sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Biscoito de terra alimenta famintos no Haiti

A realidade no Haiti é uma tijolada. Ao pé da letra: a população do país faminto, há séculos, come terra. Culpa-se a inflação nos preços de alimentos e, por tabela, até a superprodução de biocombustíveis. Cana e soja estão ocupando o mundo, os espaços que antes pertenciam ao arroz e ao feijão, diz Jean Ziegler, o relator das Nações Unidas para o Direito à Alimentação.
Mas não há novidades na gastronomia de horrores caribenha. O cardápio é escrito pela miséria absoluta do Haiti, que já era a nação mais pobre das Américas muito antes do devastador terremoto de 12 de janeiro e da epidemia de cólera que se abate agora sobre o país.
No Haiti, a argila amarela da cidade central de Hinche faz parte do menu diário. A situação da desnutrição atingiu níveis alarmantes nos últimos meses, quando os preços dos gêneros alimentícios aumentaram 80%. Só recentemente, porém, o público internacional notou as bolachas de terra vendidas nos mercados do país.
Há anos, quem anda pelo terreiro aos pés do Fort Dimanche – a antiga prisão juvenil e atual favela – encontra o mercado e a fábrica das bolachas de terra. Mulheres agachadas na rua estendem discos de argamassa em grandes placas de zinco.
A receita desse biscoito grosso para as massas é simples: argila, água e sal. Forma-se uma pasta amarela, moldada em pequenos círculos. O cozimento fica por conta do sol infernal: em pouco mais de uma hora, o produto final está pronto para a venda.
No ano de 1994, durante a invasão militar americana que restaurou ao poder o presidente exilado Jean-Bertrand Aristide, a bolacha custava pouco mais de R$ 0,03. Naquela época, só os cães e ratos estavam gordos: devoravam os cadáveres das pessoas mortas pelas gangues defensoras da junta militar que comandou o país.
Em dezembro passado, o quitute de barro subiu para R$ 0,06, aproximadamente. Hoje a unidade está R$ 0,08, graças em parte ao terremoto de janeiro, segundo disse ao R7 a assistente social da ONU (Organização das Nações Unidas) Marie Mendel.
- Aumentou o preço da terra. Um latão está custando US$ 1,50 [R$ 2,57].
Biscoito é mais barato do que o arroz
Comparado com os preços de outros alimentos – dois copos de arroz a R$ 1,37, por exemplo -, o biscoito de terra é barato. Segundo Marrie, “carne, nem pensar”.
- As poucas chances de se comer carne vinham das capturas de cães e pássaros. Mas até eles estão sumidos. Os ratos proliferam, mas são mais difíceis de agarrar. E um rato adulto chega a US$ 1 [R$ 1,71].
Durante a invasão americana de 1994, alguns repórteres que cobriam as ações participaram de uma sessão de degustação do biscoito de barro. Concordaram com um jornalista americano que, com humor negro, deu o veredicto.
- Tem um gosto de terra, com pitadas de gordura.
Notava-se também a secura imediata de toda a umidade da boca, deixando quem comesse esse quitute desesperadamente sedento. Os goles d’água que ajudam a empurrar a comida reconstituem a consistência original da argamassa. O resultado é um bocado de lama no estômago.

Crianças que comem biscoitos de terra


Ao andar pelas ruas de Porto Principe pude perceber que a fome é um dos mais graves problemas vivenciados pelos haitianos. Se não bastasse a destruição da cidade, o desemprego e a miséria, falta comida para a esmagadora maioria da população. A consequência direta disso é que um número impressionante de pessoas, dentre estas, milhares de crianças, são obrigadas a se alimentarem com biscoitos feitos de terra.
Na parte baixa da capital Porto Príncipe, mulheres com vestidos velhos esparramam sobre os lençóis porções de uma massa marrom. Com a colher, um movimento do punho ajuda a modelar um biscoito rústico como uma pequena torta – chamada de tê na língua creoulo. É feito de terra, água, sal e um pouco de manteiga. Comida vendida por quatro gourdes haitianos (US$ 0,02) a pessoas mais pobres, que, muitas vezes, não têm opção para comer.Um repórter alemão, da revista Der Spiegel, colheu o seguinte depoimento de uma mulher, “Os biscoitos de terra são meu único alimento. Espero algum dia ter comida de verdade para dar aos meus sete filhos”. O barro é vendido aos pobres, misturado a uma porção de gordura, e tem “alimentado” milhares de pessoas no Haiti, onde uma porção de arroz virou luxo.
Durante os dias que lá estive era comum ouvir das crianças o seguinte pedido: Por acaso o senhor tem um biscoito para eu comer? Duro isso não é verdade?
Caro leitor, a miséria é uma afronta ao Criador. O Todo-poderoso não criou o ser humano para comer biscoitos de terra. Ouvir noticias como esta deveriam no mínimo nos fazer ruborizar de vergonha.
Pois é, através de pequenas contribuições poderemos ajudar um número incontável de pessoas que vivem a vida na mais absoluta miséria. Que tal ser um parceiro do Haiti? Que tal ajudar a igreja sofredora?

 

 Fonte: R7/GRITOS DE ALERTA

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