quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Voluntários se mobilizam para combater onda de suicídios na Grécia

Entidade que dá apoio psicológico a suicidas está recebendo quatro vezes mais chamadas à medida que piora crise econômica no país.

Dias atrás, cedo pela manhã, George Barcouris sentou-se em frente ao computador em seu apartamento em Atenas, na Grécia, e digitou a palavra "suicídio" no site de buscas Google.

Aos 60 anos de idade, sem trabalho, ele estava certo de que jamais conseguiria um novo emprego em um país onde o índice de desemprego chegou a 17% e continua crescendo.

Sem a ajuda de parentes ou amigos, seria apenas uma questão de tempo até que o proprietário do apartamento o despejasse por causa do atraso no aluguel - imaginava Barcouris.

"Era pior durante a noite", disse.

"Comecei a pensar, que futuro eu tenho? Seria melhor morrer durante o sono. Mas nunca aconteceu, então comecei a pensar em me matar".

Foi depois de uma noite como essa que ele decidiu procurar na internet por uma maneira fácil de dar fim à sua vida.

No entanto, o primeiro resultado que a busca lhe trouxe foi o número da entidade grega de prevenção ao suicídio Klimaka.

Voluntários da ONG dizem estar respondendo quatro vezes mais chamadas desde que a crise começou, com o maior aumento tendo sido registrado neste ano.

Muitos dos que procuram a entidade citam a insegurança econômica como a principal causa de sua aflição.

Estigma

No mês passado, o ministro da Saúde da Grécia, Andreas Loverdos, disse que o número de suicídios no país pode ter subido 40% nos primeiros meses de 2011.

"Na realidade, é bem provável que os índices sejam bem mais altos", disse a psicóloga Eleni Bekiari, que trabalha para Klimaka.

Ela explicou que o estigma em torno do suicídio na Grécia é fortíssimo e que o problema é acentuado pela recusa da Igreja Ortodoxa grega em realizar cerimônias fúnebres para os suicidas.

"Muitos dos que nos telefonam dizem que planejam dirigir seus carros do topo de um penhasco ou contra uma rocha para que tudo pareça um acidente. Dessa forma, suas famílias e a comunidade nunca saberão que foi suicídio", disse Bakiari.

Para outros, a pressão é grande demais e sua angústia mental torna-se pública.

Como no caso do empresário Apostolos Polyzonis, da cidade de Thessaloniki, que na semana passada ateou fogo a si mesmo em frente a uma agência bancária.

O banco pediu de volta o empréstimo que havia dado à sua empresa, deixando-o falido e sem um centavo.

Incapaz de continuar pagando pelo curso universitário da filha e temendo que sua casa fosse confiscada, Polyzonis foi ao banco implorar por um empréstimo.

"Quando se recusaram a me receber senti um desespero tão grande que perdi o controle", disse o empresário.

Ele parou em frente ao banco, jogou gasolina sobre seu corpo e ateou fogo a si mesmo.

Polyzonis foi levado ao hospital e recebeu tratamento para queimaduras, mas as piores cicatrizes, ele diz, estão do lado de dentro.

"Meu filho acaba de completar o serviço militar e não consegue encontrar um emprego, minha mulher e eu estamos desempregados e com frequência passamos necessidade".

"Nós raramente saímos de casa, (isso) destruiu nosso respeito próprio".

"Mas não estou sozinho, milhões de gregos estão sofrendo por que alguns milhares de ladrões saquearam o país com sua corrupção", disse Polyzonis.

Cartas Suicidas
Não são apenas os desempregados que estão sofrendo, empresas de sucesso também estão sentindo o impacto da crise econômica.

Veja o exemplo da empresa Vitamin Ad, uma bem sucedida agência publicitária com sede em Atenas, que até recentemente estava discutindo uma possível fusão com uma das maiores produtoras da Grécia.

O acordo foi abandonado quando, em meados de setembro, o diretor da empresa, Michael Kriadis, se atirou da varanda do seu escritório, em um quarto andar, deixando mensagens para a família e empregados.

Acredita-se que, no momento em que Kriadis morreu, Vitamin Ad tinha dívidas de cerca de 400 mil euros (US$ 976 mil). Os clientes da empresa, no entanto, deviam à agência quase 5 milhões de euros (US$ 12 milhões).

"Michael nunca fazia empréstimos pessoais, sempre pagava seus impostos em dia", disse seu amigo, o jornalista Costas Cavathas.

"Ultimamente, homens de negócios estão se sentindo realmente desesperados. Quatro em Creta, outro em Kalamata e um outro em Esparta cometeram suicídio porque não podiam pagar suas dívidas, todo mundo está no limite", disse o jornalista.

A pressão sobre os que gerenciam empresas na Grécia é enorme porque mesmo que as empresas sejam bem-sucedidas, meses podem se passar sem que haja qualquer entrada de receita.

Nos últimos anos, foi sendo criado um sistema pelo qual pagamentos são adiados com o uso de cheques pré-datados.

Basta que o número de cheques pré-datados devolvidos por falta de fundos ultrapasse um certo limite para que uma empresa se veja incapaz de cobrir sua folha de pagamentos ou pagar seus empréstimos.

Exclusão Social
"A Grécia costumava ter o menor índice de suicídios da Europa", disse Bakiari, da ONG de prevenção ao suicídio Klimaka.

"O peso da crise é simplesmente maior do que a capacidade desta sociedade de sustentá-lo, o que esse país realmente precisa é de um plano nacional para a prevenção de suicídios com mais serviços do que temos no momento".

Mas o governo grego, com o cinto apertado, não ofereceu qualquer ajuda financeira adicional à Klimaka. E apesar do aumento na demanda por serviços desse tipo, há poucas chances de que novas políticas de saúde sejam implementadas em um período de cortes tão drásticos.

No escritório da Klimaka, George Barcouris recebeu uma proposta que salvou sua vida: ele foi convidado a trabalhar voluntariamente na estação de rádio da entidade, cujas transmissões abordam temas como depressão e exclusão social.

A Klimaka também prometeu ajudá-lo a resolver seu problema de moradia.

Ele sorri pela primeira vez ao dizer que agora tem uma razão para sair de casa pela manhã. E conta que agora se sente uma outra pessoa: útil, um membro da sociedade novamente.

"Sei que existem milhares na Grécia passando por experiências semelhantes à minha e quero dizer que nossos problemas são sociais, não mentais", diz.

Fonte: BBC Brasil

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