Ícones da música como Michael W.Smith, Amy Grant e Petra, nos anos 1980 seguiram a mesma linha de trabalho de Bono Vox, do U2, associando-se à luta pela justiça social.
Músicos, inclusive os cristãos, nem sempre são admirados por suas atitudes fora dos palcos. Entre as críticas mais frequentes, fala-se do estrelismo, da vaidade e da insensibilidade social que caracteriza a vida de muitos desses artistas – mas um grupo cada vez maior de cantores e compositores evangélicos norte-americanos têm contrariado o estereótipo e feito de sua fama a alavanca para ajudar a mudar a vida de muita gente. Eles seguem o exemplo de George Beverly Shea, conhecido por ser responsável pelas canções nas cruzadas do evangelista Billy Graham, que costumava cantar para arrecadar fundos para a missão Samaritan's Purse (“Bolsa do Samaritano”). Mais recentemente, ícones da música como Michael W.Smith, Amy Grant e Petra, que nos anos 1980 seguiram a mesma linha de trabalho de Bono Vox (foto), do U2, associando-se à luta pela justiça social. Por causa das parcerias firmadas com esses artistas, mais de um milhão de crianças recebem hoje apoio de entidades como a Compassion Internacional e da Visão Mundial. Só em 2008, artistas do segmento musical cristão foram responsáveis por 48% do suporte financeiro desses grupos. É a fama a serviço do bem.
Entretanto, esses músicos estão indo além da mera parceria à distância: eles se envolvem diretamente com as atividades de ajuda humanitária, levando seus admiradores junto. Os artistas têm se posicionado na linha de frente da luta contra a pobreza, o tráfico de pessoas, o combate à epidemia de Aids e outras mazelas oriundas da miséria. As atividades sociais lideradas por músicos sofreram uma mudança radical em dezembro de 2002, quando Bono viajou Nashville, nos Estados Unidos, em sua turnê pela conscientização dos problemas ligados à Aids. Durante a temporada, ele organizou o Nashville Summit, onde encontrou-se com cantores e bandas para estimulá-los a fazer algo. O vocalista irlandês fez uma enfática defesa do envolvimento da categoria na luta contra o HIV e no suporte às pessoas que sofrem com o vírus, principalmente na África.
A partir daí, artistas como Seven Curtis Chapman, Twila Paris, Imperials, Sara Groves, Jars of Clay e Third Day entraram de cabeça. Alguns fizeram bem mais do que apenas divulgar as causas; viajaram em missões para visitar e ajudar as crianças apoiadas por seus trabalhos. Outros criaram até organizações de assistência que carregassem a mesma visão. Tanto engajamento é sinal de maturidade espiritual, afirma o presidente da Associação de Música Gospel, John Styll: “O Evangelho nos leva a sair em direção aos necessitados e ajudá-los”, pontifica. O envolvimento com a pobreza nos países em desenvolvimento estava começando a influenciar até mesmo as composições. Seguindo a liderança de Bono, outros astros compuseram e gravaram canções denunciando a injustiça e pedindo paz. Muitas letras tinham também fortes relações com passagens bíblicas e críticas ao contraste entre a opulência do estilo de vida materialista e a proposta do Evangelho.
Palcos para o Reino
Scott Moreau, professor de missões no Wheaton College, entende que há boas razões pelas quais os cristãos deveriam se alegrar com o trabalho destes artistas. “Eles têm usado seus palcos de forma apropriada para o Reino de Deus. Estão mergulhados nessa visão, e isso é algo que nenhum missiólogo pode negar”, destaca. Moreau afirma que eles têm sido sábios ao evitar o campo minado das missões de curto prazo, que podem criar uma dependência desnecessária, além de prejudicar as iniciativas de trabalho local. De fato, alcançar sustentabilidade é alvo importante nas causas humanitárias. Steven Garber, diretor do Washington Institute for Faith, Vocation and Culture, tem trabalhado em parceria com alguns artistas, inclusive Bono e a banda Jars of Clay. Para ele, a crença em Deus é o maior e mais forte motivo que conduz as pessoas a tais ações. “Existem consequências da fé, o que faz com que um cristão tenha razões suficientes para ir ao encontro do próximo”, justifica. “A ligação entre a música e as causas humanitárias tem sido aprimorada e otimizada”, faz coro Mark Allan Powell, autor da Enciclopédia de música cristã.
O líder e vocalista do Jars of Clay, Dan Haseltine, esteve no encontro de Nashville com Bono. “Ele trouxe um ‘algo a mais’ ao envolvimento da comunidade nas causas sociais”, confirma Dan. “A única forma de se engajar verdadeiramente nessa causa é estabelecer relações profundas com os que sofrem”, enfatiza o artista. Foi o que fez a cantora Sara Groves. Depois de ouvir uma série de relatos sobre as atrocidades do genocídio que dizimou boa parte da população de Ruanda nos anos 1990, ela foi pessoalmente conferir as condições de vida atuais daquele povo. “Foi transformador”, lembra. “Há uma diferença brutal entre caridade e justiça. Eu estava agindo movida pela caridade, aquela coisa de ‘vou ajudar a África’. Mas Deus verdadeiramente quebrantou meu coração. Ele me mostrou a realidade da injustiça”, afirma.
Depois do encontro em Nashville, Sara começou a pensar no que poderia fazer pelo país e seu povo. Em parceria com a ONG Food for the Hungry (“Comida para famintos”), a cantora organizou a turnê Art, Music and Justice, durante a qual recrutou aproximadamente 700 patrocinadores para apoiar projetos sociais em Ruanda, uma das mais pobres nações africanas. O resultado foram diversas ações educativas, médicas e profissionalizantes levadas a cabo pela agência humanitária na área rural de Gisanga. “As canções de Sara contam a bela história de Deus de uma forma incrível”, elogia Elisabeth Jones, diretora artística de Food for the Hungry e líder da equipe humanitária no país. “Suas músicas conduzem os ouvintes às histórias de Deus em sua promoção de justiça.”.
“Compaixão chama compaixão”
Esse crescente envolvimento entre os músicos cristãos acontece justamente no meio de uma crise no mercado fonográfico. As vendas do setor têm caído assustadoramente no Estados Unidos, panorama que se repetiu em sete dos últimos oito anos. Isso, em parte, deve-se ao aumento da ilegalidade na transmissão e apropriação de arquivos digitais de música. Muitos artistas têm procurado superar a crise estabelecendo uma controlada rede de acesso às suas músicas na internet, atuando de forma mais direta junto aos ouvintes. Isso beneficia, de alguma forma, os músicos envolvidos em causas humanitárias. É que o público acaba envolvido pelo discurso do seu cantor preferido. Música, missão e mensagem convergem de tal forma que impacta os ouvintes e os impulsiona à ação.
Depois da visita a Ruanda, a paixão de Sara Groves por justiça social tornou-se ainda maior quando conheceu Terrify no More, trabalho de assistência aos explorados sexuais no Cambodja realizado pela Missão Internacional pela Justiça (IJM, na sigla em inglês). “Quando o trabalho se torna impactante, as palavras são dispensáveis”, comenta. “Criatividade chama criatividade. Compaixão chama compaixão. Somos chamados a sermos pessoas misericordiosas e compassivas. É meu trabalho compor canções nessa jornada”, assume.
É também na África que os integrantes do Jars of Clay fazem de sua música instrumento para levar a água da vida aos sedentos – na linguagem figurada, referindo-se à verdade de Jesus, e também na prática. Em Torbi, vila isolada do deserto do Quênia, o povo turkana tem lutado ao longo dos séculos contra a escassez do precioso líquido, captado e armazenado com técnicas rudimentares. Nos últimos anos, contudo, as populações da região têm contado com um sistema mais eficiente, que afastou o fantasma da sede. Ali e em muitas outras localidades, a missão Blood: Water Mission revolucionou o modo de vida de quase uma centena de tribos nômades e seminômades do nordeste africano.
O trabalho da missão começou em 2001, durante uma visita do líder do Jars of Clay, Dan Haseltine, ao Malauí. O roqueiro ficou com um aperto na garganta quando viu moradores das vilas locais bebendo água suja de depósitos abandonados. Quando voltou aos Estados Unidos, lançou aos companheiros a ideia de criar a Blood: Water Mission. O nome vem daquilo que Haseltine define como as duas maiores necessidades na África: sangue e água purificados. Doenças transmitidas por água contaminada, como cólera e disenteria, afetam milhões de africanos e matam mais gente do que qualquer outra causa, incluindo a Aids, no continente.
Desde então, Haseltine já viajou cinco vezes à África, incluindo uma visita com toda a banda, para que conhecessem os lugares por eles assistidos. O objetivo da missão é providenciar água potável para que possam beber, além de um sistema de saneamento básico. Contudo, eles também trabalham em parceria com outras agências em ações preventivas à disseminação da Aids e na promoção de educação. No último ano, a fundação teve uma entrada de US$ 7 milhões e um gasto de US$ 5,8 milhões, movimento devidamente auditado. A organização também está envolvida com outros trabalhos, como o Lifewater International (“Água da vida internacional”), a fim de equipar a comunidade local para que possam construir seus próprios reservatórios de sistema de água e saneamento. “Essas parcerias fortalecem as comunidades locais”, afirma o diretor-executivo Jena Lee Nardella.
O recurso de captação que a Blood: Water Mission providenciou na região tem trazido água para todas as comunidades atendidas. “As consequências têm sido maravilhosas”, entusiasma-se o cantor. “É maravilhoso ouvir as histórias de pessoas que não mais estariam aqui, se não fosse a água que agora está à disposição delas”. O músico diz que sentiu como se Deus é que o conduzisse para aquele lugar. Haseltine reluta em descrever a entidade como uma organização cristã, embora sua equipe seja composta basicamente por crentes. “O Evangelho nos impulsiona ao trabalho, independente de carregarmos ou não a bandeira religiosa nas costas”, argumenta.
Legitimidade
Steven Curtis Chapman é muito conhecido pelos fãs em todo o mundo graças ao seu trabalho musical. Mas nos últimos anos seu ativismo social tem chamado tanto a atenção quanto seu talento. Não satisfeito em adotar três crianças chinesas – a primeira das quais, Shaohannah, foi trazida em 2000 –, ele e sua mulher, Mary Beth, quiseram fazer algo mais. O curioso é que o casal já tinha três filhos naturais adolescentes, e por causa das intensas atividades do músico, Beth ficava boa parte do tempo sozinha com eles. Por causa do seu estilo de vida e idade – ambos estavam com quase 40 anos –, pensar em adoção era algo praticamente impossível. No entanto, os filhos do casal, principalmente Emily, costumavam deixar bilhetes nos seus travesseiros, dizendo: “Por favor, ouçam o que Deus está falando a vocês”.
Steven e Beth adotaram então mais duas meninas chinesas, Stevey Joy, em 2003, e Maria Sue, em 2004. O irmão dela e o de Steven também adotaram, cada um, duas crianças chinesas. Muitos de seus amigos fizeram o mesmo. Então, os Chapman começaram a se aventurar no apoio a fundações de suporte à adoção, através da Bethany Christian Services, agência especializada no assunto com a qual trabalhavam, na tentativa de conseguir auxílio para pessoas que não conseguiam arcar com os altos custos do processo internacional – em alguns casos, de 45 mil dólares. Mas a agência não pôde dar esse tipo de assistência. Ambos resolveram, por isso, começar uma própria fundação. Dois anos depois eles fundaram a Shaonhannah Hope, que ajuda famílias cristãs interessadas em adotar crianças órfãs ou abandonadas.
Desde 2003, o ministério, que agora se chama Show Hope, ajudou mais de 2 mil famílias, investindo mais de US$ 6 milhões – boa parte deles oriundos de doações do casal fundador. “Auxiliamos apenas com o necessário para que os interessados em adotar possam dar continuidade ao processo”, explica Beth, que ocupa a presidência da instituição, tendo o marido como vice. As crianças vêm da China, Etiópia, Guatemala, Rússia e até dos próprios EUA. Entre os beneficiados pelo Show Hope estão Dan e Jori Susanka, de Jakopee, Minnesota. Através da captação de recursos de alguns outros lugares, somados ao auxílio da Show Hope, eles adotaram Emily Ruth Yeye, na China, em 2005. Jori, uma grande admiradora de Steven, não lhe poupa elogios pelo que faz: “É maravilhoso ver que o coração de Steven está no mesmo lugar que suas canções. Eles realmente investem nos lugares sobre os quais cantam. Não apenas falam sobre adoção, mas vivem-na.”
Em maio do ano passado, Maria Sue morreu tragicamente, atropelada pelo irmão na calçada em frente à casa da família. “Nós sentimos muita falta de Maria”, diz Beth. “Mas sabemos que Deus tem feito muitas coisas através do que nos aconteceu. Muitas pessoas têm sido transformadas e tocadas pela história dela”. Em julho passado, toda a família Chapman foi à China para a inauguração da Maria’s Big House, um abrigo para crianças. Durante a viagem, visitaram a província de Sichuan, afetada por um terremoto devastador que, em maio de 2008, matou mais de 70 mil pessoas e deixou 5 milhões desabrigados. “Por causa da morte de Maria, estávamos mais preparados para confortar os enlutados”, emociona-se o músico.
Fonte: Cristianismo Hoje
Músicos, inclusive os cristãos, nem sempre são admirados por suas atitudes fora dos palcos. Entre as críticas mais frequentes, fala-se do estrelismo, da vaidade e da insensibilidade social que caracteriza a vida de muitos desses artistas – mas um grupo cada vez maior de cantores e compositores evangélicos norte-americanos têm contrariado o estereótipo e feito de sua fama a alavanca para ajudar a mudar a vida de muita gente. Eles seguem o exemplo de George Beverly Shea, conhecido por ser responsável pelas canções nas cruzadas do evangelista Billy Graham, que costumava cantar para arrecadar fundos para a missão Samaritan's Purse (“Bolsa do Samaritano”). Mais recentemente, ícones da música como Michael W.Smith, Amy Grant e Petra, que nos anos 1980 seguiram a mesma linha de trabalho de Bono Vox (foto), do U2, associando-se à luta pela justiça social. Por causa das parcerias firmadas com esses artistas, mais de um milhão de crianças recebem hoje apoio de entidades como a Compassion Internacional e da Visão Mundial. Só em 2008, artistas do segmento musical cristão foram responsáveis por 48% do suporte financeiro desses grupos. É a fama a serviço do bem.
Entretanto, esses músicos estão indo além da mera parceria à distância: eles se envolvem diretamente com as atividades de ajuda humanitária, levando seus admiradores junto. Os artistas têm se posicionado na linha de frente da luta contra a pobreza, o tráfico de pessoas, o combate à epidemia de Aids e outras mazelas oriundas da miséria. As atividades sociais lideradas por músicos sofreram uma mudança radical em dezembro de 2002, quando Bono viajou Nashville, nos Estados Unidos, em sua turnê pela conscientização dos problemas ligados à Aids. Durante a temporada, ele organizou o Nashville Summit, onde encontrou-se com cantores e bandas para estimulá-los a fazer algo. O vocalista irlandês fez uma enfática defesa do envolvimento da categoria na luta contra o HIV e no suporte às pessoas que sofrem com o vírus, principalmente na África.
A partir daí, artistas como Seven Curtis Chapman, Twila Paris, Imperials, Sara Groves, Jars of Clay e Third Day entraram de cabeça. Alguns fizeram bem mais do que apenas divulgar as causas; viajaram em missões para visitar e ajudar as crianças apoiadas por seus trabalhos. Outros criaram até organizações de assistência que carregassem a mesma visão. Tanto engajamento é sinal de maturidade espiritual, afirma o presidente da Associação de Música Gospel, John Styll: “O Evangelho nos leva a sair em direção aos necessitados e ajudá-los”, pontifica. O envolvimento com a pobreza nos países em desenvolvimento estava começando a influenciar até mesmo as composições. Seguindo a liderança de Bono, outros astros compuseram e gravaram canções denunciando a injustiça e pedindo paz. Muitas letras tinham também fortes relações com passagens bíblicas e críticas ao contraste entre a opulência do estilo de vida materialista e a proposta do Evangelho.
Palcos para o Reino
Scott Moreau, professor de missões no Wheaton College, entende que há boas razões pelas quais os cristãos deveriam se alegrar com o trabalho destes artistas. “Eles têm usado seus palcos de forma apropriada para o Reino de Deus. Estão mergulhados nessa visão, e isso é algo que nenhum missiólogo pode negar”, destaca. Moreau afirma que eles têm sido sábios ao evitar o campo minado das missões de curto prazo, que podem criar uma dependência desnecessária, além de prejudicar as iniciativas de trabalho local. De fato, alcançar sustentabilidade é alvo importante nas causas humanitárias. Steven Garber, diretor do Washington Institute for Faith, Vocation and Culture, tem trabalhado em parceria com alguns artistas, inclusive Bono e a banda Jars of Clay. Para ele, a crença em Deus é o maior e mais forte motivo que conduz as pessoas a tais ações. “Existem consequências da fé, o que faz com que um cristão tenha razões suficientes para ir ao encontro do próximo”, justifica. “A ligação entre a música e as causas humanitárias tem sido aprimorada e otimizada”, faz coro Mark Allan Powell, autor da Enciclopédia de música cristã.
O líder e vocalista do Jars of Clay, Dan Haseltine, esteve no encontro de Nashville com Bono. “Ele trouxe um ‘algo a mais’ ao envolvimento da comunidade nas causas sociais”, confirma Dan. “A única forma de se engajar verdadeiramente nessa causa é estabelecer relações profundas com os que sofrem”, enfatiza o artista. Foi o que fez a cantora Sara Groves. Depois de ouvir uma série de relatos sobre as atrocidades do genocídio que dizimou boa parte da população de Ruanda nos anos 1990, ela foi pessoalmente conferir as condições de vida atuais daquele povo. “Foi transformador”, lembra. “Há uma diferença brutal entre caridade e justiça. Eu estava agindo movida pela caridade, aquela coisa de ‘vou ajudar a África’. Mas Deus verdadeiramente quebrantou meu coração. Ele me mostrou a realidade da injustiça”, afirma.
Depois do encontro em Nashville, Sara começou a pensar no que poderia fazer pelo país e seu povo. Em parceria com a ONG Food for the Hungry (“Comida para famintos”), a cantora organizou a turnê Art, Music and Justice, durante a qual recrutou aproximadamente 700 patrocinadores para apoiar projetos sociais em Ruanda, uma das mais pobres nações africanas. O resultado foram diversas ações educativas, médicas e profissionalizantes levadas a cabo pela agência humanitária na área rural de Gisanga. “As canções de Sara contam a bela história de Deus de uma forma incrível”, elogia Elisabeth Jones, diretora artística de Food for the Hungry e líder da equipe humanitária no país. “Suas músicas conduzem os ouvintes às histórias de Deus em sua promoção de justiça.”.
“Compaixão chama compaixão”
Esse crescente envolvimento entre os músicos cristãos acontece justamente no meio de uma crise no mercado fonográfico. As vendas do setor têm caído assustadoramente no Estados Unidos, panorama que se repetiu em sete dos últimos oito anos. Isso, em parte, deve-se ao aumento da ilegalidade na transmissão e apropriação de arquivos digitais de música. Muitos artistas têm procurado superar a crise estabelecendo uma controlada rede de acesso às suas músicas na internet, atuando de forma mais direta junto aos ouvintes. Isso beneficia, de alguma forma, os músicos envolvidos em causas humanitárias. É que o público acaba envolvido pelo discurso do seu cantor preferido. Música, missão e mensagem convergem de tal forma que impacta os ouvintes e os impulsiona à ação.
Depois da visita a Ruanda, a paixão de Sara Groves por justiça social tornou-se ainda maior quando conheceu Terrify no More, trabalho de assistência aos explorados sexuais no Cambodja realizado pela Missão Internacional pela Justiça (IJM, na sigla em inglês). “Quando o trabalho se torna impactante, as palavras são dispensáveis”, comenta. “Criatividade chama criatividade. Compaixão chama compaixão. Somos chamados a sermos pessoas misericordiosas e compassivas. É meu trabalho compor canções nessa jornada”, assume.
É também na África que os integrantes do Jars of Clay fazem de sua música instrumento para levar a água da vida aos sedentos – na linguagem figurada, referindo-se à verdade de Jesus, e também na prática. Em Torbi, vila isolada do deserto do Quênia, o povo turkana tem lutado ao longo dos séculos contra a escassez do precioso líquido, captado e armazenado com técnicas rudimentares. Nos últimos anos, contudo, as populações da região têm contado com um sistema mais eficiente, que afastou o fantasma da sede. Ali e em muitas outras localidades, a missão Blood: Water Mission revolucionou o modo de vida de quase uma centena de tribos nômades e seminômades do nordeste africano.
O trabalho da missão começou em 2001, durante uma visita do líder do Jars of Clay, Dan Haseltine, ao Malauí. O roqueiro ficou com um aperto na garganta quando viu moradores das vilas locais bebendo água suja de depósitos abandonados. Quando voltou aos Estados Unidos, lançou aos companheiros a ideia de criar a Blood: Water Mission. O nome vem daquilo que Haseltine define como as duas maiores necessidades na África: sangue e água purificados. Doenças transmitidas por água contaminada, como cólera e disenteria, afetam milhões de africanos e matam mais gente do que qualquer outra causa, incluindo a Aids, no continente.
Desde então, Haseltine já viajou cinco vezes à África, incluindo uma visita com toda a banda, para que conhecessem os lugares por eles assistidos. O objetivo da missão é providenciar água potável para que possam beber, além de um sistema de saneamento básico. Contudo, eles também trabalham em parceria com outras agências em ações preventivas à disseminação da Aids e na promoção de educação. No último ano, a fundação teve uma entrada de US$ 7 milhões e um gasto de US$ 5,8 milhões, movimento devidamente auditado. A organização também está envolvida com outros trabalhos, como o Lifewater International (“Água da vida internacional”), a fim de equipar a comunidade local para que possam construir seus próprios reservatórios de sistema de água e saneamento. “Essas parcerias fortalecem as comunidades locais”, afirma o diretor-executivo Jena Lee Nardella.
O recurso de captação que a Blood: Water Mission providenciou na região tem trazido água para todas as comunidades atendidas. “As consequências têm sido maravilhosas”, entusiasma-se o cantor. “É maravilhoso ouvir as histórias de pessoas que não mais estariam aqui, se não fosse a água que agora está à disposição delas”. O músico diz que sentiu como se Deus é que o conduzisse para aquele lugar. Haseltine reluta em descrever a entidade como uma organização cristã, embora sua equipe seja composta basicamente por crentes. “O Evangelho nos impulsiona ao trabalho, independente de carregarmos ou não a bandeira religiosa nas costas”, argumenta.
Legitimidade
Steven Curtis Chapman é muito conhecido pelos fãs em todo o mundo graças ao seu trabalho musical. Mas nos últimos anos seu ativismo social tem chamado tanto a atenção quanto seu talento. Não satisfeito em adotar três crianças chinesas – a primeira das quais, Shaohannah, foi trazida em 2000 –, ele e sua mulher, Mary Beth, quiseram fazer algo mais. O curioso é que o casal já tinha três filhos naturais adolescentes, e por causa das intensas atividades do músico, Beth ficava boa parte do tempo sozinha com eles. Por causa do seu estilo de vida e idade – ambos estavam com quase 40 anos –, pensar em adoção era algo praticamente impossível. No entanto, os filhos do casal, principalmente Emily, costumavam deixar bilhetes nos seus travesseiros, dizendo: “Por favor, ouçam o que Deus está falando a vocês”.
Steven e Beth adotaram então mais duas meninas chinesas, Stevey Joy, em 2003, e Maria Sue, em 2004. O irmão dela e o de Steven também adotaram, cada um, duas crianças chinesas. Muitos de seus amigos fizeram o mesmo. Então, os Chapman começaram a se aventurar no apoio a fundações de suporte à adoção, através da Bethany Christian Services, agência especializada no assunto com a qual trabalhavam, na tentativa de conseguir auxílio para pessoas que não conseguiam arcar com os altos custos do processo internacional – em alguns casos, de 45 mil dólares. Mas a agência não pôde dar esse tipo de assistência. Ambos resolveram, por isso, começar uma própria fundação. Dois anos depois eles fundaram a Shaonhannah Hope, que ajuda famílias cristãs interessadas em adotar crianças órfãs ou abandonadas.
Desde 2003, o ministério, que agora se chama Show Hope, ajudou mais de 2 mil famílias, investindo mais de US$ 6 milhões – boa parte deles oriundos de doações do casal fundador. “Auxiliamos apenas com o necessário para que os interessados em adotar possam dar continuidade ao processo”, explica Beth, que ocupa a presidência da instituição, tendo o marido como vice. As crianças vêm da China, Etiópia, Guatemala, Rússia e até dos próprios EUA. Entre os beneficiados pelo Show Hope estão Dan e Jori Susanka, de Jakopee, Minnesota. Através da captação de recursos de alguns outros lugares, somados ao auxílio da Show Hope, eles adotaram Emily Ruth Yeye, na China, em 2005. Jori, uma grande admiradora de Steven, não lhe poupa elogios pelo que faz: “É maravilhoso ver que o coração de Steven está no mesmo lugar que suas canções. Eles realmente investem nos lugares sobre os quais cantam. Não apenas falam sobre adoção, mas vivem-na.”
Em maio do ano passado, Maria Sue morreu tragicamente, atropelada pelo irmão na calçada em frente à casa da família. “Nós sentimos muita falta de Maria”, diz Beth. “Mas sabemos que Deus tem feito muitas coisas através do que nos aconteceu. Muitas pessoas têm sido transformadas e tocadas pela história dela”. Em julho passado, toda a família Chapman foi à China para a inauguração da Maria’s Big House, um abrigo para crianças. Durante a viagem, visitaram a província de Sichuan, afetada por um terremoto devastador que, em maio de 2008, matou mais de 70 mil pessoas e deixou 5 milhões desabrigados. “Por causa da morte de Maria, estávamos mais preparados para confortar os enlutados”, emociona-se o músico.
Fonte: Cristianismo Hoje
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