O padre Barnabé mostra a cozinha da igreja toda revirada (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
De batina branca, chapéu de palha e ar de bravo, o padre Barnabé Cunha desceu rapidamente uma das ladeiras do conjunto de favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, para fazer uma denúncia: “quebraram tudo lá dentro. Foi a segunda vez desde domingo”, afirmou ele nesta terça-feira (30), referindo-se à Capela São João, que fica no Largo do Coqueiro. Questionado se tinha sido a polícia, não hesitou: “foi sim.”O G1 procurou a assessoria de imprensa do comandante-geral da Polícia Militar e o porta voz da corporação, mas não obteve retorno das ligações para que comentassem a denúncia. Pela manhã, o governador Sérgio Cabral Filho disse que "não vai tolerar abusos" por parte de maus policiais e que todos, quando descobertos, serão punidos até com expulsão.
De acordo com o padre, que tem 48 anos, cinco deles vividos à frente da igrejinha, os policiais usaram a capela “como ponto de observação”, pois fica em uma parte alta da comunidade.
Barnabé contou que a primeira invasão foi domingo, dia em que a polícia invadiu o morro, e a segunda, teria ocorrido na manhã desta terça.
Barnabé mostra a fechadura da porta quebrada
(Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
A zeladora da capela chorou ao lembrar que, nessa suposta segunda invasão, ela foi agredida. “Jogaram água gelada em mim. Acharam que eu era traficante. Ajudei a construir essa igreja. Quero mostrar a eles que aqui mora gente e não bicho”, reclamou Ivanilda da Silva de Oliveira, de 57 anos.(Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
A fachada do pequeno prédio de dois andares tem marcas de tiro, mas não se sabe se elas são recentes.
Serviços
Barnabé denunciou seu caso diretamente à Defensoria Pública do Rio, que montou um “escritório” na entrada do Alemão para “garantir a cidadania a todos”, disse o defensor Denis Sampaio, coordenador das ações no local. Segundo um balanço da Defensoria, entre 15h e 18h, foram realizados 30 atendimentos. Um deles foi o do padre. “Ele falou que os policiais entraram na igreja de forma truculenta e uma senhora disse que jogaram água nela”, contou Sampaio.
O defensor Leonardo Guida informou que apenas algumas das denúncias dos moradores do Alemão têm a ver com a operação. “Tem comerciante que precisa sair com dinheiro para fazer pagamentos e não consegue passar pelo bloqueio.” Nas ruas de acesso ao Alemão, policiais e militares do Exército revistam homens e mulheres.
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