quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Em seis anos, percepção de que a corrupção afeta as instituições religiosas quase dobrou

Um dado que chama atenção numa pesquisa divulgada hoje, apontando o nível de percepção da corrupção em todo o mundo, diz respeito às instituições religiosas.

Em 2004, 28% dos entrevistados disse achar que a corrupção afetava as instituições religiosas. Em 2010, o número subiu para 58%.

Para Alejandro Salas, diretor da Transparência Brasil nas Américas, o resultado “está aberto a interpretações”. "Eu penso que os escândalos que atingiram a religião, especialmente a Igreja Católica nos últimos anos, por exemplo, os abusos de menores por parte de membros da Igreja, o que não é a corrupção como conhecemos, digo em relação a subornos, mas diz respeito a uma má conduta”, disse Salas.

Segundo o diretor, a pesquisa não aborda os motivos que levam as pessoas a ter uma determinada opinião, mas ele acredita que outro fator importante para esse aumento é a associação, considerada por ele equivocada, de religião e terrorismo. “Provavelmente também, apesar de não ter elementos científicos, acredito que os acontecimentos envolvendo o Islã também estão relacionados a esse aumento", afirmou Salas.

Na pesquisa geral divulgada hoje, 50% dos entrevistados afirmaram que associam a corrupção à religião. No Brasil, a religião é a penúltima instituição à qual os brasileiros associam a corrupção. De 1 a 5, considerando 5 o nível máximo de corrupção, a nota dada às instituições religiosas foi 2,5, atrás apenas do Exército, com 2,4.

O Relatório Global de Corrupção 2010 entrevistou mais de 91.000 pessoas em 86 países e territórios, entre 1º de junho e 30 de setembro de 2010.

Para 64% dos brasileiros, corrupção aumentou no país; apenas 4% dizem ter praticado suborno

O Brasil é um dos 23 países onde menos de 6% da população diz já ter praticado pequenos subornos para instituições e serviços, de saúde e educação a autoridades fiscais e outras instituições. Isso é o que revela o relatório mundial sobre corrupção divulgado nesta quinta-feira (9) pela Transparência Internacional (TI). Ainda segundo o levantamento, 64% dos brasileiros acham que a corrupção aumentou nos últimos três anos.

Segundo o levantamento, em todo o mundo, uma em cada quatro pessoas afirmaram que pagaram propina nos últimos 12 meses, a maioria (29%) para a polícia. A maior parte dos “subornadores” tem menos de 30 anos (35%). Os principais motivos do pagamento de propina são “para evitar problemas com autoridades” e “agilizar os processos”.

Nesse quesito o Brasil ocupa uma posição confortável ao lado de países como Austrália, Dinamarca, Finlândia, Geórgia, Nova Zelândia, Noruega, entre outros.

Entre os brasileiros, apenas 4% “confessaram” o suborno, o menor índice também entre os países da América Latina. O número causa certa surpresa, ainda mais considerando o famoso “jeitinho brasileiro” de resolver determinadas situações.

“Algumas coisas são inconfessáveis”, diz o professor de Filosofia e Ética da Unicamp, Roberto Romano. Para ele, a surpresa do número vem de uma diferença entre a imagem ideal que temos na consciência, de como as coisas devem ser, e a imagem na prática. “Não deve ser tão baixo assim, mas também não somos os piores do mundo”, comenta o professor.

"Para mim é um resultado muito bom", diz Alejandro Salas, diretor da TI das Américas. Ele afirma que não se surpreendeu com o resultado. A pergunta foi restritra a nove setores específicos, entre eles educação, Judiciário, saúde e serviço público, e segundo Salas, só quem dizia ter usado um dos serviços é que respondia se tinha ou não pagado propina.

Para 64% dos brasileiros, corrupção aumentou

A maioria dos brasileiros entrevistados pela pesquisa disse que nos últimos três anos a corrupção aumentou no país. Na percepção dos brasileiros, os partidos políticos e, em seguida, o Legislativo, são os mais corruptos. De 1 a 5, considerando 5 o nível máximo de corrupção, os brasileiros deram nota 4,1 para os partidos e o Legislativo, seguidos da polícia (3,8), Judiciário (3,3), serviço público (3,1) e setor privado (3). O órgão menos relacionado à corrupção é o Exército, que recebeu nota 2,4.

Para Roberto Romano, “a própria percepção de que a política é a área mais corrupta, já é um problema”. “Pensar isso é uma falsidade grande. Você tem um sistema de corrupção implantado também na economia, nas instituições religiosas, veja o exemplo da pedofilia”, diz o professor.

Segundo Romano, a impressão de que a política concentra a maior parte da corrupção deve-se à maior publicidade dos candidatos na mídia e de figuras como o premiê italiano Silvio Berlusconi, dono de diversos meios de comunicação na Itália e cujo nome aparece constantemente envolvido em polêmicas.

Sobre o combate à corrupção, 54% dos brasileiros consideram as ações do governo ineficazes. Apenas para 29% as ações são assertivas, e 9% consideram indiferentes.

Romano alerta que no Brasil, órgãos como Ministério Público e organizações como a Transparência Brasil, e até mesmo a CGU (Controladoria Geral da União), esta última, dentro de suas possibilidades, tem boas atuações no combate à corrupção. Ele cita também o movimento Ficha Limpa, que reuniu a sociedade e órgãos públicos, como um bom exemplo de mobilização para combater a corrupção.

“A corrupção é um sistema. Uma vez que deixamos o paraíso, não há sociedade que não tenha esse problema”, diz Romano.

O Relatório Global de Corrupção 2010 entrevistou mais de 91.000 pessoas em 86 países e territórios, entre 1º de junho e 30 de setembro de 2010.

Fonte: UOL

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