Sexo é a coisa mais esquisita que alguém pode praticar pela internet? Só pode ser dessa opinião quem não conhece o Macumba Online. “Tudo o que você conseguiria fazer num terreiro, na tela do seu computador”, anuncia o site.
Com 2 milhões de acessos em pouco mais de dois anos, o endereço oferece mandingas para qualquer fim: desde fazer alguém passar no vestibular ou conseguir carteira de motorista até tornar-se “irresistível mesmo sendo feio”. No campo das maldades, a oferta é igualmente vasta: pode-se levar um desafeto a engordar, ser traído, perder os dentes ou desenvolver incontinência urinária. Para isso, basta cadastrar-se, escolher a macumba que se quer entre as 86 opções disponíveis, digitar o endereço eletrônico do malquisto (ou beneficiado) e, saravá, a mandinga está feita e anunciada ao mesmo tempo. O autor pode permanecer no anonimato, se quiser.
Os adolescentes são os principais usuários do serviço. Entre os “trabalhos” mais procurados estão os destinados a recuperar o(a) namorado(a), a emagrecer e a ganhar dinheiro. Macumba para favorecer ou prejudicar um time de futebol também são muito populares. “No ano passado, alguém fez um pedido para ajudar o Cruzeiro. O time derrotou o Atlético e o site explodiu”, conta o criador do Macumba Online, que pede para não ser identificado e garante nunca ter pisado em um terreiro (“Tenho medo”, diz). Ele afirma ter criado o endereço “por brincadeira”. Também “por brincadeira” o estudante carioca Pedro Souto Rodrigues, de 21 anos, diz ter encomendado três macumbas eletrônicas – uma para ser sorteado na loteria, outra para deixar o irmão com diarreia e uma terceira para conseguir “algo bom”. Por enquanto, nenhum de seus pedidos teve sucesso, e a única coisa que o estudante ganhou por frequentar o site foi um e-mail ameaçador. A mensagem dizia que, por causa do seu hábito de “chutar” macumbas alheias (um dos “serviços” oferecidos pelo Macumba Online), Pedro havia se tornado alvo de um despacho na vida real e, em consequência, teria “dias de agonia e sofrimento”. Ele diz que não ficou assustado com a ameaça, mas, na dúvida, resolveu escrever para o site para saber como se livrar da maldição.
O animismo não é o único território para além do mundo físico que a internet invadiu. O site Meu Santo é um sucesso entre os católicos. No ar há cinco anos, conquistou 2 milhões de usuários com a oferta da “promessa on-line”. O endereço lista os nomes de mais de 200 santas e santos católicos. O interessado escolhe um e dirige a ele o seu pedido (essa parte é grátis). Caso seja atendido, paga a promessa em “santinhos virtuais” – imagens acompanhadas de mensagens de agradecimento que o site se encarrega de produzir e distribuir mediante uma “doação” de 50 reais por parte do agraciado. O preço vale para cada lote de 1 000 e-mails enviados. O idealizador do negócio, o empresário paulistano Maurício Zanzini, de 51 anos, diz que não se trata de spams. Os e-mails são mandados apenas para pessoas cadastradas no banco de dados do Meu Santo, garante. Segundo ele, a ideia não é lucrar com o serviço, mas “divulgar a fé”. O dinheiro que ganha, Zanzini afirma usar para manter o provedor. “E o que sobra eu doo a instituições de caridade que cuidam de animais abandonados.”
A secretária Ivonete Maia dos Santos, de 35 anos, recorreu ao Meu Santo para realizar um sonho antigo, conhecer pessoalmente o cantor Daniel. Dois dias antes de ir a um show do sertanejo, ela entrou no site e fez o pedido a Santo Expedito, o das causas urgentes. Antes do espetáculo, conseguiu entrar no camarim do ídolo e ainda tirou várias fotos com ele. Agradecida, encomendou 1 000 santinhos virtuais ao Meu Santo. Diz que achou o método “mais cômodo”. “Se mandasse imprimir os folhetos na gráfica, não saberia como distribuí-los depois”, diz. Já o corretor de imóveis Artur Francisco Martinez, de 46 anos, tem argumento mais sustentável para justificar a opção pelo serviço. “O santinho virtual é ecologicamente correto. É uma forma de expressar a fé sem gastar papel”, diz. Ele usou o Meu Santo para agradecer o recebimento de um pacote extraviado pelo correio.
Perguntada se aprova o método, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não disse nem que sim nem que não. Por meio da assessoria de imprensa da entidade, o padre Carlos Gustavo Haas afirmou: “Cada pessoa é livre para manifestar os seus sentimentos religiosos. No entanto, do ponto de vista da Igreja Católica, é mais significativo expressar a fé cristã em gestos de solidariedade e em celebrações comunitárias”. E ele não se refere aqui a nenhuma comunidade do Orkut. (Fonte: Veja.com)
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