quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A nova máquina de fazer dinheiro chama-se Ronaldinho

Ronaldinho ao lado da presidente do Flamengo Patricia Amorim após ser apresentado oficialmente como jogador do clube cariocaRonaldinho ao lado da presidente do Flamengo Patricia Amorim após ser apresentado oficialmente como jogador do clube carioca

"O Ronaldinho é a maior contratação do futebol brasileiro de todos os tempos", afirma o técnico Vanderlei Luxemburgo. "Flamengo já vende a camisa 10 de Rondaldinho por R$ 159,90".
Tristes notícias para o esporte brasileiro. Quando um clube tão popular como o Flamengo necessita dessa milionária estratégia de marketing para fazer "caixa", só podemos dizer: "Pobre esporte brasileiro!"
Enquanto isso, atletas como a velocista Rose continuam acordando diariamente às cinco da manhã para treinar, sonhando com uma vaga na delegação brasileira das Olimpíadas de Londres.
Enquanto isso, a maratonista Simone Alves da Silva, vice-campeã da São Silvestre, é chamada de "pinelzinha", "doidinha" e descrita como "altamente perturbada" pelo seu técnico, Adauto Domingues.
Simone, ex-animadora de circo e ex-empregada doméstica, que só almejava chegar entre as cinco primeiras colocadas, foi a verdadeira vitoriosa. Dedicou a conquista à mãe, sua grande incentivadora.
Estas mulheres contam com patrocínios para poder se dedicar ao esporte. Suas vidas ficam muito restritas, pois deixam de ser "mulheres comuns". O esporte torna-se a razão de sua vida Mas, se não mostrarem resultados, o "salário" é cortado. É preciso apresentar medalhas - já que a vitória nem sempre significa premiação em dinheiro -para manter o esporte como meio de vida.
Daí, o fantasma do doping. O fantasma que persegue particularmente os adeptos do atletismo. Tanto as mulheres como os homens. Simone havia sido suspensa por três meses pelo uso de uma "substância específica". A alegria contagiante da fundista pela conquista de um lugar no pódio fez com que a mídia "esquecesse" o fato. Afinal, sua glória resgatava a sofrida mulher brasileira que no dia seguinte veria uma outra mulher vitoriosa subir ao pódio, ou melhor, a rampa.
A presidente Dilma Rousseff prometeu abrir as portas para muitas outras mulheres. Na política. Mas não deve se esquecer de outras áreas, principalmente as artes e os esportes, portas de entrada para uma vida digna não só de muitas mulheres como de muitos homens brasileiros. Ronaldinho, assim como seu homônimo que está no Corinthians, volta como herói. Mas, como Simone vai ser lembrada se não conquistar mais pódios? Como "pinelzinha"?
O "salário" do Ronaldinho será cortado se ele não apresentar resultados? Será que a "da Silva" (Simone), assim como a "dos Santos" (Daiane) e os Ronaldos, têm de mostrar resultados no exterior para ser lembrada? Aliás, a própria Daiane, que estava afastada das competições por cirurgias no joelho, foi flagrada no teste antidoping. Alegou ignorar que a substância utilizada em tratamento estético (gordura localizada) era considerada ilícita no esporte. Afinal, as esportistas não são consideradas mulheres comuns.
Assim como Dilma Rousseff, em seu posto presidencial, também não é uma mulher comum. E como presidente, deve rever o sistema de patrocínios. Para que as mulheres e também os homens que sempre foram pobres não tenham de recorrer ao doping para apresentar resultados que lhes permitam a sobrevivência no esporte. Para que, após as glórias das vitórias, não precisem estender as mãos para terem vidas dignas como cidadãos comuns.


Taeco Toma Carignato é psicóloga, psicanalista e jornalista. Doutora em psicologia social (PUC-SP) e pós-doutora em psicologia clínica (USP), é pesquisadora do Laboratório Psicanálise e Sociedade (USP) e do Núcleo de Pesquisa: Violência e Sujeito (PUC-SP).
 
Fonte . Terra 

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