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Nunca antes na história deste país um presidente chegou ao fim de seu mandato saboreando índices tão altos de popularidade quanto Luiz Inácio Lula da Silva. Ao descer a rampa do Palácio do Planalto, no dia 1º de janeiro último, o chefe de Estado que governou o país por oito anos tinha quase 90% de avaliação positiva – contudo, o legado que deixa para segmento importante da sociedade brasileira não é dos melhores.
Os anos Lula foram marcados por uma série de medidas consideradas restritivas aos evangélicos, a começar pelo mal explicado Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil. Firmado na surdina com o Vaticano em 2008, sem discussão prévia no Congresso, o documento conferiu ao catolicismo privilégios como extensão de isenções fiscais e verbas públicas para manutenção de bens católicos considerados de patrimônio artístico ou cultural. A grita foi generalizada e a solução foi a costura da Lei Geral das Religiões, aprovada no Parlamento no ano seguinte, estendendo os mesmos benefícios a todos os credos.
A questão dos direitos individuais também foi muito discutida no período histórico já conhecido como os “anos Lula”. Depois de tentar, em 2004, expulsar do país o jornalista americano Larry Rohter, correspondente do New York Times no Brasil que escreveu que o presidente brasileiro “bebia demais”, Lula enviou ao Congresso diversas propostas para a criação de conselhos de imprensa – na prática, órgãos que teriam como objetivo a fiscalização da produção jornalística, no que muitos anunciaram como uma volta da censura.
Os projetos acabaram engavetados, mas o governo jogou seu peso politico em outras frentes. Uma delas foi a discussão sobre a legalização do aborto e a liberação sexual, estimuladas por diversas campanhas do Ministério da Saúde. Duramente combatido pelo papa Bento XVI durante sua visita ao país, em 2007, o aborto virou tema central da campanha presidencial do ano passado, na qual o viés religioso foi explorado à exaustão pelos dois principais candidatos, a vitoriosa Dilma Rousseff e o tucano José Serra. Isso, depois de a única evangélica na disputa, Marina Silva (PV) ter tido um desempenho surpreendente nas urnas, levando a eleição para um antes improvável 2º turno.
Militância gay
Mas foi em relação a temas mais agudos para a Igreja Evangélica e os crentes que o período de Lula na Presidência foi mais marcante. O polêmico Plano Nacional dos Direitos Humanos (PNDH3), que além de regulamentar o conjunto de normas que preveem a flexibilização das leis que regulamentam o aborto no país, fortalece a laicidade do Estado – inclusive com a supressão de símbolos religiosos em espaços públicos – foi apresentado à sociedade como “um grande avanço”. Por outro lado, o Projeto de Lei Complementar (PLC) 122/06, da ex-deputada Iara Bernardi, do PT, mesmo partido do ex-presidente, visa a tipificar como crime de homofobia diversas atitudes consideradas discriminatórias contra os homossexuais.
Os evangélicos temem que, se aprovado, o PLC 122/06 poderia criar uma “ditadura gay” no país, restringindo a liberdade de expressão das igrejas sobre o assunto, até porque a causa gay ganhou muita força durante os dois mandatos de Lula. O governo lançou o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos da Comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) e criou o Conselho Nacional Combate à Discriminação. A Justiça também passou a deferir, de maneira sistemática, ações que versam sobre uniões homoafetivas, adoção de crianças por parceiros gays e concessão de pensão e outros benefícios entre eles. Nos últimos anos, quase 800 processos neste sentido foram deferidos favoravelmente aos autores.
Os evangélicos e os piores momentos de 2010
34% temem as ameaças à liberdade de culto embutidas no PLC 122/06
28% consideram que a briga entre o pastor Silas Malafaia e o bispo Edir Macedo durante o processo eleitoral comprometeu os crentes
22,5% reclamam da manipulação do voto evangélico na campanha presidencial
Fonte: Cristianismo Hoje
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