dias significam terça-feira e quarta-feira

[quarto dia ao invés de quatro dias? Ele afirma como se fossem dois dias, claramente com o intuito de evitar a dificuldade apontada cima. Ele provavelmente quis dizer que Deus criou “a terra E o que havia nela” em 4 dias, exatamente como Yusuf Ali relata que é uma opinião geral dos comentaristas.]

41:12   2 dias significando quinta-feira e sexta-feira.

Em qualquer caso, vemos que ambas as citações acima da hadice, bem como esta tafsir, tomam os dias como literais, contradizendo os “Muçulmanos modernos” que preferem interpretar esses dias como “períodos” ou “épocas”. Mas, obviamente o próprio Mohamed, bem como os antigos comentaristas, não enxergam dessa forma.
A tafsir em contradição com a hadice parece confessar que o sábado é o shabath [dia de descanso], tal como na Bíblia.

Pós-escrito

Há um problema adicional nesta passagem, um problema gramáticas. De acordo com o recente estudioso Iraniano, Ali Dashti, há uma erro concernente à gramática de 41:11. Dashi escreveu:

... Céu e terra são substantivos femininos no Árabe, e o verbo ‘disse’ no verso dez [nota: em muitas versões pode estar no verso onze] está no feminino e dual; mas, o adjetivo “desejosamente” [de bom grado] no fim do verso é masculino e plural, e, deste modo, diverge das regras da gramática Árabe. (Dashi, 23 years: A study of the Prophetic Career of Mohammad, traduzido do persa para o inglês por F.R.C. Bagley [Mazda Publishers, Costa Mesa, CA 1994], p. 163; ênfases em negrito são minhas).

O Árabe, tal como o Português, possui formas singulares e plurais de versos e adjetivos. Também tem uma forma dual que é usada quando o referido consiste em duas identidades. O plural é usando quando três ou mais identidades estão em vista. Verbos e adjetivos também assumem as formas masculinas e femininas como um modo de correspondência ou para identificar o gênero do sujeito ou objeto dentro de uma frase.
Qualquer um lendo isso pode claramente ver os consideráveis erros gramáticas da frase, confundindo o gênero e os números. É exatamente isso que encontramos na Sura 41:11.

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